Se nos tivéssemos de definir como viajantes, provavelmente diríamos que somos viajantes que queremos ver o máximo possível nos países que visitamos. E essa vontade sobrepõe-se a tudo o resto. Por isso é que fazemos uma planificação rigorosa e detalhada dos locais que queremos visitar, quanto tempo vamos precisar, que transportes usar. Por isso é que, no terreno, por vezes corremos, dormimos pouco, nos esquecemos de comer... Tudo com o objectivo de rentabilizar o tempo que temos e não desperdiçar oportunidades. Claro que esta perspectiva tem os seus aspectos negativos, sendo que aquele que talvez mais se faça sentir será a sensação que deveríamos ter passado mais tempo em determinado lugar, em detrimento de ter seguido viagem, rumo a uma nova aventura.
Mas o acto de viajar, tal como tudo na vida, baseia-se em escolhas. E nós sabemos que, com um orçamento e tempo limitados, ficam sempre imensas coisas por ver. E esta viagem não foi excepção. Poderíamos fazê-la novamente, uma espécie de "Rota dos Maias, parte II", com os mesmos pontos de partida e de chegada e passando exactamente pelas mesmas regiões, mas sem repetir nenhum dos locais que visitamos! Uma grande viagem é, assim, como um copo com água, meio cheio, ou meio vazio, conforme o olhar com que o vemos.
Como viajantes, temos de saber lidar com o que vemos, mas também com aquilo que deixamos por ver. O truque parece ser o partir com a esperança que um dia voltaremos para satisfazer a curiosidade acerca de locais que ficaram por explorar. E, principalmente, deixar que aquilo que conseguimos ver, e o que aprendemos com eles, seja o mais importante da viagem.
E ao chegar ao fim de uma grande viagem, é inevitável olhar para trás e recordar um pouco aquilo que conseguimos fazer. E naquela última semana em Antigua, naquele ritmo frenético de querer visitar a cidade mas também todos os locais de interesse que a rodeiam, também já sentíamos um certo sentimento de nostalgia de uma viagem que chegava ao seu fim. Recordámos os inúmeros locais arqueológicos que visitámos em 4 países, de variadas civilizações pré-hispânicas. A enigmática e fascinante cultura das pessoas que descendem desses povos. As maravilhosas paisagens de selva e floresta tropical. Os paraísos tropicais do mar das Caraíbas. A exuberante vida animal.
Tudo isto nos fez acreditar que chegamos aqui com o sentimento de missão cumprida. E de sonhos concretizados... Visitar as ruínas da gloriosa civilização maia, subir a uma pirâmide e espreitar por cima da copa das árvores da floresta tropical, mergulhar nas águas cristalinas de recife e nadar com os seus habitantes, subir a vertente de um vulcão em actividade, são sonhos que tínhamos em conjunto e juntos os conseguimos transformar em realidade.
E consegui-lo juntos acrescenta muito à nossa viagem. Poder partilhar com a pessoa que amamos todas os locais e peripécias faz com que tudo valha muito mais a pena. Dizem que só se conhece realmente alguém quando se viaja com ela e não será por acaso que uma grande viagem é capaz de solidificar uma relação, ou destruí-la para sempre. Viajamos juntos, e continuaremos a fazê-lo, nos bons e nos maus quilómetros...
E quando, no último dia desta viagem, visitámos o vulcão Pacaya, sabíamos que íamos fechar com chave de ouro. Melhor seria difícil, para uma geomorfóloga e um entusiasta do mundo natural. Mais uma vez, foi a natureza a decidir o que iríamos ver. Há 2 anos, o vulcão tinha estado em intensa actividade, com rios de lava a correr pelas suas encostas, mas agora sabíamos que estava tudo mais calmo. Sabíamos que não íamos ver lava a brotar do subsolo, nem o laranja intenso das explosões contrastando com o negro do céu nocturno. Mas também sabíamos que mesmo assim o poder imenso da natureza nos iria deixar sem palavras.
O chão negro de lava, a completa ausência de vida naquelas encostas, o solo a fumegar debaixo dos nossos pés, um vale completamente soterrado de lava, uma cratera aberta e pronta a entrar em actividade a qualquer instante... Visitar o vulcão Pacaya foi mais uma daquelas experiências de que se pode escrever, das quais se podem mostrar fotos, mas de que nunca se poderá transmitir o que aquilo realmente é. Só estando lá, pisando aquela terra, é que se pode saber e sentir porque razão se viaja. E, no fundo, é por isso que partilhamos as nossas andanças por este mundo. Para que o leitor se inspire e decida fazê-lo por si, para que faça o seu próprio caminho e, um dia, mostre a outros o quão magnífico é este nosso planeta e as gentes que o habitam.
E, quando o nosso avião levantou voo do aeroporto de Guatemala City, regressávamos satisfeitos pois sabíamos que iríamos regressar a casa e junto daqueles que amamos, mas ao mesmo tempo nos perguntávamos: para onde a seguir? Desta vez, já sabiamos a resposta.
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