A ilha açoriana do Faial e a erupção de Capelinhos
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A ilha açoriana do Faial e a erupção de Capelinhos



O Vale dos Flamengos, origem da colonização no Faial
          A ilha do Faial foi a minha primeira parada nos Açores.  Como o arquipélago está situado bem no meio do Atlântico Norte, as distâncias a Portugal são bem maiores do que imaginamos. Horta, a  capital  do Faial,  fica a duas horas e meia de voo de Lisboa. Os roteiros tradicionais visitam primeiro Ponta Delgada, a cidade mais importante e principal destino turístico dos Açores, mas preferi inverter o roteiro devido ao  tempo excessivo de conexão pela TAP no aeroporto de Lisboa caso me dirigisse a Ponta Delgada. Desta forma, aterrissei primeiro em Horta para uma estadia de três dias, os quais dediquei a conhecer a própria ilha de Faial e a ilha fronteira, Pico.
   
Horta vista do Mirante da Espalamaca
           Faial é uma ilha pequena, tendo meros 173 km² de área, mas com uma diversidade de paisagens muito interessante, com formações de origem vulcânica cercadas por pastos. É conhecida como “a ilha azul” devido às hortênsias que tomam conta da ilha nos meses de julho e agosto, época do verão e de alta temporada. Cada uma das nove ilhas açorianas é conhecida por uma cor diferente, obra do poeta português Raul Brandão, que as visitou na década de 20 e cunhou os apelidos coloridos.

As encostas verdejantes com a Ilha do Pico do outro lado do canal

          Esta ilha dos Açores centrais difere das demais pela colonização original flamenga. Sua ocupação teve início em 1468, quando uma expedição oriunda  de Flandres se estabeleceu em um vale verdejante hoje chamado de Vale dos Flamengos, com o apoio da coroa portuguesa. No final do século, a população flamenga chegou a alcançar 1.500 pessoas, deixando uma considerável influência na cultura insular.

          Com população atual de 15.000 habitantes, Faial  possui um único município, Horta, sendo as demais vilas de tamanho reduzido. Fora da capital, a atividade econômica é essencialmente rural, centrada na pecuária leiteira.

Os vulcões em alinhamento
          A história recente do Faial foi marcada pela erupção do vulcão de Capelinhos em 1957, no extremo oeste da ilha. A erupção durou treze meses e começou submarina com o mar fervendo perto da costa, após uma série de sismos. Uma nova ilha se formou no oceano e com o enorme volume de cinzas jorrado, logo se uniu à terra.  Não houve vítimas fatais à época devido à evacuação completa, mas a lava e as cinzas do vulcão soterraram uma vasta extensão de terra, encobrindo vilas. A superfície da ilha aumentou em mais de dois km² junto ao mar. A população ficou tão traumatizada e desolada com a destruição que emigrou em massa nos anos seguintes, aproveitando um acordo entre Portugal e Estados Unidos costurado pelo então senador John Kennedy - Massachussetts possui uma população considerável de origem portuguesa; existe inclusive um monumento em sua homenagem na estrada para Capelinhos. O êxodo maciço causou uma diminuição de 25% no seu número de habitantes, ainda não recuperado até hoje.

          Para percorrer as paisagens incrivelmente cênicas da ilha, embarquei em uma excursão de meio dia  pela Horta Cetáceos, mais conhecida pelos passeios de barco para avistamento de baleias. Existem também opções de dia inteiro. Achei a excursão excelente e recomendo. 
Ao longo de cinco horas, conhecemos lugares como:
  • o mirante da Espalamaca, morro onde existem vários moinhos de vento e de onde se tem uma vista abrangente de Horta.
  •  o Jardim Botânico, no vale dos Flamengos, dividido em partes correspondentes às diversas altitudes da ilha e que é um  instrumento importante na preservação e estudo das espécies endêmicas açorianas. A explanação da responsável que nos atendeu foi bastante curiosa, qualificando a hortênsia como  “planta invasora”, por não ser nativa dos Açores. A mais inesperada atração do Jardim é o modelo em relevo da ilha (semelhante ao que conheci na Prefeitura de Reykjavik, na Islândia – acesse o post e compare), que permite ver claramente como os vulcões perfeitamente alinhados dominam o relevo do Faial.
  • O modelo em relevo da ilha - na extremidade inferior, a ponta e vulcão dos Capelinhos e no centro, a grande cratera é a Caldeira
  • a Caldeira, uma enorme cratera de vulcão dormente no centro da ilha, acessada por um túnel curto que atravessa a rocha. Com ponto culminante a 1043 metros de altitude, tem um diâmetro de quase dois quilômetros. A vegetação e as lagoas no fundo da cratera, quatrocentos metros abaixo, encimadas por um fog característico em meio a um frio congelante, tornaram a visão bela e surpreendente, pois eu esperava vislumbrar uma cratera vulcânica tradicional, sem resquício de vegetação.
O reconstruído Farol dos Capelinhos em fim de tarde


         Um caso à parte são as inúmeras vacas, principal fonte de sustento da região e em muito maior quantidade que gente na ilha.  Pode-se observar ao longo do caminho a ordenha mecânica efetuada junto à estrada duas vezes ao dia, ao amanhecer e à tardinha. Todo o leite obtido é encaminhado a uma central de controle, onde é testado quanto à pureza antes de ser distribuído. Ao longo do caminho, além das boiadas sendo conduzidas pela estrada de terra, chamou a atenção nas pontes a presença de barras de ferro horizontais espaçadas sobre vãos, colocadas para impedir a passagem das vacas pela ponte, mantendo-as em terreno delimitado.

O Vulcão dos Capelinhos e as cinzas jorradas há mais de cinquenta anos que soterrou casas e estendeu a ilha

Outro aspecto da área da erupção dos Capelinhos

          No próximo post, exploraremos a capital do Faial, a encantadora cidade de Horta.

* Este é o segundo da série de sete posts sobre os Açores, Portugal. Para visualizar os demais acesse: Açores, um paraíso perdido no Atlântico.



  Postado por  Marcelo Schor  em 21.07.2012  



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