A integração passa pela linguagem (???)
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A integração passa pela linguagem (???)


          Conversando com uma amiga brasileira que mora na Itália há alguns anos, nós duas estávamos de acordo que o primeiro passo para a integração em um outro país (e a explicação do nosso "sucesso" nesse sentido) é o domínio da língua. Se mesmo para uma criança a socialização passa pela linguagem (seja ela falada, de sinais, etc.), imagina para um adulto?
          Sempre fui fascinada pela história de Helen Keller, uma americana nascida em 1880 que desde os seus  dois anos de idade era surda, muda e cega. Como apresentar o mundo da linguagem a uma criança com essas restrições? Com a ajuda de Ann Sullivan, que se tornou sua professora, tudo isso foi possível. Não falo de milagre, não! A técnica consistia na utilização da linguagem de sinais, mas como a criança também era cega, ela aprendia pelo tato. Helen Kellen não é a única a ter limitações importantes e ter conseguido vencer seus próprios limites.
          Fiz esse breve relato para dizer que não compreendo porque algumas pessoas não consideram importante aprender a linguagem do país em que vivem. Se a estadia é temporária eu até entendo, pois afinal o investimento (energia, tempo e muitas vezes dinheiro) é muito alto, mas se é para permanecer por um tempo indeterminado, na minha opinião o aprendizado do idioma deveria estar no topo da lista de prioridades.
          (Na minha opinião, sempre), é a linguagem que vai nos permitir de realizar as atividades do quotidiano, como fazer a feira, fazer compras, realizar todas as burocracias administrativas (e aqui na França elas são muitas!), seja pessoalmente, por telefone ou através de cartas! Se a gente não possui um bom nível, podemos acabar dependente dos outros (marido, filhos, etc) e essas atividades simples podem virar um martírio e roubar a nossa autonomia.
         Eh o bom uso da linguagem também que vai interferir no tipo de emprego que vamos ter. Alguém pode contratar um estrangeiro que não fala francês para fazer faxina, mas para um outro tipo de emprego, que exige contato com outras pessoas, telefone e comunicação escrita, aí vai ser difícil. Tem muita gente que trabalha como babá sem falar o idioma, porém eu não contraria uma babá que não fala francês (se eu tivesse filho!) por razões simples: se acontece um problema com a criança, qual vai ser a reatividade dessa pessoa para procurar ajuda? Como ela vai se comunicar com os hospitais, bombeiros, polícia, etc, quando ainda por cima o primeiro contato é por telefone? Como ela vai explicar o problema? Eu não teria confiança (nesse aspecto, que fique bem claro).  
          E como terceiro ponto importante (se não esqueci nenhum) está a socialização. Eh através da língua que teremos contato com locais e pessoas de outras nacionalidades que não apenas a nossa. Tem muita gente que prefere apenas contato com brasileiros, vai da escolha de cada um, mas eu prefiro não viver em guetos e poder me comunicar e enriquecer as minhas relações com pessoas que me interessam, independente da nacionalidade.
(Cécile é de origem coreana e Seko vem do Togo)

          Aqui seguem algumas dicas para aprender francês (que pode ser adaptada a outros idiomas). Não é o único, mas eu gostaria de compartilhar o caminho que utilizei:

1. Quando ainda estava no Brasil, coloquei as lições de francês e músicas em francês no meu mp3 e escutava todos os dias durante o meu trajeto de ida e volta ao trabalho. Isso me permitiu uma boa familiarização com o idioma.

2. Ainda lá, todas as noites assistia ao menos a um filme ou série em versão original francesa ou dublada em francês. Aos poucos eu ia associando as imagens com o discurso e conseguia compreender pelo contexto.

3. Comecei a ler livros infantis em francês, pois são bem simples e permetem enriquecer o vocabulário básico.

4. Já aqui na França, raramente assisti televisão brasileira. Quando ligava a TV, prefiria programas em francês para me adaptar com a linguagem e também com as "personalidades" que passam pela TV. Sempre me senti meio idiota quando alguem falava de alguém famoso, como a Gloria Pires "francesa", e eu nunca tinha ouvido falar da criatura... Ou então mostravam o ministro das finanças, da imigração... Eu não me sentia bem em um país e estar completamente alienada em relação ao contexto político.

5. E se vocês não possuem um excelente professor particular em casa (mesmo que um tantinho exigente), como eu tive a sorte de ter, impossível abrir mão de um curso de francês. O curso vai fornecer a disciplina para quem não a tem e favorecer o ambiente de comunicação em francês.

6. Eu ainda tive a sorte de ser uma devoradora de livros. Leio tudo e qualquer coisa, e desde que cheguei não tive medo de me aventurar a ler tudo em francês.

          Aprender francês é uma tarefa árdua, mas é ao mesmo tempo um combate decisivo para quem vive aqui, em todos os sentidos do verbo viver.

      E o resultado compensa, quando conseguimos vencer o silêncio e podemos traduzir nossos pensamentos em palavras que os outros podem compreender.



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