Viagem a Montevidéu: a orla e o Parque Rodó
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Viagem a Montevidéu: a orla e o Parque Rodó


Pocitos e o Rio de La Plata

         Há tempos estava nos meus planos uma visita a Montevidéu. Uma cidade aprazível, conhecida pelos suas construções em belas linhas arquitetônicas, plana e propícia a longas caminhadas, recheada de museus e com áreas verdes de encher os olhos. Ou seja, tinha tudo para me agradar. E sem surpresa, foi o que aconteceu.

         Aproveitei um fim de semana prolongado e fiquei lá por três noites, chegando num sábado à tarde e saindo na terça na hora do almoço.  Quando agendei a viagem para Montevidéu, fiquei com a dúvida clássica que assola os visitantes: qual a melhor área para se hospedar, o centro da cidade ou os bairros litorâneos de Pocitos e Punta Carretas? O centro concentra a maior parte das atrações turísticas, enquanto a zona das praias tem maior atividade noturna. Como um dos dois dias inteiros da minha estadia cairia num domingo, achei que o centro estaria deserto nesse dia e preferi me hospedar em Pocitos. A preocupação se mostrou infundada. No domingo a parte nova do centro tinha bastante gente, apesar de a cidade velha estar, sim, bem deserta. De qualquer modo, foi ótimo começar e terminar cada dia caminhando pelo calçadão da Praia de Pocitos. O hotel em que me hospedei, o Ermitage, ficava a uma quadra da praia, diante de uma praça; melhor localização para andar pela orla, impossível.

Pocitos nas primeiras horas da manhã

           Há três formas de transporte do aeroporto para Montevidéu: táxi, van e ônibus. Para a zona das praias, o ônibus executivo DM1 faz a ligação por 53 pesos (horários no site www.copsa.com.uy/cgi/cginews.pl?record=129). Como existia um ponto de parada do ônibus a algumas quadras do hotel, meu plano era utilizar esta linha na ida e na volta para o aeroporto. Porém quando saí do terminal estava chovendo com uma ventania forte. Como o ônibus ainda ia demorar mais de meia hora para aparecer, preferi voltar e pegar um táxi, que custou bem mais caro, 1.180 pesos. Quanto à van, não tinha hora certa para sair, teria que encher primeiro, e não havia nenhum candidato a utilizá-la. Já na volta para o Brasil mantive o planejamento original e  utilizei o ônibus executivo num trajeto de 50 minutos sem engarrafamento, e sem dúvida quando retornar à cidade voltarei a usá-lo. Seu único problema é a falta de porta-malas, com bagageiro estreito acima das poltronas, o que complica bastante o traslado para quem está viajando com bagagem volumosa.

Uma das magníficas áreas verdes - o Parque Juan Zorrillo, no limite entre Pocitos e Punta Carretas

          Nos meus deslocamentos pela cidade usei o pé e ônibus municipais, cujo nível de conforto é semelhante aos ônibus cariocas (ou seja, mínimo) ao preço de 28 pesos, pagos ao motorista ou cobrador, se este estiver presente. Viajei sempre sentado, mas os ônibus lotavam ao longo do trajeto. Muitos turistas preferem táxis, cuja tarifa não é muito cara. Cheguei a pensar em utilizar o ônibus turístico, que passa por muitas das atrações montevideanas num trajeto circular de mais de duas horas, mas desisti por algumas razões - achei caro, 540 pesos para um dia, e a frequência era mínima, mais ou menos um a cada hora, o que engessa bastante o planejamento em caso de descida nas atrações.

Chimarrão na Rambla de Pocitos ao entardecer

         Pocitos é um bairro ótimo para se hospedar. Suas ruas interiores são muito tranquilas e bem arborizadas, com edifícios e casas se alternando - um convite para caminhadas a esmo fora do ponto favorito para esticar as pernas, o calçadão da Rambla, como é chamada a avenida costeira. No cair da tarde, fiquei impressionado com a quantidade de adolescentes conversando sentados na mureta ao longo do calçadão, sempre sorvendo chimarrão da cuia, devidamente alimentada pela garrafa térmica postada ao lado. Muitos restaurantes se situam no eixo Pocitos-Punta Carretas (o bairro vizinho). Punta Carretas possui também um shopping grande que leva o nome do bairro, estabelecido numa antiga prisão cujo "hóspede" mais famoso foi o ex-presidente Mujica. O shopping tem uma praça de alimentação ampla e um bom quebra-galho, uma loja de câmbio que funciona nos fins de semana (apesar de a cotação - 7,60 por cada real -  estar um pouco pior em comparação às lojas da Avenida 18 de Julio, que funcionam em dias úteis).

           E falando em alimentação, não custa lembrar: se você pagar sua despesa em restaurante com cartão de crédito brasileiro, sua conta vem com o desconto de IVA (18,5%) sobre o valor nominal, o que compensa em muito a taxa de IOF que é cobrada depois na fatura mensal. Quanto aos hotéis, já têm a tarifa despida de IVA para estrangeiros. Este desconto no cartão, que faz a alegria dos turistas e é um recurso inteligente para atraí-los ao Uruguai, foi recentemente prorrogado até abril de 2017.

Foto na parede do hall do Hotel Ermitage, mostrando a elegante Pocitos nas primeiras décadas do século passado

            A praia de Pocitos tem um quê de Copacabana, com a muralha de prédios diante do calçadão além da praia em curva. No entanto a areia é mais escura e faltavam banhistas tomando sol naquele domingo de março. A maior diferença está mesmo na água, com um colorido marrom fluvial. Afinal, por mais que pareça, já que não dá para divisar a margem argentina do outro lado, Montevidéu não é banhada pelo oceano e sim pelo Rio da Prata - se bem que de vez em quando umas marolas arrebentem na praia. Aliás, o nome oficial é "Playa de Los Pocitos", referência aos poços que lavadeiras usavam no seu ofício. E se as ruas de Copacabana já perderam o charme e o bucolismo de Princesinha do Mar há muito tempo, Pocitos ainda aparenta ser um lugar excelente para se viver.

Localização das atrações de Montevidéu mencionadas neste post

            Uma das marcas mais conhecidas de Montevidéu são as suas ramblas - as avenidas costeiras que vão trocando de nome, homenageando um país ou personalidade, e margeiam o Rio da Prata por mais de 20 quilômetros entre a Cidade Velha e Carrasco, sempre com um calçadão as separando da praia. O táxi que me trouxe do aeroporto havia passado pelas ramblas da orla de Carrasco a Buceo, portanto já considerei essa parte como vista. Para conhecer o restante do circuito das ramblas, decidi usar uma das manhãs para ir de Pocitos à Cidade Velha a pé, percorrendo as ramblas na maior parte do percurso bastante fotogênico de pouco mais de nove quilômetros, parando para tirar fotos nas várias atrações concentradas no caminho.

Parte inicial da caminhada: a Rambla Mahatma Gandhi e os edifícios de Punta Carretas

           O circuito começa num dos pontos mais fotografados de Montevidéu, o letreiro com  o nome da cidade. Localizado na ponta leste de Pocitos, as letras sofrem inúmeras transmutações conforme a época do ano ou algum evento impactante, mas naquela manhã estavam nuas, num branco simples e acachapante, fazendo sobressair a paisagem de Pocitos atrás delas. Sempre ouvi que era difícil tirar uma foto sem que houvesse alguém posando junto às letras, mas naquela hora erma (oito da manhã) eu estava completamente sozinho.

Memorial do Holocausto do Povo Judeu

          A rambla tem o nome de República del Peru na Praia de Pocitos e de Mahatma Gandhi na orla de Punta Carretas, após o término da areia. Procure pelo busto do grande líder indiano. O calçadão passa então pelo ponto mais meridional da cidade, o Farol de Punta Carretas, construído em 1876 num promontório e considerado um dos melhores pontos para se apreciar a visão desimpedida do pôr do sol sobre as águas do Rio da Prata. A rambla aí já troca de nome de novo, homenageando agora o ex-presidente norte-americano Wilson.

         Nesse trecho a massa compacta de edifícios é substituída por um campo de golfe e é aí que surge um dos monumentos mais tocantes de Montevidéu, o Memorial do Holocausto do Povo Judeu. De início achei sua localização um pouco estapafúrdia para a seriedade do assunto, mas ao chegar lá me deparei com um cenário deserto, isolado e pitoresco . De um simbolismo bem mais abstrato que memoriais que visitei em cidades como Berlim e Boston, o monumento é composto de um muro que acompanha o mar, indicando a trajetória do povo judeu, interrompido por um vão com duas pedras inclinadas em posição diagonal que representam a tragédia do holocausto. Numa das entradas, gravado sobre uma pedra, há um diagrama que explica o papel de cada elemento que compõe o monumento.

O centro de Montevidéu visto da Rambla Wilson


A exposição de fotos no Parque Rodó com a fonte La Source ao fundo

             À medida que avançava pela rambla Wilson já começava a divisar a silhueta dos prédios do centro de Montevidéu, incluindo o da Intendência, com seu mirante onde eu subiria mais tarde. O fim desta rambla dá acesso a uma das áreas verdes mais bonitas de Montevidéu, o Parque Rodó. À sua entrada, uma estátua já convida à meditação, homenageando Confúcio, o mestre chinês. Perto dali, a fonte La Source está junto a uma exposição ao ar livre montada pelo Centro de Fotografia de Montevidéu, sempre com mostras temporárias. Por coincidência, naquela semana apresentava o trabalho do fotógrafo brasileiro João Ritter, focado no dia a dia dos trabalhadores das cidades ou do interior, com locações como estações ferroviárias cariocas.

Monumento ao escritor José Enrique Rodó

            O parque encanta pela sua vegetação e por seus recantos tranquilos, tendo tudo que lembramos dos parques de antigamente no Brasil. O Rodó conta com um  lago artificial com pontes, pedalinho e até um pequeno castelo às suas margens, além de parquinho de diversões com diversos brinquedos e  uma feira de roupas aos domingos.


As paisagens tranquilas do Parque Rodó

      Para completar, o parque ainda sedia o ótimo Museu de Artes Visuais (na realidade, o prédio fica no parque ao lado), apresentando obras de alguns expoentes da arte uruguaia, incluindo Manuel Blanes e Torres García. Como na maioria dos museus da capital, a entrada é gratuita.


A sede do Mercosul na Rambla Francia: jeito de hotel-cassino

            Voltando à orla, ao lado do parque está situado um prédio de estilo clássico construído no início do século XX que já foi um cassino e hoje abriga a Sede do Mercosul. A rambla aqui já troca de nome novamente, passando a se chamar República Argentina. Após alguns quarteirões, abandonei a orla e segui rumo ao centro atravessando o bairro histórico de Palermo. Junto com seu vizinho Barrio Sur, Palermo concentrava parte da comunidade negra de Montevidéu. Foi aqui que se desenvolveu o candombe, o ritmo uruguaio de raízes africanas baseado em batuques de três tipos de tambores. O candombe é especialmente tocado no carnaval, que os montevideanos tem orgulho em afirmar que dura 40 dias. No início de  fevereiro  acontecem as llamadas, desfiles de sociedades de comparsas, como são chamados os blocos de carnaval com integrantes fantasiados que desfilam pelas ruas do bairro ao som do candombe. É interessante notar que a semelhança da denominação do ritmo com a do candomblé não é coincidência, ambas se originam do mesmo vocábulo quimbundo. E é ainda em Barrio Sur que se situa a Calle Carlos Gardel, com seu casario típico; alguns afirmam que o grande cantor de tangos (outro ritmo com raízes uruguaias) teria nascido no país.

           Após percorrer as ruas de Palermo, cheguei finalmente ao prédio da Intendencia no centro da cidade, com um terraço com vistas para todas as direções. Mas este já é um assunto para o próximo post, dedicado às varias construções que dão fama ao lugar onde surgiu Montevidéu.


 Postado por  Marcelo Schor  em 13.05.2016 





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