É tão fácil viajar na América do Sul. É isso que sinto quando me desloco de Buenos Aires para Mendoza numa viagem de autocarro que demora 15 horas. Parece contrasenso, no entanto é verdade. Viajar na Argentina é um prazer. A população é duma simpatia extrema. Sabe tão bem ver um sorriso rasgado e ouvir uma palavra de apreço. É maravilhoso poder contar com a ajuda dos homens argentinos para me auxiliarem com as mochilas que transporto, a forma como se preocupam com a imagem que levo do país e, acima de tudo, como curiosamente querem saber o que faço por cá. Desde o rapaz que divide comigo os lugares dianteiros do primeiro andar do autocarro, ao motorista dos autocarros locais, ao ancião que se senta ao meu lado no "colectivo". Todos, sem excepção, têm sido magníficos comigo e posso dizer que a Argentina é, com certeza, um dos países onde as pessoas melhor sabem receber.
Em Mendoza apanho um bus local que me leva ao hostel que escolhi. Chama-se Campo Base e fica no centro da cidade. Joana recebe-me de forma muito acolhedora. Dá-me para a mão a chave do meu quarto. Chama-se Mt. Vinson, o ponto mais alto da Antárctida. Sinto que estou no lugar certo. No quarto coloco as mochilas, arranjo as coisas e descanso. Lá fora, o calor aperta. Estão 34ºC e é um calor muito seco.
Ainda estamos na Primavera mas Mendoza é uma cidade no meio do deserto. É muito interessante como esta cidade se desenvolveu e cresceu. No meio duma das áreas mais áridas da Argentina, Mendoza recebe quantitativos pluviométricos muito baixos (praticamente nulos) em quase todos os meses do ano. No entanto, a proximidade dos Andes e dos glaciares de montanha permitiram criar um conjunto de canais que hoje abastecem a cidade em termos hídricos e irrigam os campos de vinha circundantes. Estou, portanto, num oásis artificial no deserto do norte argentino.
Uma visita às "bodegas" que rodeiam a cidade é incontornável. Foi isso que fiz na primeira tarde. Abracei a proposta que me fez Joana no hostel, e juntei-me a um grupo muito variado de pessoas que saíam para explorar a região vinícola. Na companhia de um casal colombiano, de uma jovem basca, três italianos, dois ingleses, duas dinamarquesas, dois brasileiros e um casal norte-americano, lá fui.
A região de Mendoza é sustentada em termos económicos pela vinicultura, olivicultura e fruticultura. Estas actividades económicas são fundamentais para o desenvolvimento desta região que até possui petróleo. As características dos solos, bastante pedregosos e áridos, um clima árido e quente e uma altitude que varia entre 800m e 1200m faz desta área a principal região vinícola do país. Maipú, o local que visitei, está repleto de vinhas e adegas. Aqui a vinha desenvolve-se a 800 m de altitude. Mas, mais a sul, no Vale de Uco, a vinha cresce a 1200 m. Com características distintas das de Maipú, toda a região produz o vinho Malbec, o ex-líbris de Mendoza.
A visita permitiu-me observar dois processos bem distintos da elaboração do vinho Malbec. Na primeira "bodega" que visitei, todo o trabalho é feito de forma industrial e a produção destina-se essencialmente ao mercado externo.
Chamava-se
Vistantes e trabalha desde 2004, tendo já tido algumas castas premiadas.
Outra das explorações vinícolas e, talvez a mais interessante, pertence à família Ceccyn. É uma "bodega" biológica em que não se utilizam quaisquer pesticidas, herbicidas, fungicidas ou adubos químicos.
Para controlar o ataque das pragas existem diferentes árvores de fruto e alguns animais que são introduzidos durante o processo de maturação da uva. Foi uma visita muito interessante, quer pelas explicações que foram dadas, quer pelas provas de vinho que ia fazendo.
Atenção... não vale beber de tudo, caso contrário sair-se-á aos "S" das bodegas! Ou... beba-se! Afinal, estamos em Mendoza, a capital vinícola do país.
A visita terminou com uma exploração artesanal de azeite, outra das culturas mais importantes de Mendoza.
No hostel aguardava-me um jantar grátis de "hamburguesas" na companhia do casal colombiano e uma excelente conversa durante "la cena".