Guimarães, berço de Portugal
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Guimarães, berço de Portugal



Rua de Guimarães; ao fundo, o Museu Alberto Sampaio

          O Douro é uma província recheada de atrações que vão muito além do Porto e do seu produto mais difundido, o vinho. A 1h35min de trem do Porto e a apenas 26 quilômetros de Braga, Guimarães é uma cidade menor e completamente diferente da sua colega minhota. Também repleta de monumentos históricos, a cidade é conhecida como "cidade-berço de Portugal", devido ao papel importante desempenhado na formação da nação no ano de 1128, tendo sido o ponto de partida da reconquista do território então ocupado pelos mouros. Num trecho que sobrou da antiga muralha medieval consta a inscrição 'Aqui nasceu Portugal'.

O Castelo de Guimarães - fonte: visitportugal.com

        Conta-nos a história que no remoto século X a condessa galega Mumadona Dias decidiu construir um mosteiro nas suas terras da região. Para defender o núcleo recém-fundado contra os ataques mouros e normandos, Mumadona mandou erigir um castelo num ponto elevado nas cercanias. A cidade de Guimarães cresceu ao longo da rua que ligava as duas edificações, a atual Rua de Santa Maria. Nessa época ainda se chamava Vimaranes, de onde provém a designação atual de seus habitantes, os vimaranenses.

A muralha do Castelo de Guimarães

          Sem sombra de dúvida sua maior atração é  o Castelo de Guimarães,  que desponta glorioso sobre uma colina na extremidade da cidade velha. Uma das razões de a Unesco ter proclamado a cidade Patrimônio da Humanidade, o Castelo foi residência de nobres e governantes e é o provável local de nascimento do primeiro rei português, D. Afonso Henriques, cuja estátua adorna a entrada da colina. Suas oito torres defenderam a cidade inúmeras vezes até o castelo cair no ocaso. Restaurado há décadas e aberto a visitação, podemos percorrer seus pátios, muralhas e a torre central, a Torre de Menagem, alcançada através das muralhas por uma estreita ponte de madeira suspensa. Vê-se um cuidado para manter as estruturas originais intocadas pelo progresso; por esta razão não existem corrimãos nas escadas que levam ao nível superior da muralha, e tampouco na passarela que o acompanha, totalmente aberta para o pátio interior, o que pode causar vertigem nas pessoas mais sensíveis.

Muralha do Castelo de Guimarães

         Vizinho ao Castelo, a outra grande construção de Guimarães é o Paço dos Duques de Bragança, um majestoso palácio erigido no século XV com características de fortaleza e com inusitadas chaminés cilíndricas. Foi erguido por Afonso I, rei e primeiro duque da linhagem à qual pertenceram os dois imperadores brasileiros. Hoje abriga um museu com vários documentos importantes para a história de Portugal, além de uma mostra de tapeçarias flamengas e um retrato da época dos Descobrimentos através da exposição de mobília, porcelana e armas.

O Paço dos Duques visto das muralhas do Castelo

       O muito bem conservado centro histórico de Guimarães se revela uma sucessão de largos e casario medieval, onde se destacam alguns conventos, dos quais o mais conhecido, o Convento de Santa Clara, hoje é ocupado pela Câmara Municipal. Para quem chega pela estação ferroviária, deve-se descer toda a Avenida Dom Afonso Henriques uns 600 metros até se alcançar o Escritório de Turismo - aí você está entrando na cidade histórica. As antigas muralhas medievais que circundavam o centro foram substituídas por um anel de avenidas e praças, exceto por um pequeno trecho ainda conservado.

O antigo Paço do Concelho, onde se situava a Câmara Municipal

         A praça principal, o Largo da Oliveira, abriga o antigo Paço do Concelho, do século XIV e o Padrão do Salado, da mesma época, erguido por D.Afonso I para comemorar a vitória contra os muçulmanos na Batalha do Salado. Monumento nacional português, hoje o Padrão parece mais uma ruína restante de algum templo do que um monumento épico.

O Padrão do Salado no Largo da Oliveira

          Do outro lado do Paço, a Praça de Santiago é mais ampla e ainda conserva o traçado irregular que denuncia sua origem nos primórdios da cidade. Segundo a tradição o próprio santo teria trazido uma imagem da Virgem Maria ao local. Hoje abriga bares que lotam à noite e casas com sacadas com flores espalhadas no seu alpendre. Aliás, esta é uma tradição ainda presente e ao passearmos pelas vielas que compõem o centro, encontramos várias casas enfeitadas.

A Praça de Santiago

         Ainda no Douro, no caminho entre o Porto e Vila Real, se encontra Amarante. Fora dos roteiros turísticos tradicionais, Amarante é conhecida pela produção de vinho verde e pelos seus queijos e está localizada numa curva do rio Tâmega. Se pode passear tranquilamente pelas margens arborizadas do rio só cruzando com os habitantes locais. A bucólica cidade é parada de ônibus com destino a Vila Real. A viagem desde o Porto demora cinquenta minutos, partindo de uma "rodoviária" que é uma loja instalada numa ruela a três quadras da estação ferroviária de São Bento. Infelizmente, o acesso por trem foi desativado.

O Rio Tâmega e a Ponte de São Gonçalo em Amarante

         As principais edificações de Amarante, a começar pela ponte de granito que une as duas margens do rio, levam o nome de São Gonçalo, que viveu e morreu na cidade no século XIII. A ponte original foi construída por ele,  tendo sido levada em 1763 por uma enchente e então substituída pela atual. A cidade foi ainda palco de uma batalha na invasão por Napoleão em 1809, quando foi incendiada pelas tropas francesas após uma defesa heroica da ponte pelos seus habitantes.

Igreja e Mosteiro de São Gonçalo em Amarante

         As duas principais construções de Amarante são a Igreja e o Mosteiro de São Gonçalo, à beira do rio Tâmega. Junto com a ponte formam um conjunto extremamente harmonioso. A arcada na lateral do mosteiro contém estátuas de reis portugueses da época da construção do prédio, no século XVII. Segundo a tradição, quem tocar a estátua sobre a tumba de São Gonçalo conseguirá namorado ou namorada no período de um ano. Pode-se imaginar as filas que acontecem todo ano nas Festas de São Gonçalo, na primeira semana de junho.

          Para finalizar com chave de ouro, nada como entrar em uma das docerias da cidade e provar o doce típico de Amarante, as Brisas do Tâmega, criado por freiras do convento. As brisas tem o formato original de um barquinho e são feitas com ovos, miolo de amêndoa e, é claro, vinho do Porto.




  Postado por  Marcelo Schor  em 16.03.2013  

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