Dentista na Franca
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Dentista na Franca


Parece ser uma unanimidade, brasileiros reclamam muito dos dentistas franceses e de uma forma geral dos dentes dos franceses, que não seriam tão brancos ou tão bem cuidados quanto os dos brasileiros.

De um lado eu me "surpreendo" com esse tipo de comparação, pois sabemos que existe muita desigualdade no Brasil, e que dentista no Brasil ainda é um artigo de luxo. Nos bairros mais pobres, é muito comum encontrar pessoas sem dentes ou com dentes em péssimo estado.

Mas por outro lado eu "entendo" essa comparação, pois da classe média brasileira para cima, a busca pelos dentes perfeitos virou, no meu entendimento, uma obsessão.

Na Franca "de uma forma geral" os cuidados são mais com a saúde bucal e pensa-se um pouco menos no lado estético. Então ainda não é muito comum o clareamento e a maioria dos dentistas não propõe. Eles propõe os tratamentos que julgam necessários para a saúde.

As vezes a gente também vê francês com bom carro na garagem e casa legal, pensa que ele tem dinheiro mas não cuida dos dentes. Também conheço muitos casos assim no Brasil, mas na França a pessoa pode ter carro e moradia legal e nem por isso ter muito dinheiro nem um plano de saúde. Também raramente veremos um adulto usando aparelho, que ainda é visto com muito estranhamento se não for em crianças ou adolescentes, e o uso de aparelhos e muito mais pelo lado terapêutico que estético. Um exemplo é o ator francês Jean Dujardin, que ganhou o Escar em 2012 e que teria tentado carreira nos EUA, mas que segundo as mas linguas, não foi aceito em Hollywood pois seus dentes não seriam perfeitamente alinhados!

E como depoimento, eu posso dizer que tive trauma de dentista toda a minha vida, e foi somente na Franca que pude me reconciliar com a profissão, com os meus dentes, e enfim me olhar no espelho.

No inicio da adolescência tive um problema de saude que exigiu um uso prolongado de corticoïdes. Na época se falava que engordava, mas não era nada em comparação com o risco que eu tinha, que era um risco iminente de perder a visão, então em nenhum momento foi questionado o tratamento (que, diga-se de passagem, deu certo!)

Acaso ou influência do tratamento, eu parei de crescer aos 13 anos, comecei a ter formas de adulta (seios, etc), mais pelos e não demorou muito para as cáries aparecerem. A cada vez que eu ia no dentista era uma tortura, eles meio que me faziam um terrorismo: "se não cuidar dos dentes vai estar banguela antes dos 18 anos e aos 30 anos não vai sobrar nenhum dente na boca". Perdi as contas de quantas vezes me disseram isso de forma menos ou mais pedagógica. Eu queria saber o que eles queriam dizer com cuidar melhor, pois eu escovava os dentes cuidadosamente após cada refeição, usava fio dental ("sem parar quando sangrava", como me recomendavam), praticamente não consumia doces, balas e chicletes, não comia fora das refeições e nunca fumei. Na minha casa eu passava muito tempo escovando os dentes e minhas irmãs e mesmo os meus pais me mandavam parar, que eu iria "estragar" ainda mais os meus dentes, que iria fragilizar o esmalte, etc. Minha irmã mais velha que nunca usava fio dental e escovava rapidamente os dentes não tinha nenhuma cárie.

O tempo foi passando, um dia um dentista resolveu trocar uma obturação que estava amarelada segundo ele. Alguns dias depois não aguentava a dor e tive que fazer um tratamento de canal. Posso estar enganada, mas acredito que foi o fato de "limpar" mais profundo do que deveria que atingiu o canal do dente. O tratamento de canal foi um "sucesso", mas com o passar do tempo o dente foi escurecendo, o que me causava muito incomodo, principalmente na faculdade relativamete "selecionada" onde eu estudava, no meio de tantos dentes perfeitos e branquinhos.

Ao mesmo tempo, a cada vez que eu ia no dentista me davam um orçamento astronômico "só para começar", pois segundo os dentistas eu "tinha tratamento para fazer durante anos e anos.

Acabei me voltando para um dentista de "pobre" e fiz o que segundo ele era realmente importante e necessário. Ele criticava essa nova forma de ver a odontologia, um pouco como a cirurgia plástica segundo ele: tem que ter os dentes perfeitos, branquinhos, assim como se tem que ter o corpo perfeito, fazer lipo, colocar silicone, passar ácidos, laser, etc...
Eu já comecei a me sentir muito melhor, mas o meio não ajudava. Ouso mesmo dizer que por muitos anos eu evitava de sorrir (ou rir) pois tinha vergonha dos meus dentes.

Foi quando cheguei na Franca que pude enfim me conciliar com os dentistas e readquirir a minha auto-estima.
Como uma parte dos tratamentos dentários são cobertos pela saúde pública, uma outra parte pelo meu "plano de saúde", e estabilizada financeiramente, decidi fazer o que tinha que fazer.

Para a minha surpresa o dentista não fez nenhum terrorismo comigo, nunca me disse que meus dentes eram perfeitos, mas assinalou as "coisinhas" que tinha para fazer, que tudo estava bem controlado, não tinha nenhum problema evolutivo. Ele propôs fazer alguma coisa pelo meu dente do tratamento de canal, que ficou da cor dos outros, trocou duas outras obturações que segundo ele riscavam de quebrar e volto desde então todos os 6 meses para a limpeza.

Tenho os dentes perfeitos? Não, mas hoje não almejo mais tê-los, para mim não sou mais julgada por eles. Posso rir e sorrir sem nenhuma vergonha. E ao contrário das predições dos dentistas brasileiros, cheguei aos 36 anos com todos os meus dentes! 





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