As melhores vistas de Dubrovnik: do alto!
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As melhores vistas de Dubrovnik: do alto!


Dubrovnik  e a esplendorosa vista do alto do Monte Srd

         Dubrovnik é encantadora sob qualquer ângulo, mas sem dúvida as vistas mais impressionantes da chamada "Pérola do Adriático" são obtidas do alto, seja do topo do monte acessado por teleférico ou do caminho que existe sobre a muralha que envolve a cidade medieval, cuja altura chega a 25 m, equivalente a mais de oito andares.

         Para pegar o teleférico a partir da Placa, a rua principal, deve-se subir a rua Boskoviceva até o fim, onde passamos pelo Portão Norte sob a muralha. Após o portão, se sobe mais degraus até alcançarmos a estação do teleférico para o Monte Srđ (nome impronunciável para brasileiros, sem vogal e contendo uma letra inexistente no nosso alfabeto - soa algo como sârdj). Levei azar, pois quando cheguei à estação para comprar o ingresso de 94 kunas (€ 12,50) havia uma multidão de turistas orientais aguardando e tive que esperar  meia hora para embarcar. E a espera infeliz se repetiu na hora de descer... Mas a paisagem de tirar o fôlego a partir do morro de 412 metros de altura compensou a demora. O bondinho é bem rápido, a viagem dura só dois minutos. A cidade histórica aparece em toda a sua glória com destaque para os muros contrastando com o azul do mar  e as casas de padrão idêntico ao longo da Placa. Lá de cima dá para ver que a cidade é muito maior que o núcleo medieval, se esparramando por seis quilômetros pela costa do Adriático, incluindo a península de Lapad. Nesta península estão situados vários hotéis e algumas praias, dentre as quais uma com um nome bem conhecido: Copacabana.

A rua de acesso ao Portão Norte e ao teleférico. Repare nos varais expostos, uma herança italiana presente nas cidades da costa da Croácia

          Outras vistas fantásticas obtemos caminhando sobre a muralha que circunda o centro histórico, construída no século XII e reforçada no século XV, quando ganhou torres de vigilância estrategicamente situadas, das quais a mais vistosa é a Torre Minčeta. A espessura de sua parede reforça o propósito de defesa: vai de 1,5 metro nas paredes que dão para o mar até seis metros, para impedir eventuais invasões por terra.

        Há dois acessos, o mais prático sendo o junto ao Portão Pile, por onde subi. A entrada custou 90 kunas, e o passeio vale cada centavo (ou melhor, cada lipa, a subdivisão da kuna). Porém a volta completa de dois quilômetros exige preparo físico, porque a presença de degraus é constante no trajeto, além, é claro, da escada estreita de acesso. A muralha é um constante sobe-e-desce. O circuito é feito em mão única no sentido anti-horário, e você tem que guardar o ingresso até o fim da caminhada, porque há fiscais no meio do trajeto que o checam. Como existe outro acesso perto da Praça da Lógia, se pode fazer somente metade do circuito, mas recomendo fortemente efetuar a volta completa - o panorama é de cair o queixo e ninguém deveria deixar Dubrovnik sem percorrer as muralhas para ter uma visão global do núcleo histórico. Levei pouco mais de uma hora para completar o circuito, parando a todo instante para tirar fotografias e apreciar o visual. Em alguns pontos do percurso há pequenas lanchonetes para aplacar a fome ou a sede.

A Torre Minceta, a maior da muralha

         Uma característica que salta aos olhos quando se passeia pela muralha são as diferentes tonalidades de cor dos telhados do casario da cidade. E para explicar este fato, tenho que relatar um capítulo muito triste da história recente da Croácia: a guerra pela independência. Quando a Croácia se tornou independente em 1991, a Sérvia (onde fica a capital original da antiga Iugoslávia, Belgrado) não aceitou a separação, motivada inclusive pela presença de muitos sérvios em terras croatas, especialmente na região norte, a Eslavônia. A guerra durou quatro anos.  A partir do mar e das montanhas os sérvios e  montenegrinos  bombardearam Dubrovnik sem dó durante seis meses, mas a cidade resistiu bravamente até os croatas romperem o cerco em julho de 1992. O ataque sérvio foi surpreendente, uma vez que Dubrovnik fica geograficamente isolada e há muito perdeu sua importância estratégica.  Ser um dos primeiros Patrimônios  da Humanidade europeus também alimentava a ilusão de que seria poupada.

           Ao fim do conflito, a independência se concretizou e grande parte dos sérvios que moravam no país o abandonou ou foi expulsa da Croácia. A maioria das construções do centro histórico ficou muito danificada, incluindo os prédios mais famosos. A população da cidade, que antes da guerra era de 53.000 habitantes, minguou para os atuais 42.000. Foi feito um gigantesco esforço de reconstrução que custou  milhões de dólares com ajuda externa, inclusive da Unesco. Vieram peritos e foi empregado quando possível o mesmo material da construção. O resultado é que a tragédia hoje passa praticamente imperceptível quando se passeia pelas ruas, exceto pelos cartazes que aludem aos bombardeios. 

Cartaz expondo os telhados atingidos na cidade em preto e os prédios incendiados em vermelho. 

          No pátio interior do Portão Pile há um destes cartazes com conteúdo assombroso que mostra o efeito dos ataques, apontando cada casa em Dubrovnik  bombardeada durante a guerra. A cor vermelha indica os incêndios decorrentes. Dois terços das casas do centro histórico foram atingidas pelos 2.000 projéteis lançados. Ao se vislumbrar o panorama da cidade, os telhados reconstruídos apresentam hoje uma cor mais vívida, em contraste com aqueles que escaparam dos projéteis, cuja coloração esmaeceu ao longo dos séculos. Na rua Od Puča uma destas casas incendiadas na época tem expostos em sua fachada fotos e textos explicando o bombardeio e mostrando as labaredas consumindo o imóvel diante do desespero do dono.

       Voltando ao passeio sobre a muralha, seguem fotos registradas ao longo do circuito, em ordem de percurso, com um comentário alusivo. Para detalhes de cada prédio histórico, acesse aqui o último post publicado no blog.








       Não poderia encerrar o post sem deixar de falar na gastronomia de Dubrovnik. As ruas do centro histórico estão repletas de bons restaurantes nas ruas paralelas e transversais à Placa, que oferecem em mesas ao ar livre a especialidade da região, os peixes, regados a azeite de oliva, como manda a tradição mediterrânea. Dubrovnik é particularmente famosa pelas suas ostras, cultivadas na cidade próxima de Ston. Caso você não seja fã de frutos do mar, há uma boa variedade de especialidades, incluindo muitos restaurantes italianos. 

Um cenário para abrir o apetite no jantar: a Praça da Lógia iluminada, com as andorinhas que sobrevoam Dubrovnik ao entardecer.

        No próximo post, deixamos a Dalmácia e adentramos um país bonito e complexo, que tenta curar as feridas profundas deixadas pela guerra - a Bósnia.

* Este é o décimo segundo post da série sobre países da extinta Iugoslávia. Para visualizar os demais, acesse Atravessando os Bálcãs: Croácia, Eslovênia e Bósnia




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