A cidade medieval de Tallinn
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A cidade medieval de Tallinn



Cidade antiga baixa, a Igreja de Santo Olavo e parte da muralha, a partir de mirante em Toompea

        A cidade antiga de Tallinn é aquele tipo de lugar que mal você põe os pés já se encanta e quer percorrer cada canto, andando sem rumo e se perdendo nas curvas das ruas estreitas sem ligar para o mapa na sua mão. Vista do alto, de um avião, é tão encantadora que parece uma cidade de brinquedo ou saída direto de um conto de fadas. Não é à toa que também é conhecida como "Pequena Praga". Como as demais capitais bálticas, Tallinn também foi nomeada Patrimônio da Humanidade pela Unesco pelo seu núcleo medieval, mas possui uma diferença - suas partes alta e baixa possuem atmosferas distintas, para o deleite dos visitantes.

         Por estar a apenas hora e meia de aerobarco desde Helsinki, a cidade sofre de excesso de turistas em algumas ocasiões, muitos dos quais chegam pela manhã e se vão no final do dia; mas realmente é um desperdício dedicar somente algumas horas para se conhecer esta preciosidade.

Barraca com vendedora em trajes típicos junto ao restaurante Olde Hansa

        A capital mais antiga do norte europeu foi fundada por dinamarqueses que conquistaram a região no início do século XIII e ali estabeleceram o castelo de Toompea - o nome da cidade provém de "Taani linn" ou cidade dinamarquesa em estoniano. Em 1285 Tallinn aderiu à Liga Hanseática e enriqueceu comerciando couro, peles e mel entre o Ocidente e a Rússia. A Liga desempenhou um papel tão importante para a cidade que Tallinn era conhecida em todo o mundo até 1917 pelo seu nome alemão, Reval. Um dos restaurantes mais famosos de Tallinn, o Olde Hansa, ao lado da Prefeitura, se propõe a reviver este período, com garçonetes vestidas em trajes típicos e músicos entoando canções medievais.

A muralha da cidade antiga de Tallinn

        A cidade evoluiu dividida em duas partes: Toompea, a parte alta, sede do governo onde vivia a nobreza, e a parte baixa, onde estava o porto, ocorriam os negócios e a maioria da população morava. No século XIV, no auge do comércio, os dois lados entraram em litígio, e os negociantes da cidade baixa construíram uma muralha ao seu redor, para se separarem de Toompea. A muralha ainda existe na maior parte do perímetro da cidade baixa e seu trecho mais fotogênico, com quatro torres em sequência, pode ser visto após se atravessar uma passagem no muro, junto ao final da rua Aida (foto acima). Com o declínio da Liga, a cidade caiu sob domínio sueco e finalmente em 1710 foi conquistada por Pedro, o Grande, permanecendo russa até o século XX.

O Castelo de Toompea, sede do Parlamento

       Toompea está situada numa colina entre a cidade baixa e alguns parques. Seu nome tem origem no alemão "Domberg". Suas duas principais construções estão separadas por um largo: a primeira é o Castelo de Toompea, que hoje abriga o Parlamento estoniano. Nada resta do castelo original dinamarquês de 1219; a fachada rosa atual foi erigida durante o reinado de Catarina, a Grande, no século XVIII, mas as torres dos cantos do Castelo remontam ao século XIV, inclusive a mais conhecida, Pikk Hermann, onde tremula a bandeira estoniana.

A Catedral de Alexander Nevsky

       Do outro lado do largo, a Catedral ortodoxa de Alexander Nevsky foi construída no famoso estilo  russo, com cinco cúpulas negras em forma de cebola. Inaugurada em 1900, homenageia um santo russo que guerreou na Estônia há 800 anos atrás. Erigida em meio aos esforços para "russificar" Tallinn, a linda igreja era odiada pelos estonianos e quase foi colocada abaixo após a primeira independência da Estônia em 1920. O estilo realmente soa deslocado em meio à arquitetura da cidade. O interior bastante ornamentado merece uma olhada, com seus ícones dourados. Pena que a fachada se encontrava em obras de restauração... Ainda na cidade alta, outro marco é a Catedral Luterana de Santa Maria, apelidada de Igreja do Domo, com fachada do século XV.

Vista aérea de Toompea - fonte: www.tourism.tallinn.ee

     Mas o melhor de Toompea são as vistas para a cidade baixa e a muralha. Existem dois mirantes principais, aos quais se chega após passarmos por becos estreitos repletos de lojas de venda de lembranças e de artesanato. Alguns artifícios ajudam a compor o clima medieval nos becos, como uma armadura colocada na entrada de uma loja. O mirante de vista mais impressionante está situado num terraço aprazível ao final da rua Rahukohtu. A foto de abertura do post foi tirada lá.

Descendo a Perna Longa. Ao fundo, a torre de entrada na Cidade Baixa

      Na encosta entre Toompea e a cidade baixa existe uma área verde chamada de Jardim do Rei Dinamarquês. De acordo com a lenda, foi aqui que as tropas dinamarquesas acamparam em 1219 antes de conquistar Toompea. Uma bandeira vermelha com uma cruz branca teria caído na área trazida pelo vento, o que foi considerado um sinal divino pelos guerreiros escandinavos. Vencida a batalha que se sucedeu, a bandeira foi adotada pela Dinamarca, se tornando modelo para todas as bandeiras nórdicas da atualidade.

Entrada da cidade antiga no início da rua Viru. Ao fundo, a torre da Prefeitura

           Para chegarmos à parte baixa da cidade medieval a partir de Toompea, descemos a ladeira de Pikk Jalg ("Perna longa"), que adentra a cidade baixa após passar sob uma torre. Existe ainda a "Perna curta" como alternativa. Se no entanto se deseja alcançar a cidade antiga a partir do centro moderno, a entrada mais interessante é pela rua mais comercial da cidade antiga, a Viru, que possui várias lojinhas de lembranças baratas. A entrada é ladeada por duas torres do muro cobertas por hera, e para quem está chegando à área pela primeira vez, a visão do minarete da Prefeitura ao fundo só aumenta a curiosidade. Outra entrada, agora no lado norte perto do porto, é pela Torre da Margaret Gorda, inaugurada em 1530, cujo nome parece denotar o seu diâmetro muito superior às demais torres da muralha - suas paredes tem quatro metros de espessura. A sua função original era defender o porto, e o prédio hoje apropriadamente sedia o Museu Marítimo Estoniano. Do seu topo pode-se admirar belas vistas da cidade antiga e da baía, apesar da melhor visão ser a do alto da torre da Igreja de Santo Olavo.


A torre da Margaret Gorda, o Portão da Costa Grande e o final da rua Pikk

        O único espaço amplo na cidade antiga baixa é a Praça da Prefeitura (Raekoja Plats). Sem dúvida, este é o coração da cidade antiga desde sua fundação. Nesta época o local sediava o mercado, que eventualmente ainda é montado na praça. Ponto de referência graças ao minarete da Prefeitura, a praça é cercada por restaurantes de culinárias variadas, com mesas ao ar livre. Seu pinheiro de natal é erguido em dezembro há quase 600 anos. A praça é dominada pela Prefeitura, a única em estilo gótico do norte europeu, inaugurada em 1404 e sede do poder municipal desde então. Dizem que sua torre exótica que lembra um minarete foi construída baseada em desenhos de um explorador recém-viajado ao Oriente. O prédio conta ainda com duas calhas no formato de dragão, que dão para a praça. Na ponta do minarete existe desde 1530 um cata-vento no formato de um pequeno guerreiro, apelidado de Velho Tomas, que protege os habitantes da cidade. A torre e o cata-vento foram destruídos durante os bombardeios intensos  efetuados pelos soviéticos em 1944, sendo reconstruídos anos depois.

Raekoja Plats, com a Prefeitura e sua torre à direita


      Localizada em frente à Prefeitura, do outro lado da Praça, a Farmácia da Prefeitura (Raeapteek) funciona no mesmo lugar pelo menos desde 1422, quando já tinha pertencido a três donos. Aqui eram vendidos todos os tipos de medicamentos e poções, tais como pó de morcego, hoje substituídos por cosméticos e aspirinas.

Outro ângulo da Praça da Prefeitura

      No mais é percorrer as ruelas da cidade antiga e apreciar os prédios dos séculos XIII a XV, indo e voltando pelas três artérias principais paralelas, a Lai, a Pikk e a Vene. Os destaques vão para:
  •  a Casa das Cabeças Negras na rua Pikk, associação semelhante à do prédio mais famoso de Riga (acesse o post aqui), e que também congregava os mercadores solteiros antes destes aderirem à Grande Guilda. A casa do século XV com fachada bem ornamentada hoje funciona como sala de concertos. Este trecho da rua Pikk congregava diversas associações mercantis da Liga (veja a foto no post passado).
  • a Igreja do Espírito Santo, também na rua Pikk. Datada do século XIV, a igreja possui uma fachada gótica cujo destaque é o lindo relógio em azul e dourado, o mais antigo de Tallinn. Outro da série "o mais antigo da cidade" é o sino no alto da sua torre, de 1433.  Em frente à igreja, ligando as ruas Pikk e Lai um beco medieval contém na lateral do chão placas que contam a história da Estônia em ordem cronológica.
  • na rua Vene, que possui vários restaurantes, fica a Passagem de Santa Catarina. É um beco de casas do século XV com paredes de pedra contendo lápides (algumas pertencentes a membros dos Cabeças Negras) e abóbadas sobre a passagem. Certamente é o lugar com aparência mais medieval da cidade baixa. Ao longo do corredor, há vendedores de arte e artesãos praticando o seu ofício.

A rua Lai

     Para conhecer as atrações de Tallinn fora do perímetro do núcleo medieval, acesse o último post publicado, que contém ainda outras fotos da cidade.
       

Este é o décimo de uma série de posts sobre Varsóvia e os Países Bálticos. Para visualizar os demais,  acesse Descobrindo os Países Bálticos.



  Postado por  Marcelo Schor  em 20.01.2013  



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