Delft, dos canais à porcelana
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Delft, dos canais à porcelana



O canal Voldesgracht, atrás da praça principal de Delft
       
          A foto acima parece ter sido tirada em Amsterdã, mas na realidade se trata de Delft, uma cidade adorável  no sul da Holanda, com 100.000 habitantes. Situada a 54 quilômetros da capital holandesa, Delft  é conhecida pelos canais que a cortam, pelas renomadas porcelanas e como local de nascimento de um dos maiores pintores holandeses, Vermeer. Delft ainda tem um papel importante na educação holandesa, pois sedia a maior universidade técnica pública dos Países Baixos, a Universidade de Tecnologia de Delft.

Vitrine de loja no centro com a Porcelana de Delft

           A porcelana de Delft é tão famosa internacionalmente que existe uma palavra própria em inglês para designá-la, “delftware”. A rigor, não poderia ser chamada de porcelana, pois não é feita de argila pura e sim de argila revestida com esmalte de estanho. Sua história remonta ao século XVII, quando artesãos oriundos de Antuérpia começaram a imitar a porcelana chinesa, na época muito cara (quatrocentos anos depois, os chineses estão dando o troco, pois hoje uma boa parte da porcelana vendida na cidade vem da China). Nos séculos seguintes a porcelana branca com pintura em azul feita em Delft caiu nas graças das famílias ricas europeias e sua fama se espalhou, atingindo seu apogeu no século XVIII.

O quadro "Ronda Noturna" reproduzido no hall da Royal Delft

           Um dos principais programas em Delft é visitar a fábrica Royal Delft ou Koninklijke Porceleyne Fles, seu nome completo em holandês. Fundada em 1653, foi  a única das 32 cerâmicas da cidade que existiam na época áurea a sobreviver até os dias de hoje. Quem a visita, além de visualizar alguns exemplares muito bonitos de porcelana em vasos, pratos e outros utensílios, pode acompanhar o trabalho dos artesãos, incluindo a pintura da porcelana à mão. Para mim, o melhor foi a versão do quadro  mais conhecido de Rembrandt, “Ronda Noturna”,  exposta numa das salas do hall, toda composta com azulejos da porcelana. Bacana, ainda mais depois de eu ter apreciado o original no Rijksmuseum no chuvosíssimo dia anterior em Amsterdã (dias assim são ideais para se visitar museus...). Além da indefectível lojinha na fábrica, a Porcelana de Delft está à venda também em algumas lojas dispersas pelo centro da cidade.

As casas com arquitetura típica holandesa sobre os canais

          Muitos vão a Delft interessados unicamente na sua cerâmica. Não passar um tempo caminhando pelas ruas é um autêntico desperdício da visita, já que algumas pessoas chegam a afirmar que Delft é a cidade mais bonita da Holanda. Além da presença das casas em tijolinhos aparentes da arquitetura típica holandesa, os canais conferem um charme especial ao centro da cidade. Um pouco mais estreitos que os congêneres de Amsterdã, dão um tom mais intimista a Delft, e é impossível se andar mais de duas quadras no centro sem se topar com eles. A cidade foi construída à sua volta desde o século XIII, e o próprio nome Delft deriva da ação de cavar (“delven” em holandês). Assim como na capital, um modo alternativo de se passear pela cidade é embarcar em um tour de barco pelos canais.

A bela Markt em Delft

        Com certeza sua praça central, Markt, impressiona. A praça longa é ladeada pelos dois flancos por edifícios góticos e renascentistas e possui em seus extremos dois prédios que são símbolo da cidade: a antiga Prefeitura, em estilo renascentista, construída em 1618 após o incêndio da anterior – a bela torre por trás do prédio sobreviveu ao fogo; e a Igreja Nova (Nieuwe Kerk), onde estão enterrados na Cripta Real os membros da família real de Orange, incluindo Maurício de Nassau e a rainha Juliana, avó do atual rei Willem-Alexander, falecida em 2004. Às quintas e sábados uma feira ocupa o espaço da praça.

A imponente Nieuwe Kerk no outro extremo da Markt

         A uma quadra de distância o Vermeer Centrum homenageia o filho ilustre da cidade, que viveu no século XVII e é um dos maiores representantes da Era de Ouro da pintura holandesa. Johannes Vermeer era um mestre na manipulação dos efeitos de  luz em seus quadros. O museu conta com reproduções de sua arte e conta ainda com uma réplica do seu estúdio. Está localizado no prédio da antiga Guilda de Pintores de Delft, que Vermeer presidiu durante muitos anos.

A Prefeitura antiga na Markt. À direita, a torre da Oude Kerk

        Vermeer nasceu, viveu e morreu em Delft e sua tumba está localizada na Igreja Velha (Oude Kerk). A igreja é o edifício mais antigo da cidade, construída em 1246 e evoca a Torre de Pisa, pois possui sua torre gótica inclinada em dois metros. A torre começou a adernar desde a sua construção, mas o engraçado é que durante uma reconstrução posterior resolveram acertar o prumo das torres menores que saem do corpo principal da torre. Hoje a igreja parece ter uma escoliose - o corpo da torre está inclinado, mas as torres menores no topo, não. 

Esquina do centro de Delft, com a torre da Nieuwe Kerk ao fundo

         Para se chegar a Delft basta tomar o trem na Centraal Station de Amsterdã, que parte a cada meia hora. A viagem leva uma hora passando pelo Aeroporto de Schiphol, fazendo de Delft um bate-volta atraente. A estação fica situada a  700 metros da Markt.

Mais um recanto pitoresco de Delft

        No próximo post, uma Holanda diferente, em miniatura: Madurodam.

  Acesse aqui outros posts sobre a Holanda:



 Publicado por  Marcelo Schor  em 29.05.2014 



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