A difícil arte da convivência
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A difícil arte da convivência


O dia a dia de um casal não é fácil não... Como se não bastasse as diferenças entre homens e mulheres, acho ainda mais complicado quando se trata de duas culturas diferentes... Quando falo de cultura não quer dizer somente que cada um tenha sido criado em países diferentes, pode até ter sido na mesma cidade, mas com valores e prioridades diferentes!!!

Aqui tentei fazer uma listinha do que me incomoda aqui em casa. A lista poderia ser bem mais longa, mas só listei as 10 coisas que me incomodam essa semana :D

1. Ele acha que está em um comercial de pasta de dente quando escova os dentes! A quantidade que coloca sobre a escova é enorme, com aquela voltinha e tudo!!! Quando vejo, fico tão irritada, digo que não é necessário tanto assim, mas ele me diz que não somos tão pobres assim para economizar no creme dental!!! Sem contar que não é um mito, aqui em casa o homem aperta os tubos no meio!!!

2. Essa diferença da "economia" é algo que me irrita... Sei lá, cresci onde não se esbanja nem desperdiça. Por exemplo, durante toda a minha vida tinha de tudo à mesa: carne, diversos acompanhamentos quentes e frios. Nunca faltava nada, a gente podia repetir, mas tinha que comer de tudo!!! Claro que se alguém não gosta de brócolis pode pular o dito cujo, mas ninguém podia comer apenas a carne ou apenas a alface. Aqui ele acha que cada um tem o direito de comer o que quiser. Foi criado em uma casa na qual se tinha bife e batata frita, quem quiser podia comer só o bife, o outro podia comer só a batata. 

3. Existem tantas delícias na França, e uma delas é o croissant! Durante a semana não temos tempo de comprar e também não é muito saudável comer todos os dias, mas no final de semana costumamos fazer um café da manhã desse tipo! Eu adoro aquela massinha de croissant fresquinho... mas ele "estraga tudo" pois a sua forma de comê-lo é molhando no seu chocolate quente! Eu acho horrível, me dá até náuseas de ver aquele croissant todo molengo mergulhado na tijela (pois francês que é francês bebe o seu chocolate quente da manhã na tijela, não em uma xícara!!!), com todos os pedaços para todos os lados!!! O mesmo também acontece com o pão com geléia ou outras misturas.

4. Eu adoro pão e me acostumei com o pão nas refeições... Mas o meu pão eu corto com a faca e não sobra uma migalha sobre a toalha. Mas o lado dele da mesa fica parecendo que sofreu uma guerra! Para começar ele vai cortando o pão com a mão e os pedaços ficam espalhados pela mesa! Não sei como alguém consegue fazer tanta bagunça assim para comer!

5. Ele pode fazer tudo o que peço, mas para tudo ele precisa escutar a palavrinha mágica "s'il te plaît". Podem estar certos que se a gente não usa essa regrinha com um francês, ele vai responder de má vontade, e é o que geralmente acontece com os turistas que chegam aqui, não usam essa fórmula e geralmente recebem umas "patadas" dos interlocutores franceses. E não adianta eu tentar explicar que em português do Brasil temos outras fórmulas de educação para pedir alguma coisa, como o condicional, por exemplo, e que é bem educado (tudo vai depender do tom), ele insiste em pensar que falta um pouco de educação ao brasileiro porque não falamos "por favor" de forma suficiente! 

6. Mas ok, em 90% do tempo eu tento usar essa fórmula do por favor em casa (e com colegas, na rua, etc). Adoro alguns pratos e bolos que ele faz, então de vez em quanto peço: "você poderia me fazer aquele prato X que eu tanto adoro, por favor?". Ele vai fazer com toda a boa vontade do mundo... Mas ele vai sempre inventar alguma coisa nova, um ingrediente diferente que vai mudar completamente o gosto do prato, que já não será mais o que eu tinha pedido, mas algo completamente novo!!! E eu fico ali na maior decepção, pois passei o dia inteiro (às vezes a semana toda) sonhando com aquilo! Então ele insiste que o que vale é a intenção, mas para mim, eu cresci acreditando que de boas intenções o enferno está cheio!

7. Dinheiro: ele nunca tem dinheiro na carteira, geralmente apenas algumas moedas. Então, quando vamos a um restaurante ou espetáculo (aqui é de "bom tom" deixar gorjeta para a pessoa que mostra o nosso lugar nos espetáculos), por exemplo, sou sempre eu quem tem que deixar a gorjeta... Tudo bem, tudo sai da mesma conta, mas não entendo como a pessoa pode ser tão desligada assim! Ou então, a gente viaja e eu insisto para que ele retire dinheiro antes da viagem (meu cartão tem um número limitado de saques por mês, se eu utilizo mais tenho que pagar taxas extras, e o dele é ilimitado). Telefone, envio SMS, sinais de fumaça... Ele pode chegar ao cúmulo de me fazer entender que sacou dinheiro. Depois, quando percebo que não, ele insiste que não preciso me estressar, que existem caixas automáticos em todo o canto... Ele até pode ter razão, mas uma vez estávamos em uma cidade da França, tentamos retirar dinheiro no domingo e o dinheiro não saiu!!! Ficamos sem dinheiro naquele dia e ainda tivemos todo um transtorno na volta para provar que a máquina não tinha nos dado o dinheiro! Outra vez foi em uma cidade da Bélgica: nossos cartões são Visa e tivemos que correr a cidade atrás de um caixa eletrônico Visa, que não era fácil de achar. 

P.S.: quando ele tem uma nota com ele, de 20€, que é o máximo que ele retira de cada vez, ele dobra a nota em tantos pedaços para colocar em sua niqueleira!!! Ele nunca ouviu falar que uma nota de dinheiro pode ser colocada sem dobrar na carteira (e ele tem uma bonita carteira que usa para guardar documentos e cartões, nada mais). Tenho verdadeiro horror de notas amassadas, sem contar que atrapalha a vida do caixa do supermercado que precisa "passar" a nota com as mãos para guardá-la, e na hora de contar, então? As máquinas não contam corretamente dinheiro amassado, e o bancário precisa "alisar" diversas vezes a nota para que ela passe na máquina, e a fila atrás vai crescendo. Ou seja, um depósito em banco que poderia levar apenas alguns segundos pode levar muitos minutos se as notas estão amassadas.

8. Ainda com o dinheiro, eu sei que sou ultra-rígida e cheia de manias. Sei quanto temos de contas para pagar e em média quanto gastamos em despesas de alimentação e lazer, e concordo que o resto a gente coloque na conta de economias. Mas ele não calcula nada e coloca tudo na conta de economias e vai tirando aos poucos! Para mim, conta economia é para não mexer, a não ser em emergência ou quando estamos economizando para uma aquisição especifica, mas não adianta colocar todo o pagamento lá e cada dia transferir 100€! Sem contar que acho que o extrato fica todo "poluído" com tantas "linhas" para lá e para cá. Fica bem mais complicado e demorado para verificar um extrato em caso de erros com tantas linhas de entradas e saídas. 
Outro exemplo, quando voltamos da Russia tinha sobrado uns 200€, ele me perguntou o que fazer e eu disse que a gente guardasse e usasse nas despesas do mês: isso nos evitaria de fazer pagamentos em cartão ou retirar dinheiro, sem contar que no final de semana seguinte partiriamos a Lille. Ele concordou com os meus argumentos. Dois dias depois eu olho a conta e ele tinha depositado os tais 200€!!! Não acreditei! Até hoje ele não sabe me explicar por qual razão fez isso...

9. Memória: Quando fomos passar uma semana de férias em Biarritz, eu o sugeri de levar as duas novas bermudas que tinhamos comprado naquela semana, a verde e a xadrez. Ele achou uma boa idéia, mas eu reparei que na metade da semana ele ainda estava usando todos os dias a mesma... Perguntei: porque não veste a bermuda xadrez? Quem diz que ele lembra de ter comprado a tal bermuda? Jurou de pé junto que só tinha a bermuda verde! Perguntei então porque ele concordou quando falei que ele poderia levar as DUAS, ele me disse que achou que eu tinha me confundido! Não é mais normal dizer: querida, vc fala de que outra bermuda, a única que compramos foi a verde? Mas não, ele acha que estou enlouquecendo mas não me confronta com a realidade. Obvio que chegamos em casa e a bermuda estava lá.

10. Ele adora falar, fala tanto que muitas vezes me deixa atordoada. Se estou tranquila lendo um livro ou no computador, ele faz o mesmo, mas fica fazendo comentários em voz alta (puxa! não acredito! não é possível!  Isso quando ele não vem me interromper para me ler alguma informação em voz alta). Outro exemplo de  conversa:
Eu tranquila no sofá com meu delicioso livro:
- (ele) Lembra do Michel?
- (eu) Sim.
- Aquele que conhecemos na casa da Marie.
- Sei.
- O Michel com quem fomos jantar no restaurante X.
- (eu sem paciência e sem mais poder me concentrar na minha história:) Já disse que sei quem é!!! Desembucha logo, o que tem o Michel???
Silêncio. Ele não conta mais nada. Ficou brabinho e o único jeito é insistir com muito carinho, beijinhos, etc... Duas horas mais tarde:
- Ok, eu te conto, vi o Michel hoje.
- Ah bom? E o que ele conta de novo? Como ele está?
- Não sei.
- Como assim?
- Eu vi de longe, acho que era ele. Ele estava de um lado da plataforma do metrô, e eu de outro, na direção oposta.

O que essa informação vai me acrescentar ? Não era mais fácil resumir: "hoje vi de longe o Michel, ele estava de um lado da plataforma do metrô, e eu de outro, na direção oposta."
(tá certo, implicamos um com o outro mas não conseguimos ficar um segundo separados!)

E você, existem comportamentos do companheiro (a) que não lhe agradam? 
Como vocês lidam com isso no dia a dia?



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