Dedicamos um dia da nossa estadia em Veneza à exploração da lagoa e algumas das suas ilhas. Tão importante na fixação de comunidades a partir do século V, como na dificuldade da sua manutenção, a natureza sempre mutável da terra e água nesta área acrescenta algo de misterioso ao seu valor geográfico e histórico. Algumas ilhas que foram habitadas já não existem, tragadas pela água, outras vivem um declínio contrastante com a sua glória passada, outras preservam ainda a tradição de séculos, mas uma selecção era inevitável. A nossa primeira paragem seria a ilha de Murano.
Murano fica a 15 minutos de Veneza, apanhando o
vaportetto 41 ou 42, de
Fondamente Nuove. Passamos pelo cemitério e rapidamente estávamos a desembarcar no cais de Murano. Esta ilha é um centro da indústria de produção de vidro desde 1291, ano em que para aqui foram transferidas as fornalhas e os artesãos, por questões de segurança. A partir daí, a ilha desenvolveu-se, a sua população ultrapassou os 30 000, com uma sociedade próspera, que chegou a cunhar a sua própria moeda. Nos séculos XV e XVI era o maior centro de produção de vidro da Europa.
Esses dias de glória estão agora no passado, lutando como todos os negócios, com a concorrência barata de produtos chineses, mas a ilha continua a ter uma indústria activa, que exporta grande parte da sua produção e que enche as inúmeras lojas locais com peças de todas as cores e feitios.
Percorremos as ruas junto dos canais principais, também sempre com olho nas lojas pois queríamos levar uma recordação desta ilha tão característica. Existem ainda alguns
palazzi dos tempos de maior exuberância, mas o que atrai os visitantes é sem dúvida a produção de vidro.
Passamos ao lado do Museu do Vidro (
Museo Vetrario), no
Palazzo Giustinian, com colecções de peças antigas e modernas, mas como não tínhamos muito tempo, já que tínhamos de seguir caminho para Burano e Torcello, decidimos não entrar.
Mais à frente, ao longo da
Fondamenta Giustinian, encontramos aquele que é, sem dúvida, o edifício mais belo da ilha, a
Basilica dei Santi Maria e Donato. Data do século XII, embora tenha sofrido restauro no século XIX, tem uma fachada colunada belíssima, junto ao Canal de
San Donato. Demos a volta junto ao canal e entramos depois na Basílica. No seu interior, o chão em mosaicos, com representações geométricas e de animais reais e lendários, capta a atenção. Também aqui se nota a contribuição da indústria do vidro para estas belas imagens.
Estava na altura de seguirmos viagem no
vaporetto, mas antes de irmos embora faltava algo que tínhamos procurado mas ainda não encontrado: um artesão a trabalhar o vidro. Em alguns sítios pediram-nos dinheiro apenas para assistir a uma demonstração, o que recusamos, mas mais à frente tivemos o privilégio de assistir a esta extraordinária técnica, vendo uma bela e colorida peça artística sendo construída a partir uma bola de vidro fundido. Fantástico! E ainda tivemos tempo de comprar a tal recordação…
Agora sim, estávamos preparados para seguir caminho. Venha o
vaporetto…
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