O lugar onde o dragão entra no oceano, é esse o significado da Baía de Halong. Recentemente eleita pelas New7Wonders uma das 7 Maravilhas da Natureza, a baía corresponde a uma área enorme de 1.500 km2, com cerca de 2.500 ilhas e ilhéus que pontuam o mar e se elevam das águas. Infelizmente, os tradicionais barcos de junco com grandes velas já pouco se vêem. As formações calcárias concedem a esta paisagem uma singularidade que só encontra paralelo na baía de Phang Nga, na Tailândia.
Diz a lenda que um grande dragão que vivia nas montanhas correu em direcção ao golfo de Tonquim e a sua cauda escavou vales enormes, que mais tarde foram preenchidos com água, deixando apenas algumas ilhas à superfície.
Apesar da lenda ser muito mais encantadora do que a explicação cientifica, para os geomorfólogos a génese desta paisagem resulta da acção erosiva provocada pela água sobre as formações calcárias.
Há cerca de 130 milhões de anos, toda esta área do sudeste asiático estava submersa e existiam recifes coralíferos cuja calcite deu origem a várias camadas calcárias. Face aos movimentos tectónicos, essas camadas foram sujeitas a fortes pressões e soergueram ficando os calcários emersos. Ao longo dos séculos, a água das chuvas e das ondas actuou sobre o calcário e abriu fissuras, cavidades, grutas e fendas nas rochas. A subida do nível médio das águas do mar, no final da última glaciação (há 18 mil anos), elevou as águas cerca de 4 metros e concedeu à paisagem o aspecto que ela exibe hoje. Esta paisagem é que atraí tantos visitantes, centenas de ilhas com um número infinito de praias, grutas e cavernas.
Como só tínhamos um dia para visitar a baía optamos por realizar um tour a partir de Hanói. Saímos do hotel já deveriam ser umas 8.30 h e como sabíamos que a viagem demorava cerca de 3 a 4 horas ficamos logo apreensivos. Viríamos a perceber, rapidamente, que tomamos a decisão errada ao visitar a baía num tour. O autocarro só andou uma hora e ao fim desse tempo parou para shopping time durante 30 minutos. Não queríamos acreditar. No fim do período das compras regressamos ao autocarro e ao caminho.
Chegamos a Halong, local onde deveríamos apanhar o barco para a baía, às 13.30 h. Fomos encaminhados para o barco e este começou a navegar, no entanto, também esta navegação foi por pouco tempo. O barco ao fim de 10 minutos parou e os empregados chamaram toda a gente para dentro, iam começar a servir o almoço. Fiquei "fula"! Almoço? Quem é que pensa em comer quando tem a baía de Halong a 40 minutos de barco? Não queria acreditar. Mas, era mesmo verdade. Lá comi, com pouca vontade. O barco recuperou a marcha e passado algum tempo entramos na baía propriamente dita e estávamos rodeados de formações calcárias emersas.
A nossa primeira paragem foi na ilha Dau Go, onde percorremos um caminho estreito subindo em direcção à entrada da gruta Hang Dau Go. Depois de ter visto a paisagem de Guillin e Yangshou, na China, Halong não impressiona assim tanto. Não se pode dizer que não é bonito porque não seria verdade. No entanto, comparado com o sul da China é mais pobre. Tentamos abstrair-nos do que tenhamos visto na China e desfrutar da beleza do local.
A primeira gruta que visitamos é magnífica. É alta e comprida, cheia de formações cársicas de pormenor. No final da gruta saímos e desfrutamos duma vista fantástica sobre a baía. Descemos alguns metros e visitamos outra gruta. Para tal tive que discutir com o nosso guia que nos dizia que não tínhamos tempo. Lá lhe expliquei, de forma pouco simpática, que tinha pago para visitar a paisagem e não para fazer compras por isso era o que tencionava fazer.
Eu e o Rui entramos na gruta e dois outros rapazes que viajavam connosco no mesmo grupo aproveitaram e vieram também. Esta gruta, designada Hang Thien Cung, é muito menos turística mas igualmente bela. O seu nome significa palácio celestial. O guia dizia-me "essa gruta é feia, não vale a pena", prontamente lhe respondi "agradeço-lhe a sua amabilidade mas ainda sou eu que faço os meus julgamentos". Ele ficou furioso e eu, confesso, muito satisfeita com a visita.
Regressamos ao barco e ele iniciou a sua navegação pela baía. Andamos cerca de 30 minutos, circulando a ilha onde estávamos pela direita e paramos numa aldeia piscatória flutuante. O guia deu-nos duas opções: podíamos ficar ali à espera uma hora ou então pagar uma viagem, num barco mais pequeno, ao interior da ilha. Optamos pela segunda opção e lá soltamos mais 5USD por pessoa.
A viagem foi agradável mas muito longe de valer o dinheiro que pagamos. Quando regressamos à aldeia descobrimos que o barco se tinha ido embora buscar outros turistas e voltaria dentro de poucos minutos. Descobrimos, uma hora mais tarde, que esses minutos eram muito mais de 60...
Estamos no Vietname e este tipo de comportamento começa a tornar-se mais ou menos comum. Todos os dias temos experiências deste tipo. No início chateávamo-nos, discutíamos, berrávamos, enervávamo-nos mas rapidamente percebemos que não adiantava nada. Eles não mudam, não respeitam os turistas e continuam a fazer sempre o mesmo. Decidimos ignorar e tentar fazer as coisas à nossa maneira.
O barco lá regressou, cerca de duas horas depois de nos ter deixado na aldeia. Estava na hora de regressar a Halong e deixar para trás a baía. Ainda confrontei o guia com o facto de ter comprado um tour que incluía 4 horas de navegação. Ele prontamente me respondeu "we are sailling for 4 hours!", "Great, i'm so happy!", disse-lhe eu. Só me apetecia apertar-lhe o pescoço mas controlei-me.
Regressamos à cidade e abandonamos a baía enquanto o sol descia. Mais do que estar chateada com o tour, estava chateada com as restantes pessoas que viajavam connosco que pareciam agradadas com o passeio. Para cúmulo ainda fomos visitar uma loja enorme de pedras preciosas. Mais 40 minutos de shopping time! "Carla, respira fundo", dizia o Rui. Riamos mas só me apetecia partir tudo. O autocarro saiu de Halong às 19 h para o que nós pensávamos serem 3 horas de viagem até Hanói, mas afinal ainda paramos para mais outro shopping time, na mesma loja da manhã, de forma a que os turistas pudessem "pagar" somas exorbitantes de dinheiro por uma boa refeição vietnamita. Quando chegamos a Hanói eram quase 23 h. Estávamos estafados e muito desiludidos. Desiludidos connosco por termos feito o tour, desiludidos com a baía porque aquilo que vimos não nos impressionou grandemente, mas principalmente desiludidos porque sentimos que não vimos a verdadeira baía de Halong.
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