Heidelberg, antiga capital do Palatinado

         Heidelberg, cidade situada às margens do rio Neckar, é frequentemente visitada por turistas em passeio de um dia a partir de Frankfurt, já que dista a apenas cinquenta minutos de viagem da capital financeira da Alemanha. Como estava hospedado em Baden-Baden, optei por conhecê-la a partir dali, mas neste caso é necessária uma conexão de trem. A estação ferroviária se localiza a dois quilômetros do centro, vencidos por caminhada de meia hora ou por viagem rápida de bonde. Na saída da gare, em frente ao  prédio moderno da Academia de Imprensa, é impossível não notar a enorme escultura "S-Printing Horse", de aço inoxidável com treze metros de altura por quinze de comprimento e peso de noventa toneladas. Os diversos elementos existentes no processo de impressão formam a figura de um cavalo alado de três patas, como por exemplo os buracos no pescoço que aludem aos similares da lateral das impressoras, e o quadrado na cauda representando um livro, devidamente "lido" pela face na sua extremidade.

  

Estátua "S-Printing Horse" defronte à estação ferroviária

         Heidelberg recebe anualmente 3,5 milhões de visitantes e  possui 145.000 habitantes.  O seu centro antigo é extenso, imprensado entre o morro Königstuhl  e o rio Neckar. É atravessado pela sua rua principal Hauptstraße,  que possui 1,6 quilômetro de extensão e é reservada a pedestres. Apesar de existirem referências a Heidelberg desde o século XII, o casario da cidade não é tão antigo, já que foi reconstruído após a cidade ter sido totalmente devastada pelas tropas francesas de Luís XIV na Guerra de Sucessão do Palatinado em 1688.

          Durante vários séculos a cidade se beneficiou da condição de capital do Palatinado, uma grande área que englobava os territórios ao longo do rio Reno. Seus governantes eram condes chamados de Eleitores Palatinos ou Príncipes Eleitores. A denominação do cargo provém da sua função inicial -  ser responsável pela eleição do Imperador do Sacro Império Romano-Germânico. Originalmente havia sete Eleitores espalhados pela atual Alemanha, que também atuavam como representantes do imperador junto à nobreza local. Existiram do século XII até 1806, quando o monarca abdicou durante as Guerras Napoleônicas, encerrando o Império. A sede do Palatinado foi transferida de Heidelberg para Mannheim em 1720,  devido a conflitos religiosos entre a população majoritariamente protestante e o então Eleitor, católico.
  

          A  Universidade de Heidelberg, de grande reputação acadêmica e a mais antiga da Alemanha,  foi fundada em 1386 e conta atualmente com mais de 30.000 estudantes, que animam a vida noturna da cidade. O prédio barroco da Universidade Velha e o da Nova se encontram  na mesma praça, apropriadamente chamada de Universitätsplatz, a uma quadra da Hauptstraße. Um fato curioso sobre a Universidade é que os estudantes menos comportados podiam ser presos e passar alguns dias na cadeia lá existente, caso fossem pegos em atividades como cantar alto, beber em excesso ou assediar mulheres, sendo temporariamente liberados para prestar exames. A cadeia desativada somente em 1914 pode hoje ser visitada, e chamam a atenção as paredes com os desenhos  satíricos e rabiscos que os estudantes detentos faziam para passar o tempo enquanto confinados.

           A alguns quarteirões da Universidade seguindo pela Hauptstraße encontramos a praça principal Marktplatz, com o bonito prédio da Prefeitura de um lado e a Igreja gótica do Espírito Santo, construída no século XV em ocre, na outra ponta. Na Idade Média, criminosos eram acorrentados à fonte da praça e expostos à vergonha pública. Hoje o cenário é bem mais ameno, com os locais passando o tempo bebendo cerveja nas mesinhas espalhadas pela praça. Mais à frente, defronte à lateral da Prefeitura, se encontra a praça Kornmarkt, com a estátua de Madonna erigida por jesuítas em 1718. Esta ação fez parte de uma série de  malsucedidos incentivos à conversão da população ao catolicismo pelo Eleitor Palatino.
      

        A partir da Igreja, descendo-se um quarteirão, chega-se à Ponte Velha, uma das duas que atravessam o rio Neckar. Foi construída em 1788 e é guarnecida por um portão medieval que originalmente fazia parte do muro que defendia a cidade.

  

        
          A maior atração de Heidelberg é indubitavelmente o seu Castelo, encarapitado na encosta do morro. As ruínas podem ser acessadas por um funicular que sai da Kornmarkt, descendo-se na parada intermediária. Na realidade, o castelo é constituído por vários palácios, o primeiro construído no século XIII pelo Príncipe Eleitor Rupert III , e foi posteriormente arrasado pelos franceses na guerra de 1688. Até a destruição, foi a residência dos Eleitores Palatinos e em consequência, sede da sua corte. Posteriormente, foi também atingido por  raios e incêndios, que terminaram  por arrasá-lo. Uma parte dos palácios foi restaurada no fim do século XIX, enquanto as demais ruínas foram preservadas. Após caírem nas graças dos escritores românticos dessa época como Victor Hugo, o castelo e suas ruínas são  atualmente um dos maiores símbolos nacionais. Seu apelo romântico continua em voga, já que sua capela é muito utilizada para cerimônias de casamento.

         As ruínas dos palácios destruídos cobertas de vegetação acabam dando um ar melancólico e decadente ao lugar. Dignos de visita são os jardins do Castelo, em estilo renascentista, com fontes e algumas grutas artificiais cavadas na colina, e uma vista dos terraços para a cidade abaixo. Outras seções de interesse se localizam nos porões do castelo: a Farmácia, com seus ingredientes estranhos usados no passado em medicamentos e poções,  e o Großes Fass, o maior tonel de vinho do mundo, com capacidade para 221.000 litros, construído em madeira de carvalho no século XVIII. De tão grande, o barril com 6,5 metros de diâmetro tem um tablado sobre sua superfície. Imagino que o vinho nele armazenado não devia ter boa qualidade, mas o tonel certamente conferia prestígio aos Eleitores donos do castelo.

Vista a partir dos terraços do castelo: da esquerda para a direita, a Igreja do Espírito Santo, Marktplatz, a Prefeitura e a Kornplatz na sua lateral; atrás, o rio Neckar e a Ponte Velha.

         No próximo post, nos aproximamos da Floresta Negra, conhecendo a preciosa Baden-Baden.
          

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