Além de ser uma cidade muito bonita, Boston tem uma importância grande na História norte-americana, especialmente no período que antecedeu a independência dos Estados Unidos. O roteiro a pé pelo centro de Boston, que congrega 16 marcos relativos a esses acontecimentos do século XVIII, é conhecido como Freedom Trail (Trilha da Liberdade), e é um passeio imperdível para quem visita a cidade. Além dos marcos históricos, a trilha ainda passa por outros monumentos importantes de Boston.
O roteiro pode ser feito por conta própria ou em caminhadas com guias especializados. Como eu já havia estudado estes acontecimentos quando cursei História Americana há muitos anos, optei por percorrê-los por conta própria, podendo assim imprimir meu próprio ritmo. É bem fácil, a Trilha conta com uma linha vermelha sinalizada na calçada demarcando o caminho a seguir. O percurso completo tem quatro quilômetros de extensão, passa por grande parte do centro histórico e acaba do outro lado da baía, em Charlestown, no navio de guerra USS Constitution. Fiz o trecho mais representativo do trajeto, até North End.
Comecei a caminhada pela
Massachusetts State House, a sede do governo do estado desde 1798, quando foi construída. Situada no alto da colina de Beacon Hill, um dos bairros mais icônicos e belos de Boston (vale a pena caminhar pelas suas ruas), a State House abriga tanto o escritório do governador quanto a Assembleia estadual. Imponente, o prédio de tijolos vermelhos chama a atenção especialmente pelo seu domo folheado a ouro,
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Uma das paisagens bucólicas do Public Garden |
A trilha segue margeando o
Boston Common, o parque público mais famoso de Boston e o mais antigo do país, tendo servido de acampamento para as tropas britânicas na época da Independência e como pasto para o gado no início do século XIX. A extensa área verde é na realidade composta por duas partes, o Common propriamente dito, com um área gramada e vários monumentos, e os
Public Gardens, um lindo parque com lago com pedalinhos em formato de cisne (que já estavam desativados - só funcionam na alta temporada), pontes e árvores centenárias ainda verdes apesar de já estarmos no outono (mais sobre essa minha decepção no post sobre New Hampshire).
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A estátua de George Washington nos Public Gardens de Boston |
Aliás, já que estamos falando da Trilha da Liberdade, a estátua mais chamativa dos Public Gardens homenageia ninguém menos que George Washington, o general que declarou a independência dos Estados Unidos em 1776. A estátua em bronze erigida em 1869 foi a primeira a mostrar Washington na garupa de um cavalo.
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O cemitério de Old Granary |
Prosseguindo pela Trilha ao deixar o Boston Common, logo cheguei ao
Old Granary Burying Ground, um cemitério minúsculo que existe há 455 anos, com túmulos muito antigos e cercado por edifícios, bem no meio do centro histórico. Alguns dos líderes revolucionários norte-americanos estão enterrados no cemitério, incluindo Samuel Adams, signatário da Declaração de Independência, e Paul Revere, cujo papel sui-generis no processo explico mais abaixo. O local conta ainda com o jazigo da família Franklin, mas o túmulo do membro mais famoso da família, Benjamin, se encontra na Filadélfia, onde morreu.
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A Old South Meeting House |
Seguindo pelas ruas, passei por dois prédios históricos com os característicos tijolinhos vermelhos e torre branca: a
Old South Meeting House, uma igreja onde foram tramadas as ações que culminaram no Boston Tea Party, quando cargas de chá foram jogadas em 1773 por bostonianos disfarçados de índios e insatisfeitos com a taxação do chá importado , e a
Old State House, a sede do governo colonial britânico na cidade e prédio público mais antigo de Boston, de onde foi lida para o povo a Declaração de Independência em 1776.
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A Old State House |
Depois de passar por uma área mais moderna à beira do Distrito Financeiro, cheguei à praça do
Faneuil Hall, apelidado de "berço da liberdade". Mais uma construção no estilo característico da Trilha, lá também se reuniam e discursavam as figuras proeminentes da época no seu segundo andar, hoje um museu. A visita é gratuita e os guias do lugar são rangers, vestindo aquele uniforme característico de guarda florestal dos desenhos do Zé Colmeia. Nada de estranho, já que o centro histórico de Boston forma um Parque Nacional Histórico norte-americano. No térreo do Faneuil Hall funciona o escritório de turismo onde se pode pegar brochuras sobre a Trilha da Liberdade e de onde saem as caminhadas guiadas, que duram uma hora e passam pelos monumentos principais da Trilha (mais detalhes e horários no site http://www.nps.gov/bost/planyourvisit/guidedtours.html).
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O Quincy Market |
Atrás do Faneuil Hall fica o
Quincy Market, o antigo centro de distribuição de alimentos. A fachada clássica de 1824 hoje esconde um mercado cheio de barracas vendendo todo tipo de alimentação, desde hambúrgueres até o clam chowder, a sopa de mariscos com batata e leite que é um dos pratos típicos da Nova Inglaterra. Ótimo para um lanche no meio da percurso.
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A parte de baixo das torres do Memorial do Holocausto |
Prosseguindo a caminhada, passei por um monumento bem mais recente, cuja inserção junto à Trilha da Liberdade nos faz refletir bastante: o
Memorial do Holocausto. Inaugurado há vinte anos, o memorial é composto de seis torres de vidro, simbolizando as mortes em campos de concentração nazistas na Segunda Guerra Mundial. Cada torre tem impresso um milhão de números no vidro, totalizando os seis milhões de judeus mortos durante a guerra, além de depoimentos de sobreviventes. Os visitantes podem caminhar por uma ala coberta que interliga as torres.
A Trilha dá uma guinada nesse ponto para nordeste, adentrando o bairro italiano, o
North End, um dos mais antigos e pitorescos de Boston, pela sua rua principal, a
Hanover Street. As atrações históricas dessa área giram em torno da figura de
Paul Revere. Revere foi um artesão e prateiro bastante influente na sua época (foi ele que primeiro revestiu o domo da Massachusets State House), e desempenhou um papel importante na luta pela Independência. Em abril de 1775, tropas britânicas se aproximaram pelo mar para invadir a cidade vizinha de Lexington e prender os líderes revolucionários. Revere atravessou o rio e na calada da noite galopou até Lexington para avisá-los. Desta forma milícias puderam se organizar e enfrentar os ingleses, iniciando a chamada Revolução Americana.
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A casa onde morou Paul Revere |
O primeiro ponto é a
Paul Revere House, casa onde ele viveu por trinta anos com sua esposa e cinco filhos. O prédio residencial mais antigo de Boston, construído em 1680, abriga um museu com mobília e prataria da época (confeccionada pelo próprio), com o guia contando toda a saga de Revere.
A Trilha passa então pela Paul Revere Mall, uma aleia bem arborizada com uma estátua no meio do caminho. Claro, a estátua mostra Revere no seu cavalo. O Mall termina na
Old North Church, uma bela igreja famosa por ter sido ali que, do alto do seu campanário, um vigia balançou dois lampiões dando o sinal a Revere para iniciar seu galope que entrou para a História.
Prossegui um pouco mais pela Trilha até alcançar o
Copp's Hill Ground, um cemitério que conforme li teria uma vista legal do porto. Achei pura perda de tempo, a vista era decepcionante. Dei meia volta e fui saborear um nhoque delicioso numa cantina do North End, a Benevento's. Como todo bairro italiano que se preze, o North End está recheado de restaurantes oferecendo massas e pizzas ao longo da Hanover Street e suas transversais.
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O percurso que fiz na Trilha da Liberdade pelas ruas do centro de Boston |
No próximo post, vou abordar os demais pontos turísticos de Boston que visitei, incluindo a Universidade de Harvard, na vizinha Cambridge.
Postado por Marcelo Schor em 15.06.2015