A "Festa della Rificolona" em Florença
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A "Festa della Rificolona" em Florença



      Uma das coisas legais de uma viagem é quando você consegue estar no lugar certo e na hora certa e acompanhar uma festividade típica de uma região. Isso aconteceu comigo, quase por acaso...
Um dia, saindo de um restaurante ao lado da Ponte Vecchio, eu me vi cercado de luzes e lanternas coloridas, numa procissão belíssima pelas ruas de Florença...


Sem titubear eu fui descendo a rua, acompanhando aquelas lanternas coloridas
Era dia  6 de setembro, véspera do nascimento de Maria, neste dia, em Florença, acontece a Festa della Rificolona.

A "PROCISSÃO DOS CONTADINI" NA VIA DEI SERVI

     A Festa da Rificolona tem sua origem por volta do século XVII. Ela acontece em setembro, no final do verão italiano. Imagine os campos da Toscana naquela época. A colheita estava no seu auge, em poucos dias, terminaria o ciclo e os camponeses toscanos (chamados também de “contadini”) iriam descansar. 


   

 No final do verão os camponeses trabalhavam arduamente para colher os frutos, legumes e hortaliças e levar seus produtos até a cidade de Florença. Mas antes de começar a festança, os camponeses fariam um longo caminho pelas estradas, enfrentando o cansaço, a viagem, a estrada.

Uma família de Contadini no século XVII


    Na outra ponta estava Florença, o grande centro. Nesta época, a cidade se preparava para a tradicional festa, que marcava a comemoração da natividade de Virgem Maria e era realizada na igreja mais bonita desta cidade dedicada à ela, a Basilica della Santissima Annunziata.



  Então no dia 6 de setembro, véspera do dia do nascimento de Maria, a cidade se enchia de gente de todos os cantos da Toscana, era uma festa imensa, acompanhada de uma grande feira ao ar livre que acontecia na Via dei Servi, nas imediações da Basílica della Santísima Annunziata. E a festa se estendia até o dia seguinte...



     Para os camponeses da Toscana, esta festividade toma ares de peregrinação. Eles faziam uma imensa procissão que percorria as ruas de Florença, passando pelas margens do Rio Arno, pela Ponte Vecchio, segundo até a Piazza della Signoria, ao Duomo, até chegar na região da Via dei Servi e da Basílica della Santíssima Annnunziata.



   Muitas vezes esses camponeses chegavam de noite, em carroças, trazendo produtos da região como abóboras, queijos, uvas. O caminho pelas estradas era difícil e perigoso. Para chegar até Florença, os camponeses utilizavam  lanternas de papel para iluminar seu caminho. Com a chegada dos camponeses para celebrar o nascimento de Maria na Basílica em Florença, as ruas da cidade, na noite anterior, ficavam completamente lotadas, com os camponeses carregando as lanternas durante a procissão. Com o tempo, as lanternas começaram a ser incorporadas as festividades, e foram ganhando formas cada vez mais criativas e arrojadas.


     Se para os camponeses, a Festa do nascimento de Maria marcava o final da colheita, o momento em que eles iriam poder finalmente descansar. Para os que viviam na agitada Florença, a festividade era um momento de diversão.


A BUNDA DAS CAMPONESAS 

     Bem, mas nem tudo são flores. Acontece que o fiorentino adorava também essa festa, e a chegada dos contadini na cidade era um acontecimento marcante. Os fiorentinos se deliciavam com as comidas saborosas do campo, as uvas, os queijos, os vinhos, etc. mas também aproveitavam para ridicularizar o jeito matuto dos camponeses. Eles zombavam do jeito grosseiro e das maneiras rudes dos camponeses.


    Chegamos então a origem do nome da festa. Como eu disse, os camponeses vinham para comemorar a natividade de Maria, para celebrar o final da época de colheita no fim do verão italiano, e sobretudo, vinham expor seus produtos na feira (fiera) que acontecia na região da Via dei Servi e da Basilica.

    Os fiorentinos, de uma forma bastante grosseira e arrogante, zombavam desses matutos. As mulheres eram alvo especial das chacotas. Caracterizadas pela sua bunda grande, as mulheres camponeses recebiam o apelido de “fieruculone”...ou seja, elas eram chamadas grosseiramente como as “rabudas” da feira.


 As mulheres do campo vinham todas arrumadas, com vestidos coloridos, que deixavam seus culotes em evidência, logo isso acabou virando motivo de chacota e grosseria para com esses camponeses. 


A festa da natividade de Maria em 7 de setembro era, pois, uma festa bem grotesca, o povo ia lá pra fazer esse tipo de coisa, xingavam, zoavam, faziam canções e mostravam a bunda para as moçoilas.



Giovanni Fattori, Contadina nel bosco. Oil on canvas



Eis que o nome dessa  baixaria acabou sendo incorporado à festividade, e o nome Rificolona acabou sendo incorporado à tradição fiorentina.




AS CRIANÇAS E AS LANTERNAS

  Mas isso tudo é passado, hoje em dia, eu achei essa festa muito linda. É interessante que as ruas ficam todas iluminadas com lanternas, mas quem leva elas são sobretudo as crianças..



    Então, no dia 6 para 7  de setembro, começa a procissão perto da Ponte Vecchio, as crianças lançam barcos de papel machê com velas, iluminando o Rio Arno em homenagem à virgem Maria. Depois a procissão segue pelas ruas, até chegar a Basilica della Santíssima Annunziata.



Basilica della Santissima Annunziata em Florença


    Era um sábado à noite, eu estava saindo de um restaurante perto da Ponte Vecchio, de repente a rua se iluminou toda com lanternas coloridas, eu nem consigo descrever a emoção que foi ver a Festa della Rificolona bem de pertinho, uma antiga tradição camponesa de Florença que persiste até hoje.






























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