Em trânsito pelo Senegal
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Em trânsito pelo Senegal



Sabíamos que as deslocações no terreno por terras africanas iam ser um desafio e seriam determinantes no sucesso do nosso itinerário. Os transportes públicos no Senegal não têm horários estabelecidos, e as estradas têm as suas limitações, por isso existiam razões suficientes para termos alguma flexibilidade nos nossos planos. No entanto, resolvemos ser ambiciosos! 


As opções no terreno são variadas. Os autocarros de longo curso chamam-se cars mourides (propriedade da irmandade islâmica de Touba) e ligam Dakar às principais cidades do país. São uma opção barata, mas lenta, penosa e imprevisível. Todos os veículos de transporte público de tamanho menor do que estes autocarros são denominados por taxi-brousse (táxi do mato). Saem quando completos, sendo que o tempo de espera depende da zona onde nos encontramos e da hora do dia. Regra geral, o melhor momento é entre as 6.00 e as 9.00h. 


Dentro desta categoria, existem os 'Ndiaga Ndiaye (também conhecidos por grand cars), mini-autocarros Mercedes de 32 lugares que ligam localidades próximas, parando frequentemente, uma vez que em algumas regiões são o único meio de transporte público. Distinguem-se pela sua cor branca e a palavra Alhamdoulihali (graças a Deus) escrita na parte da frente. Um pouco mais pequenos, e operando sobretudo em zonas rurais, os petits cars cumprem a mesma função. 


Finalmente, o táxi sept-place, um Peugeot 504 de 7 lugares (como o nome indica), normalmente em condições decrepitas, mas que constitui a opção mais fiável e rápida (ainda que mais cara) para deslocações longas por todo o país. Quem chega primeiro senta-se ao lado do condutor e os restantes vão preenchendo os lugares das restantes duas filas. Esta seria a opção em que iríamos basear o nosso ambicioso itinerário, e até agora não nos desiludiu. 


Como é então um dia normal de trânsito pelo Senegal? Esqueçam o descanso e preparem-se para levantar cedo. Desde que cá estamos a hora a que o despertador toca não ultrapassou as 7.00h! E a viagem de regresso de Tambacounda não foi excepção. Às 6.00h, lavar a cara e os dentes e arrumar as mochilas. Um pequeno-almoço rápido no hotel, e sair com a primeira luz da alvorada. Apanhamos um táxi na avenida principal até à gare routière, a estação local. Não sem antes pararmos para meter gasóleo (para um percurso de 3 km!) pois os tanques dos táxis andam sempre na reserva!


Apanhamos um sept-place em direcção a Kaolack, saindo às 7.30h. Neste troço a estrada está em boas condições e, apesar do lugar apertado, a viagem de 4h faz-se bem. Os senegaleses que rondam a gare (adultos e crianças) não têm uma abordagem agressiva e os motoristas cobram-nos o mesmo preço dos locais, puxando um bocadinho no preço da bagagem. 


Resolvemos fazer uma pausa na viagem em Kaolack para visitar o seu mercado coberto, diz-se um dos maiores de África, tendo sido interessante ver os costureiros partilhar quase o mesmo espaço com os vendedores de carne. Mas o calor começava a apertar e ainda não sabíamos o que o nosso percurso para o dia nos reservava, por isso continuamos, apanhando outro táxi, novamente até à gare routière nord. Dali seguimos em sept-place em direcção a Mbour, mas saindo num cruzamento numa localidade chamada Ndiosomone. Mais 1 hora e meia numa estrada em muito más condições, de tal forma que os veículos por vezes saem da estrada e seguem ao lado por terra batida.


Quando saímos no cruzamento, eram cerca das duas da tarde, com um calor intenso. A única opção no local era um grand car que estava quase cheio. Tínhamos 2 lugares junto à porta traseira, pela qual entram os passageiros depois de serem colocadas as suas bagagens no tejadilho. Este último também acabou por carregar vinte enormes sacos de amendoins. O percurso de 30 km que nos separava do nosso destino, a vila no delta de Ndangane, demorou 2 horas. O autocarro parava por  vezes de 100 em 100 m para deixar entrar e sair pessoas e mercadorias, tudo isto condimentado por um cheiro intenso a peixe seco transportado pelos locais e um calor abrasador. Por companhia tivemos uma anciã muito simpática, a quem a Carla chamou carinhosamente "mãe Senegal".



Mas ainda não era o fim. O autocarro finalizou a sua marcha em Fimla, a cerca de 5 km de Ndangane, onde tivemos de apanhar um novo táxi partilhado (o último do dia!) para percorrer estes quilómetros finais, mais uma vez na companhia da nossa "mãe Senegal".


Chegamos ao nosso destino cerca das 17.00h. Um longo dia de trânsito, quase de sol a sol, por terras senegalesas. Isto é África!






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