Quando disse aos meus amigos que na Páscoa ia para Nova Iorque eles exclamaram logo: “Nova Iorque? Mas lá não tem glaciares!”. Não, a verdade é que Nova Iorque não tem glaciares, mas… já teve!
Sim, por incrível que possa parecer, eu também fui a Nova Iorque para ver “testemunhos” das glaciações e dos glaciares que outrora deslizavam pela ilha de Manhattan. Parece impossível, não parece? Mas, a verdade é que não é.
O Central Park, em Nova Iorque, oferece um dos locais mais acessíveis do mundo para observar paisagens glaciadas. A área onde hoje se localiza o maior e mais emblemático parque da cidade foi moldado por gelo glaciar que erodiu as rochas metamórficas criando exemplos clássicos de formas glaciares como rochas moutonnées (rochas aborregadas), rochas estriadas e polidas, sulcos glaciares, blocos erráticos, etc.
Durante as glaciações do Quaternário, Manhattan estava na direcção da margem sudeste de um grande manto de gelo que vinha desde o Árctico até esta área dos EUA, e foi glaciada em diversas ocasiões ao longo dos últimos milhões de anos. O estado de Nova Iorque marcava o limite meridional do manto de gelo que ocupava grande parte da América do Norte. Este manto de gelo – Laurentide - avançou e recuou durante mais de 90 mil anos.
Os geólogos acreditam que o manto de gelo iniciou a sua viagem em direcção ao sul de Labrador há 90.000 anos atrás, e atingiu o seu máximo há cerca de 70.000 anos atrás, formando a moreia de Ronkonkoma, em Long Island. Durante um período de calor retrocedeu e, posteriormente, avançou mais uma vez há 45.000 anos, chegando a Nova Iorque há cerca de 20.500 atrás, formando o Harbor Hill Moraine. Começou o seu retrocesso há cerca de 18.000 anos. Os cientistas estimam que em Nova Iorque a camada de gelo foi de 1.000 metros de espessura (nas Montanhas de Adirondacks terá tido mais de 5.000 metros de espessura e, talvez, 10.000 metros de espessura em Labrador).
Este manto de gelo teve um impacto não só na cidade de Nova Iorque mas também mais ao norte, já que foi responsável pelo aprofundar do leito do vale do Rio Hudson, transformando-o no fiorde glaciar mais meridional do Hemisfério Norte.
No Último Máximo Glaciar (LGM), há 22 mil anos atrás, os gelos terão ocupado uma área que ia desde o sudeste de Alberta, no Canadá, passando pelos Grandes Lagos (perto de Chicago) e até a costa leste. Na última Idade do Gelo, na glaciação Wisconsin, na ilha de Manhattan, o gelo chegava perto de Perth Amboy e Long Island. Só há 20 e 17 mil anos atrás, o gelo começou a recuar, expondo as superfícies rochosas glaciadas de Nova Iorque, algumas das quais hoje ainda preservadas no Central Park e ao longo da ilha de Long Island.
Os rios Connecticut e Hudson (em Nova Iorque) constituíam típicas paisagens proglaciares, com planícies de outwash e blocos de moreias que mais tarde dariam origem a Long Island. Os avanços e recuos sucessivos dos glaciares em Long Island deixaram uma série de moreias de retrocesso, nomeadamente em Sands Point, Oyster Bay, Northport e Stony Brook. Nesta altura, a água do mar estava presa ao gelo, o que resultou numa diminuição do nível do mar em cerca de 100 m. Toda esta paisagem foi então esculpida pelos glaciares, que quando recuaram deixaram moreias, lagos e lagoas, turfeiras, rios de água de fusão glaciar e vales, blocos erráticos e diversas morfologias de pormenor.
No final da última Era Glaciar – Wisconsin – ocorreram mudanças climáticas extremas e registou-se um aquecimento global desde há 10.000 anos. A vegetação mudou e tornou-se mais densa e exuberante. Nova Iorque e Long Island pouco mudaram desde os tempos em que os glaciares por aqui estiveram (pelo menos em termos geomorfológicos). Mas, em termos humanos, a cidade viu crescer prédios gigantescos que mascararam a sua história glaciar. No entanto, em Central Park tudo está disponível para ser analisado pelos olhos mais atentos. As jovens raparigas correm nos trilhos do parque e descansam encostadas aos blocos erráticos transportados há milhares de anos pelo gelo glaciar desde o Árctico; os namorados trocam promessas de amor eterno sentados nas rochas aborregadas, deixando mensagens de amor gravadas na rocha polida; as crianças brincam nos sulcos glaciares expostos nas rochas; famílias conversam e brincam nas margens dos lagos glaciares. Muito mudou em termos humanos em Nova Iorque, mas em termos geológicos, Nova Iorque continua a ser um testemunho fiel dos glaciares e do seu poder intemporal.
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