O lago Vitória é o berço da civilização da África Oriental. Aqui nasce o rio Nilo e é aqui que caem grande parte das águas das chuvas que alimentam os rios que drenam esta parte do globo. O lago é repartido por três países: Tanzânia, Uganda e Quénia.
Nas suas margens, vilas e aldeias prosperaram e hoje fervilham graças à actividade piscatória e à prática de uma agricultura irrigada. Depois de atravessar o sul do Quénia e pernoitar numa hospedaria de uma missão cristã em Kisii, atravessamos a fronteira e entramos na Tanzânia. Musoma, nas margens do lago Vitória era o nosso destino. Uma vila pacata, pequena mas cheia de carisma e espírito africano. Montamos acampamento nas margens do lago e juntamo-nos a Ibraim para explorar a cidade.
Ibraim faz questão de dizer que é cristão; o seu nome poderia sugerir que fosse muçulmano, a religião dominante na Tanzânia. No entanto, Ibraim faz também questão de dizer que muçulmanos e cristãos coabitam pacificamente na cidade e nunca houve problemas religiosos. Andar de bicicleta com o Ibraim é fabuloso. Ele conhece todos os lugares a visitar, fala e ri com a população local e isso permite uma interacção muito maior connosco.
Musoma tem uma forte ligação com o lago vitória. Para além da ligação fluvial com o Uganda que permite o contacto entre estes dois países, é do lago que vem grande parte dos recursos alimentares da população local. O mercado dos pescadores testemunha isso mesmo.
Encostados nas margens estão barcos de madeira pintados de cores coloridas e de onde são descarregadas cestas cheias de sardinha pequena. A sardinha não tem mais de quatro centímetros de comprimento. Ibraim, em tom de brincadeira, diz "Na Europa vocês alimentariam os vossos animais com isto, aqui a gente come-as!", e ri. Há centenas de milhares de sardinhas espalhadas em bancas de venda e no chão. Vários jovens musculados e transpirados ensacam-nas em sacos de 20 e 30 kg para serem vendidas aos países vizinhos. As mulheres, novas e velhas, lavam as cestas de plástico e os peixes, salgando-os de seguida e preparando-os para serem embalados. Os mesmos jovens que embalam o peixe, saltam em cima dos sacos para acondicionarem o conteúdo e depois transportam-nos à cabeça até novos barcos de transporte ou carrinhas estacionadas ao lado do mercado.
Estranhamente, não cheira demasiado a peixe no mercado. Aliás, o cheiro nauseabundo a peixe é praticamente inexistente.
Volto à minha bicicleta e continuo a seguir Ibraim pelas ruas de terra batida da cidade. Tenho que parar a cada 10 metros. Não resisto aos sorrisos, acenos e gargalhadas das crianças na rua. Tento aproximar-me delas mas as mais pequenas fogem com medo. Acham que não tenho pele, sou demasiado branca. Os adultos riem de mim e das crianças.
Ibraim leva-me a um mercado de frescos onde me ensina um bocadinho de suaíli, a língua oficial da Tanzânia, e aprendo a fazer Ugali, a base da alimentação da região feita a partir de farinha de milho. Mais um momento divinal. Antes de rumar ao bairro de Ibraim ainda paramos para experimentar peixe frito na rua.
No bairro de Ibraim havia uma festa em frente à igreja com pessoas a dançar. O ritmo africano entrou-me no corpo e também eu me juntei a eles e dancei. Dancei e adorei. Mas o melhor ainda estava para vir.
Dezenas de crianças (que me pareciam centenas) corriam atrás das bicicletas, tentando conversar, tocar em mim e aparecer no LCD da máquina fotográfica. Isto é África! África são as pessoas, as cores e os sorrisos. Que dia maravilhoso. Até brinquei com eles. Adorei.
Para terminar o dia em beleza, assisto ao pôr-do-sol no lago Vitória, e desfruto de uma noite de conversa animada com outros viajantes, sempre acompanhada pelas garrafas de Serengeti, a cerveja nacional. O nome da cerveja era um prelúdio: amanhã vou para a maior savana africana.
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