Cruzeiro no Nilo
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Cruzeiro no Nilo


Quando decidimos fazer o cruzeiro pelo Nilo sabíamos o que nos esperava. Por um lado a leveza das viagens, tudo é mais fácil, os tours estão organizados e não precisamos de nos preocupar com nada. Para além disso, teríamos boa comida (que já andávamos a precisar), camas lavadas (decoradas artisticamente com bonecos feitos com toalhas) e ar condicionado. Todos estes luxos teriam que vir com alguns inconvenientes. Para nós foi a companhia de americanos nos tours (que pela nossa experiência são sempre sinónimo de tours superficiais), falta de contacto com a população local, ausência do sentimento de descoberta e alguma inércia. Claro que vários banhos na piscina do barco ajudaram a minimizar as desvantagens!


Os cruzeiros do Nilo sempre foram um dos ex-libris das viagens pelo Egipto e já desde "A Morte no Nilo" de Agatha Cristie que descer este rio faz parte do imaginário de muitos. A nossa ideia era descer o rio Nilo de feluca (barco tradicional do Nilo) mas, no Verão a ausência de vento e o calor tornam esta viagem praticamente impossível. Sendo assim, decidimos fazer o tão afamado Cruzeiro do Nilo. 


Foram quatro dias e três noites em que deixamos a condição de backpacker e vestimos o fato de TURISTA. A maioria dos turistas do nosso barco são japoneses (bem dispostos) e americanos. Vêem-se, no entanto, alguns russos, alemães e dois portugueses (nos)! No cruzeiro pudemos desfrutar de uma logística montada de tal forma que encaixa perfeitamente na mentalidade egípcia e talvez por isso seja tão difícil viajar neste país fora deste modelo. No cruzeiro está tudo tratado desde os transportes, ao adquirir os bilhetes para visitar as atracções, aos guias, etc. 


O backpacker no Egipto enfrenta bastantes dificuldades de locomoção porque nos tomam como turistas que "arriscaram" sair do barco (loucos!!!) e se aventuram pelas ruas. Os diversos "aliciadores" que vivem de infernizar a vida aos turistas, sugerindo todo o tipo de actividades ou vendas, tomam-nos como tal e portanto pedem-nos preços exorbitantes pelas coisas. Uma água, por exemplo, que no Deserto de Siwa custa 1,5 LE é vendida a 12 ou 15 LE em Luxor! Os turistas pagam-na e não reclamam. Agem com naturalidade. Eu não consigo ser "levada" desta maneira. Regateio a água até à exaustão.


Começo a perceber como funciona o acto destes "aliciadores". Eles pedem estes preços exorbitantes porque há quem pague. Eles pedem sempre "baksheeh" (gorjeta) porque foram habituados assim. Mesmo quando não pedem (o que é muito raro) existe sempre um turista disposto a gratificar o seu trabalho. É uma realidade completamente diferente daquilo que estamos habituados.


Apesar do ambiente que encontramos ser completamente distinto daquilo que gostamos e procuramos numa viagem, a calma soube muito bem, assim como os dias de descanso que passamos no cruzeiro. No entanto, quando deixamos o barco para trás sabíamos que sentiríamos falta do AC e da comida mas ganharíamos em veracidade, experiência e conhecimento. Afinal, o Egipto está muito longe dos cruzeiros do Nilo.




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