Para tirar dúvidas logo de início: se eu tivesse de escolher sete maravilhas naturais do Mundo, a cratera de Ngorongoro estaria nesse selecto grupo. Sendo a sexta maior caldeira intacta do planeta, com mais de 19 quilómetros de diâmetro, esta maravilha da natureza é uma testemunha agora silenciosa de um passado tumultuoso que definiu esta paisagem, e deixou as suas marcas para serem uma lembrança das forças que moldam o nosso Planeta Terra. Resultado do abatimento de um vulcão que se estima que tivesse uma altura comparável à do monte Kilimanjaro, tem na sua base de área 260 km
2 dois grandes lagos na época das chuvas, que encolhem drasticamente na época seca.
A génese desta paisagem fabulosa está também intimamente ligada à da espécie humana. Foi aqui que se encontraram alguns dos espécimes humanos mais antigos do planeta, mostrando que os primeiros humanos calcorrearam esta terra vermelha e fértil, sujeita a ciclos de chuva e aridez.
Quando chegamos ao bordo da cratera, com vertentes que chegam aos 600 m de altura, e vislumbramos a magnitude desta paisagem, ficamos com a sensação que viajamos para o passado e estamos perante uma espécie de “Mundo Perdido”. No horizonte vê-se a silhueta de cone perfeito do Oldonyo Lengai, conhecido como a “Montanha de Deus”, um vulcão ainda activo (tendo a última erupção ocorrido em 2007), como que relembrando-nos do poder de vida e morte que reside por baixo deste solo abençoado pela Natureza.
Hoje, é a tribo dos Maasai que continua a tradição de ocupação humana ininterrupta durante cerca de 3 milhões de anos e empresta mais um colorido à cratera, contribuindo para a sua riqueza cultural. Aqui radicados há mais de 200 anos, os Maasai continuam a pastar o seu gado na orla da cratera, mas hoje em dia o turismo é uma fonte de rendimento cada vez mais importante.
Mas não é a paisagem de origem vulcânica, coberta agora de savana, nem os registos arqueológicos ou sequer a cultura Maasai, que atraem os cerca de 450.000 visitantes anuais. É, claro, a vida selvagem que povoa esta zona da África Oriental, famosa pelos seus parques naturais e reservas de caça. A cratera faz parte da Área de Conservação de Ngorongoro, criada em 1959 e considerada Património Mundial da UNESCO em 1979, englobando 3 crateras mas também áreas circundantes num total de mais de 8000 km
2.
Contígua com o Parque Natural de Serengeti (do qual fazia parte aquando da criação deste), faz parte do itinerário da grande migração anual de 2 milhões de gnus, 250.000 zebras e 500.000 gazelas, e tem uma população “residente” de cerca de 25.000 animais, onde se destacam os “big five”. Na noite que dormimos no bordo da cratera, pudemos vivenciar um encontro imediato de terceiro grau com a fauna autóctone aquando da calma passagem pelo meio das tendas de 3 búfalos e de um elefante, atentamente vigiados por guardas armados do parque!
No dia seguinte era altura de descer ao interior da cratera, em jipes todo-o-terreno. A melhor altura do ano para a observação de vida selvagem é de Maio a Outubro, a época seca, quando os animais se juntam nos poucos locais com água, atraindo os grandes predadores. Nós viemos no final da época curta das chuvas (Novembro-Dezembro), quando a paisagem é verdejante e a água é mais abundante e omnipresente, e os animais se dispersam mais.
Não tivemos assim a sorte de nenhum avistamento de felinos, mas a visão de muitos outros animais e o mero facto de estarmos neste ambiente de outro mundo nos deixou plenamente satisfeitos. Talvez noutra altura, a cratera nos presenteie com ainda mais maravilhas…
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