Opatija, o balneário croata da belle-époque
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Opatija, o balneário croata da belle-époque


A cidade de Opatija, na foto tirada do quarto do hotel

          Depois de sairmos impressionados pela beleza e tamanho das Cavernas de Postojna, seguimos viagem pelas florestas do interior da Eslovênia rumo à Croácia. Logo alcançamos a fronteira, onde por indicação do nosso guia compramos kunas - a cotação estava em excelentes 7,5 kunas por um euro. De acordo com o Lonely Planet, em cada mês de junho o governo aumenta a cotação da kuna, de forma a arrecadar mais divisas dos turistas; mais uma vantagem de se viajar em maio.

            Apesar da desvalorização da kuna, a costa croata é um lugar caro, como costumam ser os pontos turísticos, ainda não chegando porém ao nível de preço das capitais da Europa Ocidental. Aliás, falando em geografia, um método certeiro de se irritar um croata é mencionar que a Croácia pertence ao leste europeu, como outros países da Península Balcânica. O país se considera pertencente à Europa Central, o que faz todo o sentido quando se analisa seus vínculos históricos com a Áustria e a Itália.

O entardecer no Adriático com a estátua "A donzela e a gaivota"

           Chegamos em Opatija (o j tem som de i) na hora do almoço. O balneário, cujo nome significa "abadia" em croata, é uma cidade de 8.000 habitantes e se localiza na região de Kvarner, na entrada da Ístria, uma península triangular que antes da Primeira Guerra Mundial pertenceu à Itália. Trieste por sinal está bem próxima, a somente 90 quilômetros de distância.  Da promenade de Opatija, o Lungomare - olha a influência italiana aí - se pode divisar no outro lado da baía a cidade de Rijeka, a terceira maior da Croácia e importante centro da indústria naval. Como Rijeka significa "rio" na língua croata, fiquei brincando que Opatija seria uma espécie de Niterói croata... E para completar, por coincidência Rijeka sedia o maior carnaval da Croácia.

A marina de Opatija, com a cidade de Rijeka na outra margem da baía

         Opatija era um balneário extremamente chique no final do século XIX, uma espécie de Baden-Baden austríaca. Era uma das localidades preferidas para descanso da família imperial dos Habsburgo e da nobreza vienense. Isto aparece na sua arquitetura, especialmente nos inúmeros hotéis, estabelecidos em belíssimos e grandiosos prédios no estilo belle-époque dessa era espalhados pela orla. O período áureo se encerrou em 1920, quando a região caiu sob o domínio italiano, mas por alguns anos seguintes foi a vez de a nobreza do norte italiano frequentar o balneário.
         
Os hotéis Bellevue e Palace,  representantes da arquitetura belle-époque

       Outra característica marcante são os seus belos jardins, também remanescentes da época de  esplendor. O mais conhecido é o  parque de Villa Angiolina,  uma mansão construída em 1844  por um rico comerciante local que deu início ao resort. Hoje o casarão sedia o Museu do Turismo, que apresenta algumas fotos e cartões postais da época. Junto à Villa temos uma mostra de como a cidade cultiva o seu apreço pelo passado glorioso, com um muro contendo uma dezena de rostos pintados de personalidades famosas do último século que frequentaram o balneário.

           Aliás, este culto ao passado está representado até no hotel onde nos hospedamos, o Mozart. As chaves ainda são as tradicionais, bem pesadas, que são enfiadas na fechadura; a mobília do quarto remete a décadas atrás; e o único elevador do hotel é pequeno e extremamente lento. Só faltou mesmo ainda ter  porta pantográfica.

Os jardins e a mansão da Villa Angiolina

     Voltando ao almoço tive a primeira decepção em terras croatas. Como estava com problemas  digestivos, pedi um seguro filé de frango com purê de batatas. Não é que o garçom entendeu errado e me trouxe uma ultragordurosa batata rösti? Com pesar enorme no coração tive que devolver o prato, xingando em pensamento o garçom por ter me submetido àquela tentação.

Trecho do muro das celebridades visitantes, com os retratos de Albert Einstein, Isadora Duncan e Gustav Mahler

      Após a confusão na refeição, saí a andar num percurso de dois quilômetros pelo Lungomare, a promenade de pedestres que acompanha a orla do Adriático. O caminho é muito agradável e bonito, passando por alguns hotéis e praias de pedra (o ponto fraco da cidade, que carece de praias decentes) e serpenteando por várias enseadas pequenas.       

Caminhando pelo Lungomare. Ao fundo um dos hotéis de Opatija e sua praia privada

       Meu passeio pelo Lungomare terminou na pitoresca vila de Volosko, que me lembrou os vilarejos da italiana Cinque Terre pelas casas simples debruçadas no pequeno porto com barquinhos de pesca. Um clima bem mais descontraído, completamente diferente da vizinha Opatija, com alguns barezinhos convidativos no porto para se bebericar e saborear frutos do mar. Por sinal, a gastronomia de Volosko é famosa na Croácia. Vale a pena subir algumas das ruelas que saem da orla e caminhar sem rumo, antes de tomar o caminho de volta para Opatija. Voltei a pé pela rua principal, num percurso mais rápido mas bem menos panorâmico.

A simpática vila de Volosko, famoso point gastronômico da costa

          A seguir, vamos rumar para Zadar, já na Dalmácia, a região com as maiores atrações turísticas litorâneas da Croácia.

* Este é o quarto post da série sobre os países da extinta Iugoslávia. Para visualizar os demais, acesse  Atravessando os Bálcãs: Croácia, Eslovênia e Bósnia.


  Postado por  Marcelo Schor  em 03.08.2013  



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