Preparados para subir? Na verdade, quantos minutos são necessários para subir 168 metros? Alguns, mas e se for a uma altitude superior a 3500 metros, com pouco oxigénio (em que tonturas e dores de cabeça são frequentes), temperatura de zero graus Celsius e um forte cheiro a enxofre?
Mas comecemos pelo início...
Confesso que a razão principal de ir para Tenerife era fazer a subida ao Teide, o pico mais alto de toda a Espanha com 3718 metros.
Depois de ter pesquisado sobre o assunto fiquei deveras entusiasmada por poder subir até à cratera de um vulcão. Sabia que não ia ser nada fácil devido à entrada restrita e às várias recomendações expostas na página do Governo das Canárias (www.reddeparquesnacionales.mma.es). Apesar de ter solicitado a "permiso de acceso" para ter a autorização necessária para a subida, não sabia se ia mesmo acontecer, uma vez que necessitavamos de ter, ainda, sorte com o tempo, nesse dia (e nessa hora)! O teleférico não anda, obviamente por razões de segurança, com ventos fortes e mau tempo devido à instabilidade deste último e que aqui pode ocorrer em qualquer dia do ano.
Dentro do avião, antes da chegada ao aeroporto de
Los Rodeos já estavamos a ver o elevado cume do Teide bem acima das nuvens e soube que estavamos a chegar.
No terceiro dia, em Tenerife, as expectativas eram grandes: afinal hoje era o dia de conhecer o grandioso Teide e saber se iamos conseguir chegar até ao cume deste vulcão, além de que seria a primeira vez que estariamos a tão elevada altitude.
Depois de termos passado pela pitoresca Vila Flor, a cidade que se orgulha de ser a cidade mais alta de Espanha, atravessamos de carro uma parte do
Parque Nacional de Las Cañadas del Teide, com mais de 13.500 hectares, sendo o parque nacional de maior extensão das Canárias.
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A 2240 metros |
As antigas erupções do Teide originaram o actual relevo da ilha e segundo se crê, há milhares de anos atrás, havia um vulcão maior que o actual, que através de deslizamentos de terras e erupções vulcânicas desencadeou a aparecimento deste parque, o primeiro parque nacional declarado nas Canárias (1954) e declarado património da UNESCO, em 2007. Algumas vezes, está coberto de neve (às vezes até no verão, mas infelizmente não estava quando fomos). Até o próprio nome da ilha é originário daí:
tene (montanha) e
ife (branca) na língua dos Guanches e depois acrescentado a letra "r" pelos Espanhóis.
À medida que fomos subindo, o solo alterou rapidamente e o cenário verdejante deu lugar a um cenário lunar incrível (depois de passagem pelas nuvens). Também a temperatura amena do 22ºC do sul decaiu, em pouco tempo, para os 7ºC. É notável a adaptação das poucas espécies vegetais que proliferam num solo como este, constituído por rocha vulcânica, aliado às condições ambientais extremamente difíceis. Uma das primeiras plantas colonizadoras é a
Descurainia bourgeauana, um pequeno arbusto que floresce intensamente, de cor amarelada. Também, a
Echium auberianum é umas das plantas características do parque, pela sua forma espigada e fluorescência azulada na Primavera e adormecida no Inverno.
Tendo como paragens os vários miradores, fomos tirando fotos e admirando a paisagem em
Falla de Los Azulejos, onde existem bonitas zonas de coloração azul esverdeada resultante do contacto entre gases vulcânicos e águas termais com rochas quentes e intrusões de magma e
Roques de Garcia
, onde existem as rochas mais fotografadas da região e de formas invulgares; perto do local também existe um hotel com restaurante e posto de informações.
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Falla de Los Azulejos |
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Roques de Garcia (nas duas fotos) |
Como tinhamos tempo, aproveitamos para ver ainda a bonita
Montaña Blanca e passar pela
Montaña Mostaza e pelo
Observatório de Izaña, astrofísico e onde se estuda a teoria do Big Bang.
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Montaña Blanca |
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Montaña Mostaza |
Quando chegamos perto da zona do teleférico, vimos que tinhamos tido sorte: nada de vento, frio um pouco "cortante" (mas nada que não se suporte) e um céu azul, lindo! E o teleférico a funcionar às mil maravilhas!
Depois do almoço improvisado no carro, dotados da autorização e respectivo documento de identificação, protector solar na cara, bem vestidos (calças demasiado quentes, polar, casaco, lenço para o pescoço/cara, gorro para a cabeça, óculos de sol), água e máquinas fotográficas, fomos andar no teleférico.
Apesar deste ser caro (25€ por pessoa, num percurso de ida e volta), passamos quase 10 minutos deliciados com belas vistas e rapidamente passamos dos 2356 metros até à estação de
La Rambleta a 3550 metros, onde existe a mais alta cabine telefónica de Espanha.
A vista é simplesmente deslumbrante e de cortar a respiração (literalmente ou talvez não)! Afinal, aqui estavam 0ºC. Subimos lentamente os 168 metros para nos irmos acostumando com a falta de oxigénio e conseguirmos chegar até ao topo.
A autorização é necessária para salvaguardar esta zona natural magnífica e mesmo para a própria segurança das pessoas que a visitam. Com efeito, o caminho é bastante estreito mas devidamente sinalizado. Para obter esta autorização, na subida ao cume, é necessária a marcação da hora de permanência de cada visitante e como é gratuita, convém faze-la o quanto antes (eu solicitei a minha três semanas antes), uma vez que está limitada a 50 pessoas, de duas em duas horas.
No entanto, quem não quiser subir a tão elevada altitude (ou não conseguir a dita autorização) poderá ver as bonitas vistas a partir do mirador do
Pico Viejo e de
La Fortaleza. Além de ser possível visualizar as ilhas vizinhas
(La Gomera e
El Hierro), pode-se até ver mesmo África, num dia despido de nuvens, que não foi o caso.
No topo do vulcão está uma cratera enorme e antiga que não se deve pisar ou mexer, designada por
Telesforo Brovo, com uma cor amarelada e de cheiro forte e repugnante a enxofre (continua a libertar gases, apesar da última erupção ter sido há mais de dois séculos).
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No cume do Teide (a 3718 m, à esquerda: cratera do vulcão) |
Na realidade, tinhamos 60 minutos para subir e descer do cume do Teide, na verdade levamos 80 minutos para o fazer (a subida foi mesmo torturosa, especialmente para o meu marido) mas valeu bem a pena o sacríficio pela magnificência do lugar.