Em passagem pelo Puerto de San Julian
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Em passagem pelo Puerto de San Julian


Apanho um autocarro em El Calafate às 3h da manhã. Está frio. O autocarro segue pela ruta 5 até chegar a Rio Gallegos. A noite parece interminável. Alcanço esta cidade do extremo sul da Patagónia argentina às 8.30h. Às 9h novo autocarro para atravessar a costa patagónica em direcção a Puerto de San Julian. Tento dormitar mas o rapaz do autocarro parece estar com vontade de conversar e sempre que tento fechar os olhos ele recomeça com um novo tema. Chego a Puerto de San Julian às 14h.

Mas o que venho eu fazer aqui? Não há turistas, não há hostels, não há tours... Estamos em maio e até o motorista pergunta-me duvidoso: "Vos vos quedais acá?"

"Si, yo me quedo acá". Venho a Puerto de San Julian com o objectivo de ver a réplica da nau Victória, a única nau da frota de Fernão Magalhães que cumpriu três longos anos em alto mar e circum-navegou a Terra. Puerto de San Julian situa-se na margem da baía homónima na costa Atlântica da Argentina. Esta baía, com 15km de comprimento e 5 de largura, abrigou a frota de Fernão Magalhães em 1520, durante os cinco meses em que aguardaram o final do inverno para poderem navegar o estreito. O clima ameno e as água calmas da baía foram determinantes para uma boa estada e foi aqui que se celebrou a primeira missa em território argentino. O local está assinalado com um monumento. Foi aqui que Magalhães contactou pela primeira vez com os habitantes locais. Pigafetta descreve assim o primeiro indígena: "un hombre de estatura gigantesca casi desnudo... Era tan alto aquel hombre, que le llegabamos a la cintura, siendo en lo demás muy proporcionado. Era ancho de cara, cuyo contorno estaba pintado de rojo, de amarillo el de los ojos, y en los carrillos dos manchas en forma de corazón. Su traje, muy elemental, estaba hecho de pieles cosidas; son de un animal que tiene cabeza y orejas de mula, cuello y cuerpo de camello, patas de ciervo y cola de caballo, y relincha como éste". Face às características deste povo, que se crê fossem Tehuelches, Pigafetta refere no seu diário: "Magallanes dio a esas gentes el nombre de Patagones", que segundo o mesmo tinham pés gigantescos. A convivência com a população indigêna foi pacífica durante os três meses que se seguiram. Os patagões não tinha hábitos guerreiros já que não tinham com quem lutar pela posse da terra. Ensinaram os marinheiros a pescar nos baixios, os locais onde haviam mais peixes, a caçar guanacos e onde encontrar água doce. A convivência pacífica chegaria ao fim no dia em que Fernão Magalhães decidiu capturar dois indivíduos Tehuelches para levá-los para Espanha. Aí iniciaram-se confrontos e, ao contrário do que Magalhães desejava, não conseguiu capturar um casal mas sim dois indíviduos do sexo masculino. Estes viriam a morrer na travessia do Pacífico.

Foi também aqui em Puerto de San Julian que Magalhães teve que lidar com o grande motim que se gerou por parte de alguns capitães e marinheiros espanhóis. Alguns, para servirem de exemplo, viriam a ser condenados à morte e executados numa ilha da baía. Hoje a ilha ostenta o nome de "isla de la justiza". A réplica da nau Victória em escala 1/1, abriga o museu que recria as condições de vida dentro da embarcação. Sinto-me completamente satisfeita com esta visita. Saio da nau e percorro as ruas desertas e sem asfalto da povoação a caminho do terminal de bus. Puerto de San Julian parece que parou no tempo. No terminal espero oito horas pelo próximo autocarro que saí às 2h da manhã e me levará a Comodoro de Rivadavia. Mais uma noite a dormir no autocarro. São 8.10h da manhã quando chego ao meu destino. O autocarro que me levaria a Sarmiento saíu às 8h. Vou ter que esperar mais 5 horas no terminal pelo autocarro das 13h que me levará numa viagem de mais três horas até ao Bosque Petrificado de Sarmiento.



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