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Rua colonial de La Laguna
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Da estadia de quatro dias em Tenerife, dois foram dedicados à região que ainda contém traços marcantes da arquitetura espanhola de séculos atrás, que para mim foi a parte mais interessante da visita à ilha canária. Tenerife possui duas cidades históricas, verdadeiras pérolas: a primeira,
La Laguna, foi escolhida como Patrimônio da Humanidade pela Unesco por suas ruas com casario colonial pitoresco e bem conservado. A somente dez quilômetros de Santa Cruz de Tenerife, foi a primeira capital da ilha, mas perdeu o posto no século XIX devido ao desenvolvimento do comércio portuário da atual capital. Para compensar, La Laguna se tornou o centro de ensino superior em Tenerife e possui uma vida noturna movimentada, com diversos bares ao redor da Universidade, fundada em 1792.
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A Calle San Agustín e suas belas mansões em La Laguna
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A cidade elegante do século XV é um dos melhores exemplos da arquitetura canária. Suas belas mansões com fachadas em tom claro apresentam balcões, portas de madeira e janelas com moldura em pedra, geralmente havendo um pátio cuja função era refrescar o ambiente. A rua com maior quantidade destas casas é a San Agustín. O modelo urbanístico de La Laguna serviu de base para as cidades posteriormente fundadas nas colônias espanholas latino-americanas. Para os brasileiros, há um interesse adicional: o Padre José de Anchieta nasceu em uma casa que ainda está de pé. Na cidade se localiza ainda a igreja mais antiga da ilha construída em 1502, Nossa Senhora da Conceição. Sua torre é um marco visível de vários pontos da cidade. Vale a pena entrar para apreciar seu teto de madeira no estilo mudéjar (estilo mouro com motivos islâmicos). Junto à igreja existe um monumento ao Papa João Paulo II.
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A Torre da Igreja de Nossa Senhora da Conceição em La Laguna |
O meio mais legal de se chegar a La Laguna desde Santa Cruz é pelo
tranvía, um bonde moderno cujo trajeto se inicia na rodoviária de Santa Cruz, atravessa todo o seu centro e galga intermináveis ladeiras até alcançar o ponto final a uma quadra do centro histórico de La Laguna. O Bono, o cartão de transporte tinerfenho, também cobre este passeio, que recomendo.
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O jardim e a cidade histórica de La Orotava |
A outra representante da arquitetura histórica de Tenerife, La Orotava, é uma cidade menor encravada nas montanhas da costa norte. A riqueza da cidade proveio do vale fértil que a rodeia, com a produção de banana, açúcar e vinho, e a área sempre foi uma das mais prósperas de Tenerife. O casario colonial também é abundante, distribuído pelas ladeiras da cidade - prepare-se para um sobe e desce constante para poder apreciar o conjunto arquitetônico. Um esforço adicional bem recompensado é subir as escadarias do Jardim do Marquesado, que acompanha a encosta junto a uma das duas praças principais de La Orotava. Os níveis superiores do jardim oferecem uma vista excepcional da cidade até o Atlântico, muitos metros abaixo.
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Ladeira de La Orotava com o casario típico tinerfenho |
Situada abaixo de La Orotava a quarenta minutos de ônibus da capital está Puerto de la Cruz. Existindo desde o início do século XVI, originalmente era o porto por onde escoava a produção de La Orotava (a prefeitura ocupa o prédio de uma antiga fábrica empacotadora de banana). Centro turístico há mais de cem anos, é hoje o resort mais famoso da costa norte. O centro da cidade ainda retém o núcleo histórico com a praça central em estilo interiorano, Plaza del Charco, e uma fortificação junto ao mar. De lá sai uma promenade que acompanha a costa até as piscinas e jardins desenhados pelo arquiteto-mor das Canárias, César Manrique. Junto às piscinas despontam recifes que podem ou não estar submersos em função da alta diferença das marés na área. Porém as praias da cidade desapontam: são de uma feia areia negra vulcânica, não tendo a areia importada do Saara como suas colegas do sul da ilha.
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As piscinas e os recifes de Puerto de la Cruz |
Imperdível para quem visita a área é o
Loro Parque, uma mistura de zoológico e parque temático nas cercanias da cidade, com entrada a € 33. Além de uma população de 3.000 aves, incluindo um aquário de pinguins, podemos assistir a shows excelentes de golfinhos, orcas, leões marinhos e obviamente dos papagaios que dão nome ao parque temático. De quebra, dá para chegar até lá por um simpático trenzinho turístico que sai da promenade de Puerto de la Cruz e atravessa toda a bonita cidade até adentrar o parque, fazendo na prática um city tour. E o melhor, o trajeto de ida e volta está incluído no ingresso.
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A entrada do Parque e o dragoeiro |
Junto à entrada, pode-se apreciar um belo exemplar de dragoeiro, a árvore que é símbolo das Canárias e que tem alguns exemplares espalhados também pelos Açores e Madeira (se você tem interesse em conhecer a origem mitológica do dragoeiro, acesse aqui o post sobre Horta, a cidade açoriana com os espécimes mais frondosos da árvore).
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Show de golfinhos no Loro Parque |
Outro ponto turístico de interesse em Tenerife é o próprio monte Teide, vulcão de 3.810 m de altitude e alto poder destrutivo (o nome significa inferno na língua nativa guanche) situado num parque nacional semidesértico que também é Patrimônio da Humanidade pela Unesco. A última erupção ocorreu há dois séculos, e Cristóvão Colombo avistou uma ao passar por Tenerife com sua frota rumo à Descoberta da América em 1492. Seu topo pode ser alcançado por um teleférico, com vistas abrangentes de toda Tenerife e das ilhas vizinhas. O acesso entretanto é um pouco complicado para quem depende do transporte público: existe somente uma linha de ônibus partindo de Puerto de La Cruz, com ida pela manhã e volta na tarde. Achei que era tempo demais no local e pulei esta atração, com uma certa dor no coração. Semanalmente há tours para o local partindo dos resorts.
Um último cuidado é a escolha do aeroporto: o Sul (Aeroporto Reina Sofia), maior e mais moderno, atende aos resorts do sudoeste, estando a uma hora de viagem de Santa Cruz. Se você for se hospedar na capital ou em Puerto de La Cruz, prefira o Aeroporto Norte a apenas doze quilômetros de Santa Cruz - foi o que usei para chegar e sair de Tenerife. Ambos recebem voos da Espanha e do restante da Europa, mas a maioria dos aviões pousa no Reina Sofia.
Outros posts sobre as Canárias:
- Tenerife, a ilha do sol eterno
- Lanzarote, entre crateras e camelos
Postado por Marcelo Schor em 11.04.2013
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