Explorando a baía de Disko – Aasiaat e Qasigiannguit
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Explorando a baía de Disko – Aasiaat e Qasigiannguit



Saímos às 8.00h do ferry, que foi a nossa casa desde Narsaq, no porto da cidade de Aasiaat, a 1ª da baía de Disko (para quem vem de sul), uma zona privilegiada para o povoamento desde há milhares de anos, inicialmente feito por povos originários do Canadá e Sibéria. Apesar a 4ª maior cidade da Gronelândia, Aasiaatmantém a aparência de uma pequena vila piscatória, que é o que, na realidade, ela é, uma vez que tem cerca de 3000 habitantes!



Localizada na parte sul da baía, numa zona repleta de pequenas ilhotas, a cidade estende-se numa estreita faixa ao longo da costa, podendo ser facilmente explorada a pé. Foi o que fizemos, mas tínhamos pouco tempo, pois Aasiaat seria apenas uma paragem no caminho. Às 12.15h, seguiríamos de barco da companhia Disko Linepara a cidade de Qasigiannguit.


Logo ao sair do barco, e como estávamos carregados com as mochilas todas, a nossa prioridade foi encontrar um local onde as pudéssemos deixar enquanto passeávamos pela cidade. Acabamos por as deixar numa sala da recepção do hotel Seaman’s Home, onde nos certificamos do local de embarque mais tarde, e junto do qual comemos o nosso pequeno-almoço. Dali saímos em direcção ao centro da cidade, onde as casas se distribuem pelo cimo de várias colinas pedregosas, mas aquela hora eram poucas as pessoas que se aventuravam no ar frio da manhã com neblina.


O sino da igreja tocava a reunir os fiéis para a missa de Domingo, mas nós seguimos em frente. No bairro dos pescadores, vemos pela primeira vez os famosos cães do norte, utilizados acima do Círculo Polar Árctico no inverno para puxar trenós em viagens de caça, pesca, ou turísticas. Durante a parte do ano sem neve (que tem aumentando nos últimos anos), os cães passam os dias presos por correntes, à espera que o tempo passe e que os donos tragam a comida do dia (peixe, carne de foca ou ração).


Durante todo o nosso percurso, o tempo manteve-se nublado, o que foi pena pois a cidade é bonita e as fotos não lhe fazem justiça. Depois de já termos regressado ao porto, as previsões meteorológicas confirmaram-se e a neblina dissipou-se dando lugar ao sol e céu azul. Já nos sentíamos mais quentes… Mas agora já só havia tempo para ir buscar as mochilas e esperar pelo barco. E o que esperamos… O barco chegou 45 minutos atrasado, mas lá seguimos viagem, acompanhados de uma jovem alemã, Katrin, que está a dar uma volta ao mundo, e um par de simpáticas senhoras dinamarquesas que deram aulas na ilha de Disko há 50 anos e voltaram para ver o (muito) que a Gronelândia mudou entretanto.



O barco segue por entre as numerosas ilhas e dirige-se para leste num mar sereno quando, de repente, vê-se 2 grandes repuxos de ar na água: eram duas baleias! Esta zona é uma das melhores para a observação destes animais, mas como esse não era o objectivo da viagem, seguimos em frente, mas pelo caminho ainda veríamos mais duas. Passamos ainda por alguns icebergues de dimensão considerável, que chegam aqui flutuando para sul desde a boca do fiorde de Ilulissat, a cerca de 75 km de distância.


Após 1 hora e meia de viagem, chegamos a Qasigiannguit. Apenas nós e Katrin saímos e tentamos logo arranjar alojamento, pois não tínhamos nada marcado. A ideia era acampar, mas acabamos por arranjar uma forma muito mais característica e invulgar de alojamento, ou seja, ficamos numa casa de turfa, um tipo de habitação, feita de pedra e turfa e utilizado pelos povos nativos, mas actualmente com o interior feito de madeira, que as torna bastante confortáveis do ponto de vista térmico. Esta casa em particular é gerida pelo museu de Qasigiannguit, e tem todos os apetrechos como se estivesse a ser utilizada no dia-a-dia. A cama era forrada a peles de focas e cão (ainda que parecesse de lobo) e foi aqui que dormimos, enquanto que a Katrin decidiu ficar pelo chão uma vez que é vegetariana e a ideia de dormir sobre peles de animais não a entusiasmava.


No caminho para a casa (fora da cidade) tivemos boleia de um habitante local que ia alimentar os seus cães, numeroso nesta zona limítrofe da cidade. Os pequenos cachorros estão ainda soltos (até aos 5 meses de idade), mas não saem de junto das suas progenitoras, que nos seguem com um olhar desconfiado.



A cidade está situada numa pequena e bonita reentrância, rodeada de montanhas, que é uma boa zona para caminhadas. Nós acabamos por dar apenas uma volta pela cidade e fazer algumas compras, mas ainda assim as vistas da baía e dos icebergues alinhados no horizonte eram fantásticas.


Cozinhamos o jantar na nossa casinha de turfa e fomo-nos deitar cedo. Durante a noite ainda ouvimos alguns animais a rondar a casa e a fazer barulho no telhado (cães à solta para uns, espíritos dos animais mortos para forrar camas com as sua peles para outros!), mas fora isso dormiu-se muito bem. De tal forma que, de manhã, dormimos até um pouco mais tarde, tomando em seguida o pequeno-almoço e arrumando as mochilas para voltar ao centro da cidade. A Katrin irá ficar mais duas noites pois não conseguiu bilhete para o nosso barco, mas nós iríamos seguir viagem.



Depois de descansarmos um pouco na esplanada do hotel Disko Bay, virada para a baía, dirigimo-nos para o porto. E se no dia anterior tínhamos esperado pelo barco, hoje desesperaríamos ainda mais! Estivemos duas horas no porto, com um vento gelado que nos deixou quase petrificados. Finalmente o barco chegou e dissemos adeus à Katrin, com a promessa que nos encontraríamos novamente em Ilulissat.



O tempo estava bom, apesar do vento, e esperávamos com ansiedade a chegada ao fiorde de Ilulissat, conhecido mundialmente pelos seus gigantescos icebergues, libertados pelo glaciar que se encontra a 60 km a montante da cidade! Mas nada nos tinha preparado para o que viria a seguir… Até descobrimos por que razão os barcos andavam sempre atrasados! Prometia…





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