A norte do rio Douro localiza-se o conjunto montanhoso Alvão-Marão que, juntamente com as serras da Peneda, Gerês, Larouco, Barroso e Cabreira funcionam como uma barreira de condensação que separa o Minho e o Douro Litoral de Trás-os-Montes. Na Serra do Alvão distinguem-se duas áreas com morfologia e paisagem distintas consoante a sua litologia. Uma área granítica de planalto, onde se localizam as povoações de Alvadia e Lamas de Ôlo e uma outra, fortemente recortada pela acção da tectónica, predominantemente xistosa, onde se desenvolvem vertentes declivosas em direcção aos vales encaixados dos principais cursos de água: o rio Ôlo, o rio Cabril e o rio Poio. O contacto destas duas unidades litológicas é feito por uma barreira quartzítica que marca a transição da paisagem, e na qual se localiza o mais emblemático acidente geomorfológico regional: as quedas de água das “Fisgas de Ermelo”.
O rio Ôlo constitui um dos cursos de água mais importantes do Alvão, senão mesmo o mais relevante. Com um percurso de 42 km, nasce na Cabeça de Tamões a 1 263 m de altitude e corre pelos granitos até alcançar a povoação de Lamas de Ôlo. Neste percurso, o rio Ôlo adapta-se claramente à rede de fracturação. Nas imediações da aldeia de Lamas de Ôlo, o curso de água inflecte para oeste e aproveita o contacto do granito com as formações metassedimentares para traçar o seu trajecto. A jusante da aldeia, o rio volta a entrar nos granitos e o curso de água atravessa um vale encaixado. Quando o rio Ôlo chega aos xistos, no vale de Cerdeira, vai serpenteando e adapta-se às fragilidades da estrutura, correndo num vale encaixado até às proximidades da aldeia de Varzigueto. Aqui o curso de água encontra-se a uma cota que ronda os 700 m de altitude. A jusante, o rio atravessa uma bancada quartzítica, responsável pela crista mais imponente do Parque Natural do Alvão e que dá origem à imagem de marca deste parque - as “Fisgas de Ermelo”.
O curso de água aproveita as falhas e fracturas que existem no local para efectuar o seu trajecto num percurso de 2 500 m, deparando-se com um desnível de 400 m de altura. Trata-se de um caso de adaptação da rede hidrográfica à tectónica e particularmente à fracturação. Este local, designado por “Fisgas de Ermelo”, deve o seu nome à proximidade da aldeia de Ermelo, bem como ao facto do rio atravessar os quartzitos, criando várias quedas de água e assim, “esfisgar” nos mesmos. As quedas de água do rio Ôlo, nas “Fisgas de Ermelo”, já foram objecto de um estudo para aproveitamento hidroeléctrico, no entanto, esta ambição, felizmente, nunca passou do projecto graças à tenacidade do Parque Natural do Alvão.
O rio Ôlo quando atravessa as bancadas de quartzito fá-lo transversalmente às formações, criando uma série de quedas de água consecutivas que se vão quebrando em cavidades onde a água se acumula e que as populações locais designam por “piócas”. Durante o percurso em que o rio Ôlo atravessa os quartzitos, o curso de água cria uma série de “marmitas de gigante”, que chegam a atingir entre dois metros e dois metros e meio de profundidade e cerca de 70 a 80 cm de largura. Na área das Fisgas, as vertentes apresentam-se bastante escarpadas e com uma coloração amarelada, proveniente do desenvolvimento dos líquenes Dimelaena oreina, que se fixam nestas paredes rochosas e marcam a paisagem. A “fraga amarela”, do lado norte, é um bom exemplo.
Na base deste trajecto do rio pelos quartzitos, o curso de água volta a entrar nos xistos, perdendo-se de vista e criando aquilo a que os populares chamam “cauda de arganaz”. Aqui o rio atravessa um vale extremamente encaixado com vertentes rochosas com declive quase vertical, ideais para a prática de canyonning, já que este troço é praticamente impossível de ser percorrido a pé sem o auxílio de cordas. Aqui, o rio passa dos 480 m para os 390 m de altitude. A jusante deste vale, o rio inflecte de direcção e acompanha uma falha que se estende de Cavernelhe a Ermelo. Neste percurso voltam a aparecer três grandes “piócas” que resultam da acção erosiva do rio nos quartzitos. Estas apresentam cerca de 10-12 m de largura e 12-15 m de comprimento, com uma profundidade de cerca de 4-5 m em alguns locais.
A jusante da aldeia de Ermelo, na Volta da Lousa, o rio corre sobre os xistos, mas antes de confluir com o rio Tâmega, o curso de água volta a atravessar uma área granítica, correndo num vale de falha encaixado.
O vale do Rio Ôlo, nas “Fisgas de Ermelo”, pela sua morfologia, apresenta características privilegiadas para a prática de canyonning, assim como o rio Poio, nas imediações de Alvadia, e as quedas de água do rio Cabrão. Na presença de vales de fractura e escarpas com fortes declives, cuja base é ocupada pelo rio, esta pode ser a única forma de exploração destes locais.
Depois da distinção deste local, pelo
New 7 Wonders Portugal, como integrando a lista de candidatos às Sete Maravilhas Naturais de Portugal, as Fisgas de Ermelo têm recebido cada vez mais visitantes. A vista do miradouro das fisgas é soberba e em breve será inaugurado um percurso pedestre circular com cerca de 12 km, a partir da aldeia de Ermelo, que permitirá uma proximidade ainda maior a este local, bem como uma experiência geográfica do Alvão. Assim, de carro, a pé ou em
canyonning, as Fisgas aguardam pela visita de todos aqueles que ainda não descobriram este cantinho encantador no norte de Portugal.
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