Cemitério de Praga e outras leituras
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Cemitério de Praga e outras leituras


Estava sem conseguir postar sobre os livros, mas realmente ando sem tempo para nada, nem para ler... Ainda por cima acabei escolhendo umas leituras mais complicadinhas, aí já viram, não dá para começar e terminar rapidinho, exige muita concentração!

Cemitério de Praga, de Umberto Eco

Enfim chegou na biblioteca! Eu tinha sugerido como nova aquisição, e não é que eles compraram???
Um livro muito complexo e que acredito que não é para qualquer leitor! Fica clara a erudição do escritor e o grande trabalho de pesquisa, para resgatar momentos que marcaram a história européia, envolvendo maçonaria, anti-semitismo e intrigas políticas, mas que provavelmente são desconhecidos para a maior parte dos brasileiros.
A história se passa no século XIX (da metade ao fim) em alguns pontos da Italia e em Paris, com uma passagem rápida por Munique, mas não chega em Praga (para quem esperava encontrar algo alem do cemitério dessa cidade)! 
Eu gostei muito das intrigas, dos fatos históricos, da descrição de Paris do século XIX (com as ruazinhas que frequento ainda hoje, como a rue de la Bûcherie, perto da Notre-Dame), o diálogo do personagem principal com o seu duplo... Mas confesso que o livro fica um pouco repetitivo e cansativo em muitos momentos. Contente e aliviada de ter chegado ao fim!

O Farol, de Virginia Woolf

Uma história simples: uma família e amigos em uma casa de praia na Escócia.
O tempo que passa, o retorno ao ponto de partida, mas nada mais é como era, nem será.
Mas o brilhantismo está na forma como Virgínia Woolf descreve os sentimentos e pensamentos dos personagens, ou seja na sua narrativa. Ela consegue esmiuçar e descrever com perfeição o processo de construção do pensamento. 

Acredito que quem busca ler as obras dessa autora será, assim como eu, muito mais pelo estilo da sua narrativa do que pela história.

A Insustentável Leveza do Ser, de Milan Kundera

Para mim ainda mais do que Virgínia Wool, Milan Kundera é capaz de descrever a complexidade do espírito humano. O estilo na narrativa é poético e belo. 
Já tinha lido há muitos anos, mas confesso que não me lembrava de todas essas subtilidades, e apenas hoje, mais madura e tendo adquirido outros conhecimentos , consegui captar toda a beleza do romance.
Desta vez o que mais me marcou (e o que mais apreciei) foram as reflexões históricas e filosóficas, tendo como pano de fundo a primavera de Praga. Além de fazer uma análise do comunismo, no final ele fala do capitalismo. 
Ainda consegui entrar mais profundamente na história, tendo conhecido um pouco Praga, Zurique, Genebra e Paris, cidades em que se passa praticamente toda a história. ele também faz uma breve mas fascinante descrição de Amsterdam. Outros momentos me marcaram, como quando os personagens vão embora de Praga e se instalam na Suiça. fala da identidade e identificação de acda um com seu país, e o que o mesmo significava para cada um. Não fui embora do Brasil por motivos políticos, mas me identifiquei com muitas passagens! Depois houve o retorno e a readaptação ao país invadido Outra passagem que me fez mesmo chorar foi quando o personagem, médico, neurocirurgião conceituado, torna-se lavador de vidros! Não desci tanto assim na escala social, simplesmente não trabalho mais como "psicóloga" (mas a identidade de psicóloga nunca perdi), mas a forma como ele vive essa nova condição é emocionante... Poderiamos imaginar que ele se tornaria o homem mais infeliz do mundo deixando de lado uma carreira que para ele era como se fosse uma missão, algo sem o qual ele não se imaginava antes. Mas não, não é nada disso o que acontece.
O leitor pode ficar em muitos momentos desestabilizado, pois o autor vem para quebrar com as nossas certezas. Ao mesmo tempo, não nos traz respostas (resta no questionamento).
Também apreciei a forma como ele conta a história, a partir do ponto de vista de cada um dos personagens (o mesmo momento é revisto, mas sob uma outra ótica). A visão política está lá nua e crua para quem quer ver (ou ler, assim como eu gosto), mas acima de tudo se trata do sentido da vida, ou seja, muito mais filosófico do que político, sem ser, é claro, uma obra de filosofia!
Quem ler somente procurando uma história provavelmente vai se decepcionar, pois pode acabar classificando alguns personagens em frívolos e perdidos nas suas reflexões. Para mim, eles são todos ambivalentes diante da existência. Em nenhum momento são julgados pelo narrador (alguns leitores provavelmente julgarão seus comportamentos). Humanos, enfim, como cada um de nós.

Um livro que ficará para sempre guardado no meu coração e que provavelmente relerei em alguns anos!

L'amour dans le sang, de Charlotte de Valandrey
Esse livro foi bem fácil de ler em relação ao estilo da narrativa e assimilação do conteúdo. Eu tenho lá as minhas manias de ler tudo que cai na minha mão e nem sabia de quem se tratava. Na verdade a escritora é um atriz francesa que foi descoberta aos 15 anos e recompensava no mesmo ano no Festival de Berlim pela sua participação no filme Rouge Baiser. Na evrdade o livro apareceu em 2005 e nessa autobiografia a atriz conta a sua vida a partir do seu ponto de vista e revela ao público que é portadora do vírus HIV desde seus 18 anos! Uma história (real, infelizmente) muito triste de alguém que para os meus conceitos poderia ter tido "tudo na vida", mas que fez as escolhas e atos errados e colocou tudo a perder! Inconseqüencia? provavelmente... Não dizem que todos os jovens são inconseqüentes e se consideram imortais? O livro me fez pensar mais ainda que somos frutos de nossas escolhas e atos, e que infelizmente não podemos voltar atrás em muitas das nossas decisões (ou não-decisões).
Vejo muitos pais que educam seus filhos em um total "laissez-faire" e que dizem que os mesmos devem quebrar a cara por si mesmos, que assim eles vão aprender, mas quando uma jovem de 18 anos, com talento, beleza e todo um futuro pela frenta descobre que é soropositiva, o que ela pode fazer? Claro, felizmente existem tratamentos que aumentaram a qualidade e o tempo de vida dos pacientes, mas não venham me dizer que é uma vida "normal" como a minha e a sua (viver com dezenas e dezenas e comprimidos por dia?)... Papéis que foram recusados pois a seguradora não queria assegurá-la, amores impossíveis pois, convenhamos, não deve ser fácil encontrar alguém que aceite correr o risco. Ainda por cima ela teve problemas cardíacos e aos 35 anos sofreu um transplante de coração. Ao final, sem carreira e sem dinheiro.
Não é fácil e não desejaria um desenrolar assim nem para o meu pior inimigo (se eu tivesse!). Mas reforçou a minha convicção de que as crianças precisam ser criadas com amor, sim, mas igualmente com limites.




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