Parece que até o clima está a contribuir para a crise económica do país. A rara chuva e o frio, dos meses anteriores, nada têm ajudado a agricultura nacional e o comércio local.
Aproveitamos o primeiro Domingo do mês de Fevereiro, mais um dia cheio de frio e sol, para passearmos no sotavento algarvio, mais concretamente perto de Olhão e visitar o Parque Natural da Ria Formosa. Já passaram duas décadas desde que visitei pela primeira vez este parque e agora, contrariamente ao passado, só me veio uma palavra à cabeça depois de lá ter estado meia hora: "decepcionante".
Decepcionante? Continuem a ler e vejam porquê.
Este parque criado pelo Decreto Lei nº 373/87 de 9 de Dezembro (posteriormente regulamentado em 1991) estende-se ao longo de 60 km da costa entre o Ancão e a Manta Rota (uma das minhas praias favoritas), ocupando mais de 18.000 hectares distribuídos por cinco concelhos (Loulé, Faro, Olhão, Tavira e Vila Real de Stº António).
A maior parte desta área compreende as várias ilhas e penínsulas arenosas, paralelas à costa, formando assim um sistema lagunar onde se desenvolvem vários canais, sapais e pequenas ilhotas. Estas características geográficas naturais são muito importantes na biodiversidade da fauna, em particular a aquática, com elevado interesse como zona húmida e internacional.
Com efeito, este local constitui zona invernal de espécies de aves vindas do norte e centro da Europa (exemplos: piadeira, pato trombeteiro, marrequinho comum, zarro comum, pilrito comum, fuselo, maçarico real, tarambola cinzenta); zona de passagem das migrações de aves entre o norte da Europa e África; abriga espécies raras como a galinha sultana (também designada como caimão comum: Porphyrio porphyrio, é o símbolo deste parque), confirmada como a única zona de reprodução desta espécie no país.
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Na entrada do Parque |
Além disso, a área tem grande interesse botânico especialmente devido à vegetação das zonas das dunas, juncais e sapal.
Funciona ainda como viveiro de espécies piscatórias com valor comercial, como a dourada, robalo, sargo e o camarão de Quarteira e importante produção de moluscos bivalves (como ameijoa).
Mas decepcionante, porquê, perguntam agora vocês?
Apesar do ambiente natural (ou a maioria dele) continuar bonito, como há duas décadas atrás, nota-se algum desmazelo, e até abandono, nas poucas infra-estruturas (a começar pelas casas de banho), nas placas informativas "comidas pelo sol", na falta dos cães de água que aqui existiam (foram transferidos para outro local), na visita impossibilitada à Casa Museu João Lúcio (encerrado, pelo menos nesse dia) e na falta da visita dos turistas (apesar da entrada ser um preço simbólico) e residentes (e para eles a entrada é gratuita) que preferem passar os dias de folga nos centros comerciais ou nas lojas recém inauguradas de material desportivo (
desporto?).
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Antigo local de criação do cão de água |
Depois de termos passado pelo parque das merendas (bom local para repousar e almoçar), observamos parcialmente a Casa Museu João Lúcio, um chalé projetado pelo poeta Olhanense, desse nome, no início do século XX e que apresenta arquitetura simbolista.
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Parque das Merendas |
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Casa Museu João Lúcio |
Quase no final do passeio, vimos um raro moinho de maré. Trata-se de um engenho que trabalha devido ao diferencial do nível das águas entre a maré cheia e a baixa maré, que acciona as mós para assim triturar os cereais. O primeiro moinho deste tipo data de 1290 em Castro Marim, no estuário do Guadiana. A partir do século XVI, tornou-se comum a existência deste tipo de moinho, tendo a região da Ria Formosa chegado a ter três dezenas dos mesmos, até terem sido abandonados e destruídos ao serem trocados pela moagem mecânica. Este exemplar continua intacto ao ter sido recuperado nos anos 80 e agora num projecto de 2008.
Apesar da decepção inicial, valeu bem o passeio (e a observação de aves) neste belissimo cenário que é a Ria Formosa e depois o almoço no Restaurante Arménio, logo ao lado.
Boas entradas (bom marisco da costa), bom prato principal (feijoada de lingueirão) e boas sobremesas (semi-frio e cheesecake de morango) completaram o almoço, a um preço módico (8 € por pessoa, pelo almoço completo).
No restante mês, de viagens...nada...a não ser Lisboa por motivos profissionais e particulares (mas infelizmente sem resultados frutíferos).
E claro que não podia terminar este post sem deixar aqui uma foto das flores da minha árvore favorita (pelo menos nesta altura do ano e falada no mês de Janeiro, do ano passado).
Ah! E antes que me esqueça, o Dia dos Namorados foi passado num restaurante Indiano no Carvoeiro e a assistir a um episódio de uma das séries não recomendáveis para esse dia. post (esse já iniciado e a publicar oportunamente).
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