Madeira - lado ocidental
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Madeira - lado ocidental


Câmara de Lobos

           Após desbravarmos o centro e o leste da Madeira no post anterior, nos voltamos agora para sua região ocidental. Esta área mantém ainda um aspecto interiorano, onde as coisas acontecem mais devagar. 

           O passeio de dia inteiro começa com Câmara de Lobos, uma cidade litorânea no sul da ilha, a dez quilômetros do Funchal, cuja denominação evoca  os lobos marinhos existentes à época do descobrimento. Sua economia é baseada na pesca, sobretudo de peixe-espada preto - não confundir com o homônimo brasileiro, que em Portugal é conhecido como espadarte, também muito apreciado na Madeira. Câmara tem um ar um pouco decadente, com os barcos de pesca  pintados em azul ou vermelho espalhados pelas pedras, uma paisagem que em nada se modificou desde que Churchill (ele mesmo, o ex-primeiro-ministro inglês) a imortalizou em quadros pintados em 1950.

           Este vínculo da ilha com os ingleses remonta até séculos atrás, tendo se iniciado em 1662 quando o rei britânico Carlos II desposou uma princesa portuguesa e o dote previa favores especiais aos ingleses que se estabelecessem na Madeira. Os ilhéus ingleses se dedicaram ao comércio do vinho, o único que podia ser exportado diretamente para a América sem passar pela Inglaterra. Obviamente, o lucro foi imenso e os ingleses formaram a elite da ilha, construindo maravilhosas quintas que hoje são atração turística, como a Quinta do Palheiro Ferreiro e o atual Jardim Botânico, abordados em um post passado. Hoje, muitos aposentados ingleses escolhem a ilha para moradia, estando totalmente integrados aos nativos. Os britânicos são também os maiores visitantes estrangeiros , vindos em voos diretos de Londres.

          Deixando Câmara, em seguida ascendemos ao topo do Cabo Girão, um mirante sobre um dos maiores precipícios à beira mar de toda a Europa, com seiscentos metros de queda livre. A vista é realmente interessante, alcançando quilômetros de costa em ambas as direções.


A pitoresca vila de São Vicente

           Após passarmos por algumas vilas ainda na costa sul, deixamos o litoral. Subindo a serra, chegamos a um estranho e escondido planalto a 1.500 metros de altitude, encravado entre as montanhas. O Paul da Serra é repleto de campos e pastagens, em total contraste com a paisagem montanhosa  e florestal do restante da ilha. Não se vê nenhuma vila no caminho da longa área plana. O bonito planalto é o maior reservatório de água da Madeira, sendo um ponto focal para caminhadas. A que parte de Rabaçal é muito popular.

          Alcançamos então São Vicente, já na costa norte, pacata cidade litorânea encravada´num cânion rochoso. A cidadezinha encanta pelas pitorescas casinhas brancas e ruas com calçamento antigo. Um pouco afastada junto ao mar se encontra a curiosa capela de São Vicente, cavada em um rochedo enorme perdido na praia. Uma outra capela, da Igreja de Fátima, chama a atenção por estar plantada no alto da montanha que abraça o vale. Sua torre com um relógio enorme é visível a grande distância a partir da cidade.

           Perto de São Vicente, a vila de Seixal se situa numa colina que avança sobre o mar. Nestas encostas junto à cidade, a uva Sercial, que origina o vinho mais seco da Madeira, é cultivada em terraços.
   
A sinuosa costa noroeste , entre São Vicente e Porto Moniz

         Após serpentear por uma estrada  antiga de mão única com  trechos estreitos e sinuosos hoje só usados para turismo, chegamos ao extremo noroeste da ilha: Porto Moniz, um  balneário madeirense famoso pelos seus recifes pontiagudos com piscinas naturais compostas por rocha vulcânica à sua frente. Porto Moniz, na extremidade noroeste da Madeira, é conhecida ainda pela alta variação das marés (este fenômeno também acontece em Tenerife, nas Canárias, objeto de uma futura série de posts). Quando lá chegamos, as piscinas estavam submersas, em um dos picos das marés.

         Porto Moniz é ainda sede do Aquário da Madeira, que conta com onze tanques com espécies  marinhas, e do Centro de Ciência Viva, com exposições sobre a natureza e ciências, dedicadas às crianças. O balneário é uma opção ótima para almoço, com  restaurantes excelentes que oferecem comidas típicas variadas, como o cozido, o peixe-espada e o simpático bitoque,  prato português constituído de bife, ovo estrelado, fritas e arroz.
   

A maré alta cobrindo as piscinas naturais em Porto Moniz, deixando pouco espaço para as banhistas

          Ao longo das incursões ao interior, nos deparamos frequentemente com canais estreitos com até 50 cm de largura. São as famosas levadas, uma rede de mais de 2.000 quilômetros de canais que varam toda a ilha e foram construídos ao longo dos séculos para irrigação das lavouras, trazendo água das montanhas do norte para as terras férteis do sul. Os caminhos então abertos ladeando as levadas para sua manutenção periódica hoje servem também como trilhas para os andarilhos se aventurarem pelo interior, sendo esta uma das razões de a Madeira ser considerada um dos  destinos principais para europeus amantes de caminhadas. Há agências especializadas que oferecem roteiros para todos os graus de dificuldade.  

          Espero que tenham apreciado esta série de relatos sobre a Madeira, um dos meus destinos favoritos. Como arremate, deixo a foto abaixo, tirada em uma exposição de carros montada em tendas na calçada da avenida principal do Funchal. Sua maior atração era o Ford Modelo T, o carro mais vendido do início do século passado, e como o povo da Madeira, simples, confiável e resistente às intempéries, sendo objeto de nostalgia dos bons tempos de antigamente...

Ford modelo T exposto na Avenida Arriaga
  
* Este é o último de uma série de cinco posts sobre Madeira, Portugal. Para visualizar a série, acesse: Ilha da Madeira, muito além da produção de vinhos.



  Postado por  Marcelo Schor  em 01.04.2012  



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