Encravado entre o México e a Guatemala, o Belize, um dos mais pequenos países da Mesoamérica, é o único país da região com língua oficial inglesa. No entanto, o que há partida parece inglês compreensível, rapidamente se transforma em algo indecifrável já que o idioma e inglês-criolo, uma mistura dos dois.
O país é completamente distinto dos seus vizinhos e o que um viajante sente quando aqui chega é que a população é a sua principal característica. O Belize não tem, ao contrário dos vizinhos, uma grande diversidade étnica, no entanto, tem aquilo que nós podemos chamar uma grande diversidade cultural devido aos diferentes povos que ao longo da historia foram habitando o país. Os maias, os mestiços, os menonites, os garifundas e os criolos são as principais culturas que o povoam.
A população indígena, os Maias, habita o país há mais de 2000 anos mas devido à chegada dos espanhóis foram perseguidos e obrigados a refugiar-se nas montanhas e no interior. A maioria dos maias que habitou a área viria a morrer ou a fugir, sendo que hoje representam apenas 10% da população, circunscritos a pequenos enclaves nas Montanhas Maias e no Pine Ridge, onde praticam medicina tradicional e agricultura.
Com a chegada dos espanhóis a Mesoamérica aparecem os Mestiços. Conta a história, digna de um filme de Hollywood, que em 1511, uma nau espanhola, Valdivia, naufragou nos recifes de coral das Caraíbas. Os 15 sobreviventes andaram perdidos no mar até darem a costa do Belize e serem encontrados pelos maias que mataram 10 para satisfazerem a fúria dos deuses. Um dos cinco sobreviventes foi Gonzalo Guerrero que viria a casar com a filha do rei maia de Chetumal e a desempenhar um papel importante como consultor tribal dos assuntos militares dos maias. Da sua união com a jovem maia nasceram 3 filhos, os primeiros mestiços do Novo Mundo. Quando Cortez, em 1519, chegou ao México mandou chamar Guerrero para ser seu companheiro de conquista. Guerrero ja tinha mudado muito. O seu corpo estava parcialmente tatuado e usava piercings tribais. Recusou a oferta de Cortez e juntou-se aos maias para defender um território que lhes pertencia por direito. Foi com o seu contributo que os maias conseguiram resistir cerca de 20 anos as investidas espanholas.
Independente do Reino Unido apenas em 1981, o Belize é um dos mais jovens países do mundo. Enquanto os europeus por aqui andaram trouxeram escravos de África para trabalharem nas plantações de cana-de-açúcar, que espalharam as suas raizes africanas. O Criolo misturou-se com o inglês e hoje os criolos representam 1/3 da população.
Quem percorre o Belize encontrará certamente indivíduos altos, magros, brancos, louros e de olhos azuis, vestindo fatos de macaco, camisa e chapéu de palha. Podem parecer uma visão estranha mas são os Menonites, um povo que veio do leste europeu e nas suas comunidades fechadas realizam práticas religiosas, costumes e tradições que trouxeram. Recusam-se a pagar impostos e vivem isolados em fazendas agrícolas. Inicialmente foram expulsos da Europa e deslocaram-se para o Canadá e EUA, de onde também tiveram que sair. Escolheram o México mas daí também foram expulsos. O Belize recebeu-os e parece estar a beneficiar com a sua permanência já que são os únicos que se dedicam a produções agrícolas que permitem alimentar parte da população nacional, num país onde quase todos os alimentos são importados. Os mais conservadores não utilizam máquinas agrícolas nem técnicas modernas. Deslocam-se em carroças e a sua religião é bastante próxima dos Amish, andando as suas mulheres sempre com o cabelo tapado.
Os Garifunas são um dos povos mais característicos do Belize, correspondendo a 6% da população. No séc. XVII, o naufrágio de um barco de escravos negros africanos deu as costa das ilhas de S. Vicente, no caribe, e viria povoar estes locais pelos chamados caribenhos. Estes rapidamente se misturaram com os locais que na altura era uma ilha francesa. No entanto, a ilha de S. Vicente foi cedida ao Reino Unido e os negros-carabinheros descontentes com as tentativas dos ingleses dominarem a ilha lutaram, levando a que os ingleses os tenham deportado para as Honduras, nomeadamente na cidade de Trujillo. Aqui estabeleceram uma comunidade e daí foram-se espalhando por vários países da America Central, desembarcando em Dandriga, no Belize, um barco com 200 garifundas, em 1882. Era o inicio da comunidade garifunda no Belize. As suas raízes africanas mantêm-se na língua (uma mistura de arawak, línguas africanas, francês e inglês) assim como nos tambores e na dança. Em algumas situações especiais chegam a encarnar espíritos ancestrais ja falecidos.
Para além destes povos, que são o corpo e a alma do Belize, o país conta com uma importante comunidade de chineses que desempenham um papel importantíssimo no comércio nacional, de árabes e de indianos.
Num país com um clima subtropical húmido, as florestas e os recifes de coral atraem cada vez mais turistas, quer na estação seca, quer na estação húmida. O ritmo de vida do Belize é algo que varia entre o "lento" e o "muito lento". Relax, e a palavra de ordem por aqui, onde em qualquer dia do ano o Belize poderá parecer o paraíso.
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