Donostia / San Sebastián - dois nomes para uma cidade

          Imagine uma linda cidade banhada pelo Oceano Atlântico e por uma baía, imprensada entre o mar e a montanha, da qual se sobressaem dois morros: o primeiro com uma estátua de Cristo e o segundo encimado por um mirante com vista deslumbrante  e acessado por um bondinho. Detalhe adicional: o nome da cidade homenageia São Sebastião. Alguém pensou no Rio de Janeiro? Poderia ser, mas não é. Estamos falando da cidade basca de Donostia, conhecida no resto da Espanha e do mundo como San Sebastián. E por incrível que pareça, Donostia significa "São Sebastião" em basco, denominação vinda do latim domine acrescido de uma forma abreviada do nome do santo.



Praia de la Concha vista dos jardins do Palácio Miramar

          Há anos eu tinha curiosidade em conhecer o País Basco. Uma das regiões espanholas com diferenças culturais mais marcantes em relação a Madrid, o País Basco  me atraiu por uma certa aura de mistério, pois é uma das áreas menos conhecidas e divulgadas da Península Ibérica. Além disso, tem características peculiares, como o uso do idioma basco, uma língua que não se parece com nenhuma outra, e o fato de estar dividido entre França e Espanha. Frequentou durante décadas o noticiário, devido à ação terrorista do grupo ETA pelas cidades espanholas na busca pela sua independência. Hoje é uma Comunidade Autônoma na Espanha, com capital na cidade de Vitória.

          Voltando a Donostia (vou me referir sempre pelo nome nativo basco), é uma cidade extremamente agradável, conhecida como a "Pérola da Costa Cantábrica". Possui 185.000 habitantes e está situada na costa nordeste da Espanha, na província basca de Guipuzcoa, junto à fronteira com a França.

 

Marina de Donostia com o Monte Urgull e a estátua do Cristo ao fundo

            A cidade é sede de eventos internacionais que lhe concedem um glamour semelhante a Cannes ou à vizinha Biarritz, dos quais o mais conhecido é o Festival de Filmes de San Sebastián, que acontece todo mês de setembro. É ainda famosa pela sua gastronomia, com dezenas de sociedades gastronômicas, associações onde se preparam e se consomem elaboradas refeições, tradicionalmente só compostas por homens gourmets. Também se sobressai o pintxo, um petisco em versão semelhante à tapa madrilhena servido em bares, e sempre composto de um ingrediente como pimentão ou peixe entre pães unidos por um palito (que é o significado de pintxo em basco). Uma das diversões favoritas da juventude à noite é pular de bar em bar saboreando os pintxos.
   

A Praia de la Concha, com destaque para a Prefeitura no centro da foto

          O balneário é conhecido pela sua arquitetura belle-époque, presente especialmente nos edifícios que acompanham a orla da Praia da Concha. Passear pela promenade desta praia é uma volta no tempo, com suas cabines à beira-mar, terminando no  prédio clássico da Prefeitura, uma mansão na cor ocre com duas torres.

         Com um contraste muito bem-vindo, Donostia possui também edifícios com desenho arrojado, como o Kursaal. Este é o local onde acontecem as exibições  de filmes do Festival e é composto por dois gigantescos cubos à beira-mar. Sua localização não atrapalha o homogêneo conjunto urbanístico da cidade, pois o polêmico complexo está situado na foz do rio Urumea, após o Monte Urgull.

A Praça Constitución e suas sacadas

          Apesar de já haver menções a Donostia no século XII, os prédios da cidade histórica datam do século XIX. A razão foi um incêndio ocorrido em 1813 que devastou a cidade. A atração principal da área é a Plaza de la Constitución, com edificações históricas onde as altas arcadas e as sacadas chamam a atenção. A praça era o local onde aconteciam as touradas, e os nobres da época acompanhavam as evoluções de touros e toureiros nestas sacadas numeradas. Hoje os touros foram substituídos por mesinhas de bares. É nesta praça que se inicia a Tamborrada à meia-noite de cada dia 20 de janeiro (que como todo carioca sabe, é o dia de São Sebastião). Trata-se de uma marcha ao som de tambores, com as pessoas fantasiadas de soldados, representando as diversas sociedades gastronômicas. A cidade histórica fica tomada pelos tambores durante 24 horas.

Praia da Concha, com o Monte Igueldo à esquerda, a Ilha de Santa Clara ao centro e Monte Urgull à direita

           A edificação mais famosa da cidade é o Palácio Miramar, erigido sobre o rochedo que separa as praias da Concha e Ondarreta. Projetado em 1889 por um arquiteto inglês, logo passou a ser utilizado pela família real espanhola para veraneio. Atualmente pertence ao município e possui um amplo jardim com uma vista privilegiada para a baía e a cidade.



O Palácio Miramar

             Após a pequena Praia de Ondarreta se situa o Monte Igueldo, que pode ser acessado por carro ou por um funicular com estação no fim da praia. A vista do alto do monte é inigualável, com toda a Baía da Concha, assim denomeada pelo seu formato curvo, a Ilha de Santa Clara que divide sua entrada ao meio e a cidade em todo o seu esplendor. Ao entardecer, a visão adquire novos patamares de grandeza.

            A última característica marcante de Donostia é a expressiva diferença entre o nível das marés, causando uma alteração perceptível na paisagem. Além da Costa Cantábrica, este fenômeno também pode ser bem apreciado na Normandia, na França. Para exemplicar, vejam a diferença entre as duas fotos abaixo, tiradas em horas diferentes.

A maré alta em Ondarreta, com o Palácio Miramar à esquerda

A mesma área com maré baixa

       As andanças pelo País Basco continuam no post Vilas da costa basca e o Guggenheim em Bilbao