Meteora
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Meteora... eis-me num dos lugares mais emblemáticos da minha adolescência. Foi precisamente isto que senti quando comecei a subir o trilho que me levava do hostel, na base dos pináculos, até aos mosteiros pendurados nas rochas. Em tempos, vi umas fotografias dos mosteiros de Meteora e desde essa altura senti um desejo enorme de conhecer estes locais.

Os primeiros eremitas habitaram este local idílico há centenas de anos, inicialmente instalando-se nas cavidades rochosas existentes e depois em mosteiros.


O nosso percurso iniciou-se pelo mosteiro Agia Triada, um do mais remotos e isolados. Aqui perdura o espírito religioso. Praticamente sem turistas, somos recebidos por um monge que fala espanhol e nos conta um pouco da história do mosteiro. As vistas são magnificas e o vento faz-me transportar no tempo... estamos no século XIV... e tudo parece igual. Uma torre com uma espécie de "ascensor" permite içar os bens alimentares e as pessoas numa rede. Ninguém sabe ao certo como os primeiros eremitas chegaram ao topo destas rochas mas existem várias teorias. Uma delas aponta para o uso de cavilhas espetadas nas rochas que permitiram a construção dos edifícios; outra teoria aponta para a utilização de papagaios de papel que içavam os materiais pendurados em cordas. Como terá sido, na realidade, ainda não se sabe!


A paisagem é recortada por inúmeros caminhos e uma estrada. Atravessamos a estrada panorâmica, assim designada porque atravessa vários miradouros e de onde se pode desfrutar de vistas soberbas sobre os mosteiros. As fotos falam por si! Seguimos caminho em direcção ao Megalo Meteoro, o primeiro mosteiro a ser construído e o mais alto. A 623 m de altitude, na entrada do mosteiro existe uma gruta onde residiu o eremita Anastasio, cujo corpo se encontra sepultado na igreja. Estes mosteiros tiveram a sua época áurea nos séculos XIV e XV, no entanto os eremitas já povoavam o local desde o século XI. Depois do século XVI, os mosteiros entraram em declínio e foram abandonados, ficando em ruínas. Só na década de 20, do século vinte, é que os mosteiros começaram a ser reconstruídos com o revigorar da religião ortodoxa. Outrora existiam mais de 20 mosteiros no topo das rochas de Meteora, hoje existem apenas seis activos. Nestes habitam cerca de 30 monges ou monjas.


Outro dos mosteiros e o Varlaam, possivelmente o mais fotogénico de todos já que se encontra verdadeiramente pendurado e pode ser observado de várias perspectivas. Todos os mosteiros em Meteora exibem pequenas capelas cobertas por frescos que retratam o martírio dos santos ortodoxos e a vida de Cristo. Alguns possuem também cozinhas, refeitórios e pátios.




Os mosteiros de Meteora foram construídos em locais verdadeiramente inacessíveis, para os religiosos se protegerem dos ataques e perseguições dos turcos otomanos. Este facto levou a que o abastecimento do mosteiro fosse feito utilizando uma espécie de "guindastes" manuais que transportavam as mercadorias e os monges. Hoje, estes guindastes são eléctricos e permitem o abastecimento do mosteiro, bem como o transporte dos monges anciãos. Nos mosteiros foram construídos acessos, escadarias esculpidas na rocha. Meteora é um lugar mítico. Toda a área assemelha-se a um cenário de contos de fada. A paisagem, marcada por mosteiros construídos no cimo das colunas rochosas, parece saída do livro do Umberto Eco, O Nome da Rosa.


No final do dia descemos pelo caminho que nos leva a Kastraki. Aí o pôr-do-sol acompanhou-nos e desfrutamos duma paisagem esplendorosa a nossa volta.


A geomorfologia de Meteora é bastante interessante. Ao que parece esta área corresponderia a um mar interior que por acção da tectónica terá soerguido há cerca de 10 milhões de anos atrás, formando um grande graben onde se instalou um curso de água, ladeado por duas áreas montanhosas. As rochas sedimentares foram sujeitas a enormes pressões e acabaram por metamorfizar em alguns locais. Temos hoje grandes conglomerados muito compactos, mármores, serpentinitos, mas também calcários e arenitos. Expostas aos agentes erosivos, as rochas abriram fissuras que foram alargando e o material, essencialmente arenitos, foi sendo transportado. Hoje temos uma paisagem avassaladora. Um pouco por toda a área existem depósitos enormes (muito semelhantes as rañas que existem no centro de Portugal). O trekking de dois dias que fizemos pela região permitiu um contacto próximo com o local, algo que nos agradou muito.






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