Viedma - Uma viagem ao mundo dos glaciares
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Viedma - Uma viagem ao mundo dos glaciares


Com uma parede de gelo com cerca de 40m, o Viedma é o glaciar mais importante do sector norte do Parque Nacional Los Glaciares. Embora a maioria dos viajantes não visite este sector para apreciar a beleza singular do glaciar, a verdade é que do ponto de vista da glaciologia o Viedma é perfeito. O Viedma é o maior glaciar argentino e o segundo maior glaciar da América do Sul, logo depois do Pio XI, no Chile. O glaciar apresenta cerca de 25km de comprimento e 2,3km de largura numa massa aproximada de 945km2.

O acesso ao glaciar é relativamente fácil já que pode ser alcançado por barco ou num trek de dois dias a partir de El Chaltén. A aproximação por barco permite apreciar a beleza da parede terminal do glaciar exibindo esta uma tonalidade muito mais azulada na margem esquerda. Esta situação deve-se às enormes pressões que o glaciar infringe sobre uma área rochosa compactando o gelo.
O glaciar Viedma trata-se de um glaciar continental, o que significa que cobre uma área bastante extensa do continente sul-americano e flui por acção do seu próprio peso, criando assim o movimento do glaciar.

Todos os glaciares estão em movimento e este movimento resulta da pressão exercida pela acumulação de neve e gelo na parte inicial do glaciar.

O local onde o glaciar incorpora massa é designado de área de acumulação. Esta área é determinante para que o glaciar continue em crescimento. Quando o glaciar deixa de acumular neve e gelo passa para a área de ablação. Esta corresponde à parte do glaciar onde a perda de água é mais elevada do que a acumulação. As duas áreas estão separadas pela chamada linha de equilíbrio.
Os glaciares perdem massa essencialmente devido à evaporação, sublimação e degelo. O degelo do glaciar no seu topo permite o aparecimento de lagos temporários. Muitas vezes eles voltam a congelar.
O degelo superficial também produz o aparecimento de buracos no gelo por onde a água escorre até alcançar a base do glaciar. Estes buracos são designados por mullins ou sumidouros.

Esta água vai fluindo por baixo do glaciar até alcançar a sua frente e alimentar o lago que se encontra a jusante. O lago Viedma tem esta génese, assim como o lago Argentino no Perito Moreno.
No entanto, os glaciares “calving”, como é o caso do glaciar Viedma, perde também massa devido ao desprendimento de grandes blocos de gelo da parede frontal. Estes desprendimentos vão criar icebergs (designados por tempanos em espanhol) que vão derivando pelos lagos glaciares.
Quando um glaciar acumula a mesma quantidade de gelo que perde considera-se que o glaciar está em equilíbrio. É o caso do glaciar Perito Moreno, que no último século tem apresentado pequenas variações no seu volume de gelo. Já o glaciar Viedma, tal como a esmagadora maioria dos glaciares argentinos, tem perdido massa. Isto significa que o glaciar está em retrocesso, ou seja perde mais massa por ablação do que aquela que acumula. O glaciar Pio XI é um glaciar que acumula mais do que o que vai perdendo na área de ablação. Isto significa que o glaciar está a avançar.
Ao movimentarem-se no vale, a base do glaciar produz uma forte abrasão com a rocha e, os sedimentos transportados no fundo do glaciar vão erodindo as rochas, deixando marcas visíveis da sua passagem.
As partículas mais finas provocam o polimento das rochas e os calhaus maiores estrias e sulcos. O retrocesso do glaciar deixa a descoberto estas marcas na paisagem.
Locais onde os glaciares estiveram há cerca de 14 000 anos atrás conservam estas formas nas rochas e permitem ao geomorfólogo conhecer o comportamento do glaciar. No caso do glaciar Viedma, estas marcas são tão evidentes e frescas que basta sair do barco nas imediações do glaciar para “tropeçar” nas morfologias de pormenor que o glaciar deixou nas rochas circundantes.

No entanto, o movimento do glaciar faz-se a um ritmo diferenciado na base e no topo. Devido à forte abrasão na base e na parte lateral, o glaciar move-se mais rapidamente no topo e no centro. Esta situação provoca o aparecimento de várias morfologias no gelo. As mais comuns são as crevasses, fendas estreitas e profundas que se vão abrindo e fechando com o movimento do glaciar.
Estas crevasses são extremamente perigosas para quem se desloca sobre esta massa de gelo já que muitas vezes estão cobertas por neve e não se vêem.
As crevasses podem produzir um desnível e assim originam-se paredes de gelo no seio do glaciar designadas por seracs. Também estas são extremamente perigosas porque podem ruir a qualquer momento.
Penetrando no glaciar Viedma, todas as formas glaciares são bem visíveis. Abundam crevasses por toda a frente glaciar, inclusive na parede frontal.
O glaciar parece completamente recortado. Algumas crevasses evoluíram para seracs e é nessas paredes de gelo que é possível fazer escalada no gelo.
Graças às técnicas de escalada foi-me possível descer ao fundo de algumas crevasses e presenciar o imenso azul do gelo nestes locais. Algumas áreas parecem pintadas com tinta tal a intensidade da cor.

O glaciar Viedma exibe também algumas formas de pormenor bastante interessantes como grutas, arcos e buracos.

Outras das formas extremamente interessantes que aqui se podem ver são os chamados cones de ablação, montículos de sedimentos em forma cónica, que resultam da sublimação rápida da água.

Caminhar e explorar o glaciar Viedma foi um sonho tornado realidade. Pisar um dos glaciares mais importantes da América do Sul, e contudo ainda não estudado, foi um privilégio. Não consigo esconder o meu entusiasmo e tiro mais de 1000 fotografias. Um exagero? Talvez, mas quem sabe no futuro estas fotografias poderão ser alvo de algo mais importante.



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