Estônia, báltica ou nórdica?
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Estônia, báltica ou nórdica?


A marina de Pirita, sede náutica das Olimpíadas de 1980

       A pequena Estônia, último dos países bálticos do meu roteiro, impressiona pelo seu dinamismo. No aspecto físico, não possui grandes diferenças em relação à Letônia ou Lituânia. Menor que suas vizinhas, tendo somente 45.000 km² de superfície mas com uma costa extensa repleta de ilhas no Mar Báltico e no Golfo da Finlândia, a Estônia ocupa uma planície com florestas e pântanos. Sua densidade populacional é baixa, com apenas 1.300.000 habitantes. Apesar de a Igreja Luterana ser a religião com maior número de fiéis, a maioria da população se declara sem religião. Os esportes nacionais são o basquete e o futebol. Poucos se lembram, mas a Estônia já foi sede de competições olímpicas. As regatas das Olimpíadas de Moscou em 1980 aconteceram em Pirita, um distrito de Tallinn à beira-mar.

      Conhecida na última década como "Tigre Báltico" pela rápida expansão de sua economia após a independência em 1991, a Estônia não experimentou o êxodo de trabalhadores que assola os demais países bálticos. Famoso pelo desenvolvimento de tecnologia de informação, o país foi um dos primeiros a votar pela internet em eleições parlamentares e  sua capital Tallinn é coberta por wi-fi há vários anos. A Estônia foi notícia internacional em 2007, quando era o país europeu que mais usava internet, vítima de um mega-ataque de hackers russos que tirou do ar vários sites governamentais, bancários e de infraestrutura.  Os hackers invadiram a rede em protesto pela remoção de uma estátua erigida pelos soviéticos do centro para a periferia de Tallinn (pode-se imaginar a confusão criada quando se sabe que 40% da população de Tallinn tem origem russa). Como consequência, em 2008 um núcleo contra terrorismo cibernético foi estabelecido pela OTAN em Tallinn .
 

Casa das Cabeças Negras (à direita) e Embaixada da Suécia na rua Pikk, na cidade antiga de Tallinn

     Uma vasta parcela dos estonianos se considera nórdica, relegando o aspecto báltico a uma mera localização geográfica e à história em comum nos últimos séculos com os outros dois países. Esta linha de pensamento se baseia em alguns pontos. Primeiro, a pouca distância da Finlândia (os estonianos inclusive compartilham a idolatria pela sauna). Segundo, o idioma estoniano, que é similar ao finlandês, sem nenhum parentesco com o letão e o lituano. E terceiro, a influência na cultura causada pelo domínio escandinavo por vários séculos.

       O norte do país era uma possessão dinamarquesa no século XIII. No século seguinte, a área foi vendida à Ordem de Livônia e várias cidades se tornaram membros da poderosa Liga Hanseática, com grande desenvolvimento. No século XVII, após o término da Guerra da Livônia, a Estônia passou ao domínio sueco, um período de tranquilidade e prosperidade. Em 1710, como resultado da Grande Guerra do Norte, foi conquistada pela Rússia. E assim permaneceu até o breve período de independência entre 1920 e 1940. Após cinco décadas de dominação soviética, a Estônia é novamente um país livre desde 1991.

            A Estônia vem recebendo maciços investimentos dos países nórdicos, liderados pela Suécia. O atual primeiro ministro Thomas Ilves nasceu em Estocolmo, filho de refugiados estonianos, e já proferiu um discurso intitulado  "A Estônia como país nórdico". Houve inclusive propostas para modificar a bandeira estoniana, se colocando a cruz presente em todas as bandeiras nórdicas.

Anfiteatro onde acontecem os Festivais da Canção, em Tallinn

         Em um ponto a Estônia é bem báltica: a paixão pela música. Os estonianos cantam tanto em situações de alegria quanto de tristeza e festivais da canção existem desde 1869. Há festivais locais, nacionais e os Festivais Bálticos do Canto, que acontecem nas três capitais bálticas em épocas distintas.  Os festivais são um acontecimento muito aguardado, quando as pessoas se juntam para ouvir coros entoarem canções folclóricas e ver as danças típicas efetuadas com vestimentas coloridas.  Em Tallinn, ocorrem no anfiteatro construído para este fim no nordeste da cidade, num parque perto do mar. Aqui aconteceram os Festivais Bálticos do Canto de 1988 e 1990, que  fizeram história como campeões de presença de público - no de 1990 300.000 pessoas se uniram pelo canto para reivindicar a independência, que finalmente aconteceu no ano seguinte. Não foi à toa que o movimento pela independência nos três países passou à história com o nome de "Revolução do Canto". Existem ainda outros festivais musicais em Tallinn ao longo do ano, como o Festival Internacional de Jazz em abril e o Festival Medieval em junho, quando trovadores e menestréis se apresentam em trajes de época.  
         
A rua principal do balneário estoniano de Pärnu num dia gélido e chuvoso

       Introduzida a Estônia, devo confessar que nossa entrada no país não foi nada agradável:  muito frio e chuva, que apertou assim que saímos do Parque de Gauja, ainda na Letônia, assunto do último post. Logo chegamos a Pärnu para almoçarmos. Pärnu é conhecida como o maior balneário da Estônia, à beira do Mar Báltico. Possuindo vários spas com banhos de lama do mar, nos meses de verão sua praia fica lotada. Claro que não pudemos ver nada disso devido ao tempo inclemente, e nos limitamos a passear pela pitoresca rua principal do centro, Rüütli, ladeada por bonitas casas do século XVII. Para combinar com o clima gélido, aqui ocorreu a pior refeição dos dias de excursão, quando fomos recepcionados num restaurante de balcão  por uma mulher de cara fechada com nítida má vontade para servir.

O Palácio Kadriorg - fonte: Wikipedia

      A má impressão inicial da Estônia se dissipou ao longo dos dois dias seguintes, com o tempo melhorando progressivamente à medida que fomos tomando contato com as belezas de Tallinn. Apesar de ser a menor das capitais bálticas, com 418.000 habitantes, foi a que me pareceu mais desenvolvida. A mais antiga das capitais do norte da Europa possui  uma magnífica cidade medieval muito bem preservada, com muros remanescentes do século XIV com quase dois quilômetros de extensão. É a única das capitais que também possui atrações interessantes fora do perímetro do centro, como os já mencionados Pirita, ótimo local para uma caminhada à beira-mar, e o Anfiteatro das Canções Bálticas. Perto do anfiteatro se encontra o Parque Kadriorg, uma grande área verde cuja principal atração é o Palácio Kadriorg, construído em 1736 a mando do czar Pedro, o Grande como residência de veraneio de sua esposa Catarina I, após a conquista da Estônia pela Rússia (Kadriorg significa em estoniano "Vale de Catarina"). Além das salas, o Palácio barroco sedia um museu com pinturas italianas, holandesas e russas dos séculos XVI ao XIX. No parque se situa ainda um outro palácio, a residência do Presidente da República, fechado a visitação. E junto ao parque encontramos o moderno prédio do museu de arte Kumu, o maior museu báltico, com arte estoniana clássica e contemporânea. Ou seja, programas suficientes para todo um dia de estada!

Rua da parte alta de Tallinn, com a Igreja do Domo ao fundo

        O próximo post é inteiramente dedicado à cidade antiga de Tallinn, uma joia que impressiona até o mais viajado dos turistas.

Este é o nono de uma série de posts sobre Varsóvia e os Países Bálticos. Para visualizar os demais,  acesse Descobrindo os Países Bálticos.



  Postado por  Marcelo Schor  em 13.01.2013  




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