A eclética Hamburgo: do hambúrguer aos Beatles

     
       Com o pomposo nome oficial de Cidade Livre e Hanseática de Hamburgo, o antigo burgo hanseático é hoje a segunda cidade alemã em população após Berlim, contando com 1,8 milhão de habitantes. Como atesta o nome, ainda retém o status de cidade-estado. Enquanto Lübeck e Lüneburg decaíram com o fim da Liga, Hamburgo só fez crescer. Cidade mais rica da Alemanha, é uma autêntica metrópole, com o maior porto da Alemanha, às margens do rio Elba, além de sediar as principais organizações de imprensa alemãs e uma das bases da fabricante de aviões Airbus.

       À primeira vista, a falta de grandes atrações  pode desanimar um turista desavisado, mas esta é uma impressão falsa. Hamburgo conta com inúmeros atrativos, seja pelo lado da cultura ou do lazer. E ainda conta com o charme adicional de estar profundamente vinculada à história de dois ícones globais - os Beatles e o hambúrguer.

       Foi aqui, no então bairro barra-pesada de St. Pauli, que os Beatles fizeram inúmeras apresentações em longas temporadas entre 1960 e 1962, cujo sucesso levou à gravação  em Hamburgo de seu primeiro disco. Durante este período, Ringo Starr se juntou ao grupo. Como curiosidade adicional, o bairro desde então tem sido parcialmente  revitalizado, mas a rua onde tocavam, a Große Freiheit ("Grande Liberdade"), continua repleta de inferninhos e boates de striptease. No largo onde se inicia, foi criada uma praça em formato de LP de vinil, batizada como Beatlesplatz.

Beatlesplatz

       Quanto ao hambúrguer, quem imaginou pelo seu nome que foi inventado aqui, acertou  em parte. Cargueiros da Rússia traziam a carne moída crua, apreciada naquela região (e que originou o steak tartar...). Os marinheiros  que povoavam o porto de Hamburgo tiveram a brilhante ideia de cozinhá-la, popularizando então a carne de hambúrguer. Com a onda emigratória do século XIX, o prato alcançou os Estados Unidos, onde pães foram adicionados, criando-se então o sanduíche que todos amamos devorar.
    

        Dois terços da superfície urbana de Hamburgo são tomados por água ou parques. Seu diferencial para outras cidades alemãs é a presença do lago Alster, que banha o centro da cidade e na realidade é formado por dois lagos unidos entre si, Binnenalster e Außenalster . Inúmeros canais unem o lago Binnenalster ao rio Elba, conferindo certa semelhança a Amsterdã em alguns trechos. Uma pedida excelente é a caminhada ao redor do lago Außenalster , com oito quilômetros de perímetro, com passagem por parques e bairros nobres da cidade. Caso não se queira dar a volta completa, ao longo do percurso há diversas paradas do barco que singra o lago. Nos fins de semana e feriados na primavera e verão, a quantidade de opções de lazer é variada: cruzeiro de barco, canoa, remo e pedalinhos. Outra opção para passeios agradáveis  em meio ao verde é o parque Planten un Blomen, junto à torre de TV.

       Como quase sempre, a edificação mais importante do centro é sem dúvida a Rathaus, a Prefeitura. Este prédio monumental  e opulento começou a ser planejado após o Grande Incêndio que dizimou grande parte de Hamburgo em 1842 (e esta é uma das razões de a cidade possuir um aspecto mais "moderno" que suas irmãs do norte da Alemanha). Inaugurada em 1897, possui 647 salas, das quais algumas podem ser visitadas em um tour.

       Perto dali se situam os destroços da igreja de St. Nikolai, bombardeada na Segunda Guerra e da qual praticamente só sobrou a torre chamuscada. A igreja não foi reconstruída, tendo se  tornado um memorial aos horrores da guerra. Pode-se subir até o alto da sua torre, mas a vista é  um pouco limitada pelas janelas estreitas e gradeadas. Outra igreja mais afastada, St. Michaelis, situada na entrada do bairro  de St. Pauli, tem vista mais ampla do alto de sua torre, conforme podemos atestar pela primeira foto deste post. Para felicidade de nossas pernas, esta torre também pode ser alcançada por elevador.

       

      A pequena área histórica remanescente em Hamburgo, atualmente com construções mais antigas, também deve ser visitada. A  Deicherstraße é a rua mais representativa, com as casas habitadas por mercadores no século XVII, e que hoje sediam restaurantes em seu térreo. Atrás desta rua corre o canal mais fotogênico da cidade, o Nikolaifleet, eventualmente singrado por barcos de turismo.


Nikolaifleet

     A cidade está sempre se reinventando - não muito longe da região dos canais, a moderna Hamburgo dá as caras no novíssimo bairro de Hafen City, que está sendo construído junto ao rio Elba em um enorme projeto a ser realizado em vários anos. Espalhados por 1,5 quilômetro quadrado, edifícios  inteiros estão sendo remodelados de forma arrojada, sendo o mais representativo o que sediará a Sala de Concertos da Filarmônica.

Monumento aos Soldados Mortos na Primeira Guerra, junto à Prefeitura.

         O lado cultural está muito bem representado em Hamburgo. Perto da estação ferroviária, existe uma sucessão de museus de arte, conhecida como "Milha de Arte". O principal é o Kunsthalle, focado em pinturas e esculturas de épocas variadas. Rembrandt, Manet, Renoir e Klee são alguns artistas com obras lá expostas.

          Uma atração que considerei fantástica foi o Miniatur Wunderland, localizado no bairro dos armazéns, Speicherstadt, por si só já uma atração turística, pela sua atmosfera antiga em meio às construções gêmeas em tijolo vermelho. Trata-se de uma exibição de miniaturas de monumentos, paisagens e veículos, construídas num nível de detalhe incrível e que retrata áreas diversas ao redor do globo, tais como a própria Alemanha (com Hamburgo incluída, obviamente), Alpes, Escandinávia e Estados Unidos. Impressionam a reprodução excelente de Las Vegas e a nova seção dedicada a um aeroporto, onde os aviões em miniatura efetivamente pousam e decolam.

O Miniatur Wunderland

       Para finalizar este post, a foto abaixo registra uma maneira inusitada encontrada pelos hamburgueses para unir duas de suas paixões: a cerveja e a bicicleta.

A autêntica "chopecleta" alemã

* Este é o último de uma série de três posts sobre a Alemanha Hanseática.


[Obs. em 08.07.2015: A Unesco acabou de considerar o bairro de Speicherstadt Patrimônio da Humanidade. Mais um motivo para se visitar Hamburgo!]