Açores, um paraíso perdido no Atlântico


          Vários amigos meus têm me perguntado como fui parar nos Açores. Afinal, estas ilhas são pouco conhecidas dos brasileiros, e a maioria só sabe que pertencem a Portugal e que, em alguma época da história, milhares de açorianos emigraram rumo ao sul do Brasil.

          Tudo começou durante a minha visita à Ilha da Madeira em 2010, objeto de uma série de posts publicados neste blog. Durante a excursão ao interior da ilha , conversando com uma turista portuguesa, ela me falou sobre sua viagem recente aos Açores, e como considerava o arquipélago ainda mais interessante que a Madeira. Isto atiçou minha curiosidade e prometi comprovar se a afirmação era verdadeira.

          Dito e feito em maio último, voltei encantado. Fui surpreendido por paisagens maravilhosas, com muito verde, lagos e vulcões em profusão, além de cultura e história peculiares. Um aviso: se o seu negócio é agitação noturna ou praias paradisíacas, escolha outro destino. Ainda intocadas pelos efeitos do turismo em massa, as ilhas são bastante pacatas e os açorianos vivem num compasso diferente, fazendo tudo com calma, sem estresse. O ideal é apreciar os pequenos detalhes que se apresentam, como a ausência de semáforos e de poluição visual nas cidades, os carros parando nas estradas para a boiada passar rumo ao pasto ou  a visão de golfinhos e baleias nadando calmamente nos mares. Ao longo dos dias também me deparei com algumas surpresas, como plantações de abacaxi em estufa e pratos cozinhados somente com o calor da terra fumegante. Outro aspecto interessante são as diferenças existentes entre uma ilha e outra, cada uma com algumas características próprias. Duas outras coisas também variam: o sotaque como é falado o português e o queijo local de cada ilha, sempre delicioso.

         Os Açores são um arquipélago situado no meio do Atlântico Norte, com latitude equivalente à de Portugal. Estão a 1.600 quilômetros de Lisboa e a 2.300 quilômetros da Terra Nova, ponta oriental do Canadá. São considerados o ponto extremo ocidental da Europa, chamados pela nomenclatura da Comunidade Europeia de “região ultraperiférica”, com população de 247.000 habitantes. O conjunto de nove ilhas constitui uma região autônoma em Portugal, da mesma forma que a Madeira. Portanto, os Açores têm autonomia total em suas decisões, exceto em alguns poucos assuntos, como impostos e relações exteriores. Possuem um presidente, que despacha em Ponta Delgada, e um Parlamento, com sede em Horta. Já o Poder Judiciário se concentra em Angra do Heroísmo. Temos então um interessante sistema de governo onde as sedes dos três poderes estão espalhadas por três ilhas do arquipélago.

          Descobertos em 1427 pelos portugueses, os Açores também foram colonizados em algumas ilhas por flamengos e franceses. Sua economia atual é baseada na agropecuária e pesca, com o turismo ainda incipiente – as pessoas com os quais conversei culpam pelo baixo fluxo turistico a crise econômica e o alto preço das passagens aéreas, a cargo da TAP e da Sata, a companhia açoriana. Antes de importância fundamental para o comércio e transporte intercontinental devido à sua localização, os Açores viram esta importância minguar na última metade do século passado. Ao longo dos séculos vêm sofrendo uma emigração constante, seja pela falta de perspectivas econômicas, seja pelos desastres naturais como as erupções vulcânicas. Desde a entrada na Comunidade Europeia, este êxodo foi relativamente sustado; hoje algumas ilhas apontam crescimento da população, enquanto noutras o decréscimo continua. De qualquer forma, a população encolheu 24% quando comparada à de 1960.



Casas de pedra vulcânica na Ilha do Pico

          Seu nome advém de um erro dos descobridores – ao avistarem uma ave de rapina comum nas ilhas, o milhafre, o confundiram com uma ave europeia, o açor. O erro  foi devidamente perpetuado na denominação do arquipélago e também na sua bandeira, onde aparece um açor em voo sob nove estrelas representando as ilhas.

           Os Açores contam com temperaturas privilegiadas, variando de médias de 13 °C  no inverno a  25    °C no verão, porém com bastante umidade. A pouca amplitude térmica é efeito da Corrente do Golfo. Para compensar, a localização sobre falhas tectônicas acarreta muitas ocorrências de terremotos e erupções vulcânicas. O tempo durante o dia pode variar bastante; durante toda a minha estadia, não houve um dia sequer em que o sol não se alternasse com chuva algumas vezes ao dia. O guarda-chuva ou a capa impermeável é um acessório indispensável.
    

No decorrer da série  mostrarei este lugar fascinante, falando sobre as três ilhas que visitei – Faial, Pico e São Miguel – durante a estadia de uma semana.

Posts já publicados na série sobre os Açores:

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