Depois de dormir no aeroporto de Madrid e no aeroporto de Buenos Aires, regresso à cidade do Tango.
Como só consegui arranjar bilhete de autocarro para Mendoza às 17.45h acabei por ficar com um dia inteiro para visitar a cidade. Deixei ficar as minhas mochilas guardadas na estação e lancei-me nas "calles" de Buenos Aires.
Como é domingo resolvi visitar o bairro de San Telmo. Este bairro, de estilo colonial, é um dos mais característicos da cidade. Pela rua da Defesa até à Praça Dorrego, o coração do bairro, estende-se uma feira semanal de artesanato e antiguidades.
Vou espreitando e apreciando a cultura local. É impressionante como Buenos Aires atrai povos dos países vizinhos. Peruanos, bolívianos, brasileiros, são muitos os que emigraram para cá em busca de um futuro melhor. As ruas estão cheias desses testemunhos que tentam, na feira, vender um pouco da "sua terra natal".
Na Praça Dorrego, os imigrantes são menos e vemos mais anciãos tentando vender as velharias que possuem. Desde notas e moedas antigas de diferentes países, passando por telefones, grafonolas, câmaras fotográficas, brinquedos, há de tudo um pouco por aqui.
No entanto, o que atrai tantos turistas (para além das compras) são os bailarinos de rua, que em troca de uma "colaboracion" dançam o tango. Apesar de já não serem novos, abraçam a dança de forma apaixonada e levam os turistas ao êxtase. De cada vez que acabam uma dança ouvem-se palmas e vivas da audiência. O senhor convida várias senhoras para aprenderem o tango mas nenhuma parece disposta a tentar. Que pena!
Sigo para o mercado local. Quero comprar alguns legumes para o meu almoço.
Aproveito depois para visitar a área de Puerto Madeiro que na minha primeira visita não tive tempo de explorar. Hoje, este antigo porto de mercadorias, é uma das áreas mais modernas da cidade e transformou-se, inclusivé, no seu centro de negócios. Abundam hotéis e restaurantes de luxo. Quando percorro as margens do canal sinto-me fora da Argentina. Poderia estar em qualquer cidade europeia.
Outrora, o Puerto Madero foi extremamente importante para o comércio argentino. Situada nas margens do rio Prata, Buenos Aires rapidamente se tornou um importante ponto comercial. No entanto, a profundidade do rio era muito baixa o que dificultava as transacções comerciais. Os barcos eram obrigados a fazer transbordo das mercadorias e dos passageiros para botes mais pequenos de forma a poderem entrar na cidade. Tal situação estava a ser responsável por um declíneo da cidade em detrimento de outras como Montevideo ou Colónia de Sacramiento, do lado uruguaio. Só no século XIX o novo porto foi construído e a cidade voltou ao seu auge. No entanto, este foi de pouca dura. Em pouco mais de uma década estava incapaz de receber os grandes navios que agora chegavam. O governo de Buenos Aires resolveu criar um porto novo, designado "Puerto Nuevo". Puerto Madero ficou voltado ao abandono e degradou-se. Só recentemente, obras de requalificação urbana permitiram transformar este bairro num dos mais luxuosos da cidade. Para recordar os seus templos gloriosos exibe a Fragata de Sarmiento, hoje um museu, tendo já dado a volta ao mundo 37 vezes.
Os enormes arranha-céus e a "Ponte de la Mujer" fazem-nos viajar para a Europa.
O calor aperta. Estão 38ºC. Como os meus legumes nos jardins do porto, bem de frente para o canal. De seguida, prossigo para o centro. Regresso a San Telmo. Quero fazer umas compras. Não resisto. Infelizmente (ou felizmente) só consegui comprar um cinto de viagem porque uma tempestade de vento e chuva abateu-se sobre a cidade. Abrigada no mercado ali fiquei aguardando que a chuva desse alguma trégua. Não aconteceu. A hora do meu autocarro estava a chegar e não podia continuar mais ali. Saí e fui caminhando debaixo de chuva cerca de 40 minutos até alcançar a estação. Pelo menos Buenos aires pôde disfrutar de um desfile de miss t-shirt molhada portuguesa!
Quando cheguei à estação estava encharcada. Levantei as mochilas e aguardei um bocado pelo autocarro. Uma vez lá dentro, troquei de roupa e aprontei-me para mais uma viagem de 15 horas. Depois do jantar caí como uma pedra e dormi até de manhã. Há três dias que não durmo numa cama. Às 9h chego a Mendoza e termino a minha jornada de três dias desde o Porto, em Portugal, até Mendoza, na Argentina.