No passado mês de Abril resolvemos tirar um curso de alpinismo. O que nos motivou? Realmente as razões foram várias. Em primeiro lugar está a atracção que a montanha exerce sobre nós. É uma realidade inegável que sempre que empreendemos as nossas viagens elas acabam por ter percursos em montanha e nalguns casos actividades de alpinismo e tentativa de fazer cume, tal como aconteceu no Cotopaxi e no Toubkal.
Apesar de até agora todas as nossas actividades de alpinismo terem corrido muito bem, quer porque fizemos sempre cume, quer porque subimos e descemos sem qualquer tipo de problema, a verdade é que sempre dependemos de outros. Se no Cotopaxi, no Equador, o guia que nos acompanhou era fantástico e praticamente nos deu um curso de alpinismo
in loco, no Toubkal, as coisas foram diferentes. O guia que nos acompanhou em Marrocos era muito fraco e não percebia nada de montanha já que nem sabia colocar os crampons. Sendo assim, e para que não nos voltasse a acontecer o mesmo, decidimos tirar este curso. Quando se anda em Alta Montanha não devemos deixar a nossa vida nas mãos dos outros.
O curso foi mais duro em termos físicos do que estávamos à espera, o que nos levou a concluir que até aqui tínhamos subestimado a preparação física que necessitamos para andar em Alta Montanha. A aproximação de cerca de duas horas, todos os dias, até aos colos para depois ascendermos ao cume das montanhas da Penã Ubina, deixava-nos já sem fôlego. Dos colos ao cume, o percurso levava-nos por arestas de rocha, cornijas, lanços mais ou menos perigosos onde aprendemos a progredir utilizando as ancoragens naturais e as ancoragens no gelo. Porque o alpinismo é uma actividade desportiva de risco, começamos por aprender a cair e a fazer auto-resgate e protecção. Essas técnicas são essenciais, quer para nos dar segurança no terreno, quer para em caso de acidente estarmos preparados para responder.
A progressão em Alta Montanha é extremamente gratificante já que nos acompanham paisagens belíssimas e quase exclusivas. Fora dos percursos turísticos atravessam-se nevados e vales glaciares rodeados por paredes rochosas, circos glaciares e
horns. A ascensão ao cume segue frequentemente os corredores de neve, locais mais fáceis de progredir mas onde a atenção tem que ser acrescida já que são locais preferenciais para a ocorrência de avalanches. Sempre que parávamos e olhava à minha volta deliciava-me com a morfologia. A paisagem da Alta Montanha é fenomenal.
Ao final da tarde, quando regressávamos ao refúgio, havia tempo para convívio, brincadeiras, conversas (mais ou menos sérias), dormir, comer ou simplesmente descansar. No outro dia, seguia-se um novo cume. Começamos por subir, pela aresta sul, à Peña Ubina. Esta foi a nossa primeira actividade. No segundo dia, subimos aos Los Fontanos e no terceiro dia à Ubina Pequena. Todas estas montanhas tinham características de progressão diferentes e penso que esse era o objectivo – tornar-nos aptos para progredirmos em diferentes tipos de terreno. Se na primeira ascensão contamos com a presença de nevoeiro que não nos deixou ver as vertentes vertiginosas da aresta sul, nos outros dias fomos agraciados pelo sol e óptima visibilidade.
Embarcamos nesta aventura com os
Espaços Naturais, uma empresa do Porto, e não nos arrependemos em qualquer momento. O curso foi altamente intenso, tal como se pretende, e desenvolvido com grande profissionalismo e camaradagem. No nosso grupo contávamos com vários amigos. Conhecemos muitas pessoas novas mas entre todos havia um denominador comum: o gosto pela montanha. Um curso decisivo e fulcral para quem gosta de estar em segurança na montanha e quer ir mais longe… quem sabe aos verdadeiros ambientes glaciares!